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28 November 2024

Fórum onde Lula iria depor teve briga e pancadaria em São Paulo

Grupos ligados ao PT e manifestantes contrários ao partido entraram em conflito. Houve trocas de pedradas e agressões

Manifestante ferido em tumulto no protesto de grupos pró e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em frente ao Fórum da Barra Funda , na região oeste da capital, onde Lula e sua mulher, Marisa Letícia, deporiam na manhã desta quarta-feira (17). O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) adiou o depoimento do casal sobre suposta propriedade de um apartamento no Guarujá, no litoral paulista(VEJA.com/Folhapress)

A frente do Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo, se tornou nesta quarta-feira palco de confronto entre apoiadores do ex-presidente Lula e grupos contrários a ele e ao governo petista. Lula e sua mulher, Marisa Letícia, haviam sido intimados para depor nesta manhã na investigação sobre seu tríplex no Guarujá, litoral paulista, mas uma liminar concedida na noite de ontem paralisou o inquérito, como revelou a coluna Radar. Em poucas horas, a frente do fórum se tornou uma verdadeira praça de guerra: houve espancamentos entre manifestantes e a PM interveio com bombas de gás, cacetetes e gás de pimenta. A situação só se acalmou por volta das 14 horas.

A Polícia Militar chegou a separar os dois grupos com grades, mas a medida não foi suficiente para evitar o conflito, que teve início quando um grupo de trinta pessoas ligadas ao PT foram para cima dos movimentos anti-PT para furar um boneco Pixuleco que eles tentavam inflar. Em maior número, os integrantes de movimentos ligados ao PT – como CUT, Juventude do PT e MST – arremessaram ovos no grupo opositor, que revidou com pedras. Em pouco tempo, os dois grupos se agrediam a pedradas. Também houve troca de xingamentos, empurra-empurra e agressões físicas. A Avenida Doutor Abraão Ribeiro está bloqueada. O Pixuleco acabou rasgado.

Marcello Reis, líder do Revoltados On-line, ficou com o olho roxo e teve escoriações pelo corpo ao tentar proteger o boneco pixuleco durante protesto em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo
Marcello Reis, líder do Revoltados On-line, ficou com o olho roxo e teve escoriações pelo corpo ao tentar proteger o boneco pixuleco durante protesto em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo(Veja.com/Eduardo Gonçalves/VEJA)

​”Eu tentei proteger o Pixuleco. Tirei um cara que pulou as grades. Aí vieram quatro para cima de mim. Me jogaram no chão . Levei muita bonitada na cara”, afirmou Marcello Reis, líder do Revoltados On-line. Ele estava com um olho roxo e apresentava escoriações pelo corpo. A polícia lançou pelo menos cinco bombas de gás lacrimogêneo para separar os grupos.

Segundo o capitão da PM Marco Pimentel, duas pessoas foram conduzidas ao 23º DP (Perdizes), uma por ter jogado spray de pimenta e a outra por agressão. “Não dá para individualizar. As agressões e provocações vieram dos dois lados”, disse.

Os manifestantes ligados ao PT chegaram ao Fórum da Barra Funda em ônibus fretados e trouxeram carros de som. Os sindicatos organizaram verdadeiras excursões ao local, com grande aparato técnico e um volume considerável de manifestantes. Há pessoas de outros Estados, como Bahia e Mato Grosso do Sul. Já os manifestantes contrários ao governo presentes ao local eram, na grande maioria, de grupos intervencionistas.

O vereador petista de Nova Andradina (MS), Vicente Lichoti, de 34 anos, chegou a São Paulo por volta das 8 horas ao lado de outras 47 pessoas. Ele veio numa carreata, que partiu na noite de quarta-feira rumo à capital paulista, organizada por sindicatos de profissionais da educação do Estado. “Estou aqui para defender o legado do ex-presidente Lula. Ele é gente como a gente, e pode ser investigado. Mas o que estão fazendo é uma perseguição contra ele”, disse. Junto com os outros militantes, eles cantavam o tradicional hino de apoio ao ex-presidente “ole, ole, ole, Lula, Lula”. Segundo deputados do PT que compareceram ao fórum após encontro com Lula, o ex-presidente estava na sede do Instituto Lula acompanhado de outros parlamentares que vieram a São Paulo prestar solidariedade a ele.

O depoimento desta quarta se daria no âmbito das investigações do MP paulista que apuram suspeitas de desvio de recursos da Bancoop para o caixa do PT. Também estavam marcados para hoje à tarde os depoimentos do engenheiro da OAS Igor Pontes e do ex-presidente da empreiteira Léo Pinheiro: a construtora assumiu as obras no condomínio onde fica o tríplex após a falência da Cooperativa Habitacional dos Bancários – e fez modificações no apartamento para agradar os Lula da Silva. O zelador do condomínio Solaris afirmou a VEJA que Pontos e Pinheiro acompanharam Marisa Letícia em uma visita ao tríplex. “O seu Igor, da OAS, um dia pediu para a gente falar que o apartamento não pertencia ao Lula. Eles sempre disseram para a gente que o apartamento não era do Lula”.

Os promotores investigam a quem de fato pertence o tríplex de 297 metros quadrados, com vista para o mar. entrevista a VEJAEm , o promotor Cásio Conserino disse que há “fortes elementos, provas documentais e testemunhais” que mostram que o ex-presidente e a sua mulher foram contemplados com o apartamento, reformado “cuidadosamente” pela OAS. Com base nos indícios, o promotor pretende denunciar o casal por ocultação de patrimônio, uma das modalidades do crime de lavagem de dinheiro. A OAS teria se portado como “laranja” de Lula, passando-se por proprietária do apartamento. “Lula e Marisa são, por enquanto, investigados. Eles foram beneficiados pela relação com Léo Pinheiro, o presidente da empreiteira. Enquanto centenas de mutuários da Bancoop ficaram sem os imóveis, Lula e dona Marisa foram contemplados pela OAS com um apartamento luxuoso. Tudo numa operação cuidadosamente arquitetada para ocultar essa triangulação”, afirmou Conserino à revista.

Pouco depois da reportagem de VEJA, o Instituto Lula divulgou nota na qual nega que o ex-presidente fosse dono do apartamento, mas admite que ele e a ex-primeira dama fizeram visitas ao local. O texto diz que a família Lula avaliava comprar a unidade, mas desistiu do negócio, “mesmo tendo sido realizadas reformas e modificações no imóvel (que naturalmente seriam incorporadas ao valor final da compra)” por causa de “notícias infundadas, boatos e ilações que romperam a privacidade necessária ao uso familiar do apartamento”. Os promotores fizeram três questionamentos à nota do instituto. “Por que Lula e a mulher, Marisa Letícia, demoraram seis anos para pedir a restituição dos valores pagos? Como a família presidencial vai solicitar a restituição da Bancoop e não da OAS, e o faz coincidentemente quando os fatos vieram à tona? Por que a OAS arcou com o pagamento de uma reforma de quase 1 milhão de reais, sem um comprador pré-reservado?”.