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27 November 2024

Ministro mais próximo a Temer, Padilha deixa o governo Dilma

Ministro da Secretaria de Aviação Civil aguardava audiência para entregar demissão

BRASÍLIA – O ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS) está de saída do governo. Ele tentou entregar ontem o seu pedido de demissão à presidente Dilma Rousseff, mas não conseguiu uma audiência com a presidente. Padilha viajou para Porto Alegre (RS), antes, porém, deixou a exoneração protocolada no Planalto.

De acordo com o colunista Jorge Bastos Moreno, o comando do PMDB entendeu como uma grave sinalização a recusa do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, de receber o colega Eliseu Padilha, que lhe entregaria a carta de demissão. Para não ter que constranger a presidente Dilma, Padilha optou por essa via. Com a recusa de Wagner em recebê-lo, Padilha foi obrigado a protocolar sua carta de demissão, atitude rara na história da República.

Segundo pessoas próximas ao ministro, ele vinha dizendo estar se sentindo bastante “constrangido” porque não podia nem criticar, nem defender o processo de abertura de impeachment. Na Esplanada, Padilha é o ministro mais próximo do vice-presidente Michel Temer. A saída se deu por “convicção política” e “lealdade” ao vice. Padilha já vinha se sentindo incomodado no cargo, mas a decisão começou a ser pensada na noite de quarta-feira, em conversa com peemedebistas no Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer. No dia seguinte, quando Dilma e Temer conversaram e o ministro Jaques Wagner fez um relato que o vice não considerou correto da reunião, Padilha sacramentou o desembarque.

— Foi um dia de muitos desmentidos. O Planalto decidiu a posição de Temer. O ambiente passou a ser de muitos imprevistos — disse ao GLOBO uma pessoa próxima ao ministro.

Com relação à Aviação Civil, a gota d’água foi o fato da presidente ter desautorizado uma indicação dele para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O ministro encaminhou o nome de Juliano Noman para uma diretoria da Anac com o aval de Dilma. No entanto, quando a Secretariara de Aviação Civil enviou o nome para o Senado a presidente mandou suspender a indicação.

Um peemedebista da cúpula afirmou que outro ministro ligado a Temer, Henrique Eduardo Alves (Turismo), está numa saia-justa. Já há pressão para que ele também desembarque do governo. Na última reforma ministerial, em setembro, Henrique Alves trabalhou muito para emplacar seu nome na Esplanada, o que dificulta sua decisão. Nesta última reforma, outro ministro do PMDB, Helder Barbalho, que era da Pesca e foi remanejado para Portos, passou a ser da “cota” de Temer. Barbalho estava de saída do governo, mas se aliou a Padilha e Alves, formando uma tríade do entorno de Temer. Apesar da pressão, um aliado de Alves disse que ele não deve deixar o cargo.

Quanto a Barbalho, ele já fechou posição em não deixar o governo neste momento e espera ser acompanhado por Alves, “em prol da governabilidade”. Barbalho almoçou com Padilha na quinta-feira, quando o ex-ministro da Aviação Civil apresentou-lhe os argumentos pelo qual estava deixando  o governo. Na conversa, Padilha disse que a suspensão de sua indicação à Anac foi a gota d’água que motivou sua decisão.

Na visão de aliados de Padilha no PMDB, o vazamento do pedido de exoneração via protocolo pelo Palácio do Planalto corroborou a impressão de que a presidente Dilma Rousseff e seus principais aliados queriam o ex-ministro da Aviação fora do governo.

O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), disse que, apesar de o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, ter anunciado que vai deixar o governo, não há, no momento, nenhum movimento dos outros ministros do partido nessa direção. Além da Aviação Civil, o PMDB tem mais cinco pastas: Saúde, Minas e Energia, Ciência e Tecnologia, Portos e Turismo.

Além de Padilha, outro ministro próximo ao vice-presidente Michel Temer é Henrique Eduardo Alves, de Turismo. Celso Pansera, de Ciência e Tecnologia, que foi qualificado pelo doleiro Alberto Youssef de “pau mandado” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deve permanecer onde está, segundo Picciani.

– O Pansera não é ligado a Cunha. Ele é do PMDB do Rio e a relação entre eles é partidária – declarou.

Por Simone Iglesias, Chico de Gois e Danilo Fariello / O Globo