SÍNDROME CONGÊNITA DA ZIKA: Pesquisadores explicam que vírus está associado a outras doenças Veja Video
Os casos de zika vírus podem estar associados a outras doenças além da microcefalia. É o que os pesquisadores têm chamado de Síndrome Congênita da Zika. A informação foi divulgada pelo diretor do Hospital Geral Roberto Santos, Antônio Raimundo de Almeida, e pelo especialista em medicina neonatal, Manoel Sarno. Ambos concederam entrevista coletiva nesta sexta-feira (26/2).
Eles também revelaram que um grupo está sendo formado para acompanhar casos semelhantes. Confirma mais detalhes na reportagem de Lícia Fontenele:
https://www.youtube.com/watch?v=Xg8R8NzGiSA
Além da microcefalia, o Zika parece ser capaz de causar também anomalias fora do sistema nervoso central em bebês gestados por mães infectadas pela vírus. A informação foi revelada por Almeida, em contato com a reportagem doAratu Online.
A descoberta surgiu após um estudo de caso divulgado na última quinta-feira (25/2) por pesquisadores brasileiros e americanos. O trabalho relata o caso de uma menina nascida morta em Salvador com hidranencefalia (condição em que os hemisférios cerebrais desaparecem e a cavidade é preenchida por um líquido cerebral), além de calcificações intracranianas e outras lesões.
O bebê apresentou ainda uma outra condição que até então não tinha sido relacionada com zika: a hidropsia, que se caracteriza por acúmulo de líquido e inchaço sob a pele. Autópsia revelou a presença do vírus zika no córtex cerebral, na medula e no líquido amniótico.
“Resolvemos relatar o caso em revista científica porque apresenta, sem dúvidas, uma evidência adicional de que o vírus zika pode, além da microcefalia e de doenças oftalmológicas, estar ligado a ocorrência de hidropsia e à morte do feto, infelizmente”, disse ao o diretor do Hospital Geral Roberto Santos. Atualmente, Almeida acompanha pelo menos uma centena de crianças nascidas com microcefalia desde outro do ano passado.
Ele assina o trabalho na revista PLOS Neglected Tropical Diseases junto com o médico fetal Manoel Sarno, que fez o acompanhamento da mãe na gravidez, e com pesquisadores americanos da Universidade Yale e do Texas.
Na obra, os autores relatam que a mãe, de 20 anos, tinha iniciado o cuidado pré-natal na 4ª semana de gestação, quando foi testada negativamente para HIV, hepatite, toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus, e a gravidez se desenvolvia sem problemas. No ultrassom da 14ª semana, por exemplo, a avaliação foi normal.
Porém, no exame da 18ª semana, foi observado que o feto estava com o peso bem abaixo do normal, e os ultrassons seguintes, na 26ª e na 30ª, constataram a microcefalia e o desaparecimento dos hemisférios cerebrais.
O feto acabou morrendo logo depois e um parto foi induzido na 32ª semana. A hidranencefalia é diferente da hidrocefalia, que se caracteriza por um crescimento maior da cabeça. Nesse caso também há um acúmulo de líquido, mas o tecido cerebral ainda existe.
ASSINTOMÁTICA
Dois pontos chamaram a atenção dos pesquisadores. Primeiro a ocorrência da hidropsia, sugerindo que o zika pode ter uma ação que não é exclusiva ao sistema nervoso central. Segundo, o fato de que a mãe contou não ter sentido nenhum sintoma de zika ou de qualquer outra infecção viral em nenhum momento da gravidez.
Ela disse que tampouco algum familiar foi infectado. Em geral, em outros casos de microcefalia que estão sendo associados ao zika, as mães relatam terem sentido sinais da infecção. “Infelizmente, parece ser apenas a ‘ponta do iceberg’. Ainda estamos estudando, analisando… mas o cenário pode se complicar ainda mais. Espero que não”, ressaltou o médico.