Mineração provocou 14 mil acidentes de trabalho em uma década em Minas
Enquanto os sites das mineradoras destacam campanhas de sustentabilidade, responsabilidade ambiental e segurança no trabalho, o número de acidentes no setor dispara. Estudo da Fundacentro, órgão do Ministério do Trabalho, aponta que, entre 2002 e 2012, só em Minas, 14 mil empregados de mineradoras sofreram acidentes no ambiente laboral. Apesar disso, deputados mineiros aprovaram nesta semana projeto que facilita a obtenção de licenças ambientais.
O pesquisador Celso Amorim afirma que a mineração “é uma das atividades de maiores riscos à saúde do trabalhador” e dá exemplos:
— Mecânicos e profissionais responsáveis por manutenção de máquinas em geral possuem 120 registros de acidentes, seguido por mineiros (108) e operadores de caminhão de minas e pedreiras (51).
Em audiência pública na Assembleia Legislativa, na quinta-feira (26), pesquisadores e sindicalistas mostraram a situação das vítimas da exploração mineral. Para a diretora de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Saúde, Marta Freitas, a sobrecarga de trabalho insalubre prejudica as famílias.
— A pesquisa mostra o tanto que o trabalhador da mineração é desprezado. O aumento da produção não é proporcional ao aumento do número de trabalhadores. Isso pode explicar um pouco os dados apresentados
A maior frequência de mortes ocorre em homens entre 30 e 39 anos, conforme a pesquisa.
O desastre ambiental, que ainda não teve as causas reveladas, matou pelo menos nove pessoas e deixou dez desaparecidos. De Mariana até a foz do rio Doce, a lama percorreu 820 km e matou pelo menos 11 toneladas de peixes. Marta Freitas alerta para os riscos de contaminação a longo prazo da população.
— É preciso um estudo para saber se essas pessoas estão sujeitas a doenças de pele; a doenças mentais, devido ao estresse pós-traumático; à intoxicação; e até mesmo ao câncer. Não se sabe como a saúde dessas pessoas será afetada diretamente.
Samarco e as controladoras, Vale e BHP Billiton, não podem fugir da responsabildade, afirma Rafael Ávila, diretor do sindicato Metabase Inconfidentes. Para ele, o desastre “abre uma ferida que está sangrando há muito tempo”.
— Foi um crime da Samarco e de suas proprietárias. É importante culpabilizar empresas pelo acidente e também todas as esferas de governo do Brasil.
A Samarco teve lucro líquido de R$ 2,8 bilhões em 2014. Apesar disso, a Justiça só encontrou na última semana R$ 8 milhões nas contas da mineradora. O juiz Frederico Esteves Duarte Gonçalves, que mandou bloquear R$ 300 milhões da mineradora, afirmou que a Samarco “sumiu com o dinheiro” e agiu como “botequim de esquina”. Enquanto isso, o emprego de 3.000 funcionários só está garantido até janeiro, segundo declarações do presidente Ricardo Vescovi.
Por R7