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28 November 2024

Porteira causa revolta em moradores em Praia do Forte

A instalação de uma porteira na entrada da secular servidão de passagem ao único cemitério de Praia do Forte, município de Mata de São João, tem causado discórdia entre comunidades próximas ao vilarejo turístico e os responsáveis pela construção de empreendimento residencial no local.

De acordo com moradores locais, a cancela teria sido instalada por responsáveis pelo empreendimento Enseada do Castelo, em construção às margens da estrada, que, por séculos, chegou a funcionar como a única rota entre a capital baiana e Praia do Forte.

Uma das pessoas apontadas como responsável pela obra, que não quis ser citada na reportagem, diz que a porteira “sempre existiu”, mas que o controle de veículos para não moradores teria partido do Conselho de Segurança local, “para que a estrada não fosse usada como possível rota de fuga”.

No entanto, famílias que residem na comunidade de Tapera, localizada dentro da Reserva Sapiranga, a cerca de 1 km da vila de Praia do Forte, contam outra história. Na versão dos moradores, em muitas ocasiões, a porteira chega a ser trancada com corrente e cadeado.

Além do cemitério, a estrada de chão batido é um dos caminhos para o Castelo Garcia D’Ávila, via para diversos distritos do município de Mata de São, passagem para manguezais onde trabalhadores catam crustáceos e via para as comunidades pesqueiras da Barrinha e do Porto de Baixo.

Brado

O pescador aposentado Manoel da Hora dos Santos, de 84 anos, reclama que, durante o tempo de vida em que reside na comunidade da Tapera, nunca passou, anteriormente, por situações que cerceassem o direito de ir e vir dos moradores.

“Nasci e me criei aqui. Minha avó morreu aqui, com 120 anos. Essa coisa de controlar passagem nunca existiu”, bradou o velho. “Somos do tempo em que o acesso de Salvador a Praia do Forte era feito de balsa, pelo rio Pojuca e, depois, pela estrada que querem fechar”, acrescentou seu Manoel.

Na comunidade onde mora residem cerca de 100 famílias, mas poucas são as que se habilitam a falar sobre o assunto, com medo de sofrer represálias. “Ninguém vai botar regra para os moradores nativos, os que nasceram aqui”, disse, disposto a comprar briga.

O também pescador Antônio de Souza, 60 anos, lamenta ter a impressão que as famílias estejam vivendo acuadas. Segundo ele, a empresa apresentou proposta para implantar um acesso alternativo, mas que aumentaria a distância para o cemitério em 3 km.

“É tanta construção, tanto condomínio, que, hoje, a gente não tem acesso livre nem à praia nem ao mangue para tirar nosso sustento”, reclamou. “Os condomínios podem construir, mas a gente, nativo, não pode. A gente vive acuado”, completou.

Argumento

O preposto da Enseada do Castelo argumentou que as comunidades locais sempre tiveram livre acesso à estrada de terra. “A porteira sempre existiu. Foi o Conselho de Segurança que pediu o controle de acesso de veículos. Quem quiser fazer caminhada é livre”, limitou-se a responder.

A reportagem de A TARDE tentou falar com representantes da prefeitura de Mata de São João, mas não obteve sucesso. A TARDE também tentou fazer contato com o prefeito Marcelo Oliveira, que não atendeu às chamadas telefônicas.

 

 

 

Correio