Globo tenta entender fuga de público
Em Família repete fórmulas exauridas que levam ao fiasco de audiência no horário
Falta pouco mais de uma semana para terminar Em Família, que já detém o título de pior ibope da Globo de todos os tempos em sua faixa horária. Se for mesmo sua aposentadoria, trata-se de uma despedida triste e melancólica para Manoel Carlos, que afirmou que o folhetim seria seu último trabalho.
Maneco não precisa ficar triste. O problema com baixa audiência não afeta apenas sua trama, mas toda a produção dramatúrgica da casa, que tenta entender o que está acontecendo.
Nos últimos seis meses, a emissora dos Marinho fez várias pesquisas e reuniões com telespectadores para tentar detectar o que vem fazendo o público fugir de suas histórias. A começar por Malhação, que está ameaçada de ser tirada do ar até 2016. Nem precisaria fazer pesquisas, pois a resposta é simples: falta de inspiração de novelistas, elenco que se preocupa mais em postar selfies do que em atuar e o esgotamento de uma fórmula (surrada) de dramaturgia.
Vejam: por que todas as novelas em horário nobre precisam começar em países exóticos? Quem começou essa modinha foi Gloria Perez. Modinha que, aliás, foi copiada não só por outros autores, mas até outras emissoras, como a Record. Digam, leitores de A TARDE: que adianta começar uma trama nas ruínas de Macchu Pichu, num campo de refugiados no Sudão ou em uma tenda no deserto do Saara, se depois todas as histórias (e sotaques) vão acabar mesmo é no Leblon, não é meishmo? Isso vale principalmente para Malhação, que há décadas insiste que todos os seus personagens precisam ter um irritante e forçado sotaque carioca.
A Globo provavelmente ainda acha que, em pleno século 21, o beijo gay entre dois personagens ainda é algo que pode criar repercussão; ou que um personagem pobre namorando uma ricaça ainda seja alguma novidade. Menos, minha gente. O brasileiro não é tão tolo. Depois de décadas assistindo a boas histórias, como Pecado Capital (não o remake), Selva de Pedra, O Bem Amado ou Senhora do Destino, e tantas outras histórias sensacionais, fica realmente difícil engolir uma protagonista tão ciclotímica e chata (e inexperiente) como Bruna Marquezine, a rainha das selfies com bico de pato. Ou a uma trama tão esquisita e chatonilda como Geração Brasil. Ou a uma produção tão luxuosa, mas confusa e entediante, como Meu Pedacinho de Chão.
Não basta mais colocar como mocinha apenas a namoradinha do melhor jogador de futebol do Brasil na novelas das 21h. Não adianta nada enfiar veteranos na novelinha infanto-juvenil às 17h30, se o resto do elenco é fraco de dar pena. Não adianta ficar incluindo nerds trabalhando numa start-up de garagem às 19h, para tentar ser moderninha e dizer que está falando a mesma linguagem da geração "internet".
O público noveleiro quer muito mais do que isso. Quer conteúdo de uma novela que faça correr para a frente da TV todos os dias no mesmo horário. Que o estimule a conversar com os amigos de trabalho no dia seguinte em como foi bonita esta ou aquela cena do capítulo de ontem; de como o vilão das 19h é cafajeste e como deveria ser seu trágico fim no último capítulo. De chorar emocionado numa cena de rencontro ou de amor. É isso que não existe mais.
Pode-se dizer que a Globo hoje está sendo vítima de seu próprio (e antigo) "padrão de qualidade". O telespectador quer ser surpreendido com reviravoltas como ocorreu em Celebridade, em 2003; quer personagens cativantes como em Senhora do Destino (2005); quer amar e detestar vilões como Odete Roitman, em Vale Tudo, em 1989. Novela foi feita para emocionar, e não fazer o público bocejar. Hoje existe TV por assinatura, dona Globo.
Boechat
Ricardo Boechat está com um pé na Record. Irritado com a Band, que reduziu seu salário no início deste ano (e depois contratou o novato Luiz Bacci por R$ 400 mil mensais), e pelo fato de a emissora estar fazendo-o trabalhar até 12 horas por dia durante a Copa do Mundo, o jornalista e âncora do "Jornal da Band" deve aceitar nos próximos dias o convite para integrar o Departamento de Jornalismo da Record. Aliás, Datena também pode romper contrato e ir para o SBT. Seu sonho seria sair de forma amistosa, sem pagamento de multa, e deixar o filho Joel em seu lugar no "Brasil Urgente". Tá bom que a Band vai aceitar…
Escrito por: Ricardo Feltrin