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28 November 2024

Festa do Bonfim é celebrada por adeptos de outras religiões

A cerimônia faz parte da tradição católica. A imagem do Cristo Crucificado sai em cortejo da Catedral de Nossa Senhora da Conceição, no Comércio, até a Basílica no alto da Colina Sagrada, na Cidade Baixa. Mas, são mulheres – e alguns homens – vestidas com as indumentárias e carregando outros símbolos das religiões de matriz africanas, como a quartinha de barro, que se tornaram a representação da Lavagem do Bonfim.

O cortejo, que abre oficialmente o calendário de festas populares da Bahia, reúne fiéis das duas religiões. Tem católico que para pagar a promessa se veste de ‘baiana’ e participa da lavagem das escadarias, e candomblecista que sai cedo de casa para assistir à missa e manter o compromisso com Oxalá.

De acordo com o historiador Ordep Serra, o ato de lavar a igreja faz parte dos ritos católicos que pregam a humildade. “Os nobres faziam esses atos como sacrifício, penitência. A princesa Isabel inclusive fez uma promessa de lavar uma igreja aqui no Brasil. Era pensando como um gesto de humildade”, explica.

Com a forte influência do candomblé no país, o ato de lavar as igrejas teve uma nova interpretação.  “Esse rito [a lavagem das escadarias da Igreja] foi reinterpretado aqui na Bahia, com base em uma coincidência sincrética. Senhor do Bonfim é o filho de Deus, e foi associado com  Oxalá, o filho do Deus supremo para os iorubás. Na  cidade de Ifé, na Nigéria,  ele é venerado em uma colina, considerado o umbigo do mundo. E a Igreja do senhor do Bonfim fica em uma colina também”, informa.

Respeito às crenças

O cortejo da Lavagem do Bonfim é  marcado pela mistura do sagrado com o profano e o convívio de católicos e candomblecistas. E até mesmo adeptos de outras religiões.

Responsável pela Basílica do Senhor do Bomfim, Padre Edson define a festa como um acontecimento na cidade que possibilita encontros. “É um momento de integração, um acontecimento que deixa  lição de diálogo religioso”, diz.

Mãe Jaciara Ribeiro, ialorixá do terreiro Abassá de Ogum, cobra respeito às diversas manifestações religiosas. “A subida à colina é para agradecer a Senhor do Bonfim. Nosso culto à Oxalá é feito no terreiro. É importante separar as coisas”.