Como Eduardo Cunha se tornou o “rei da manobra” no Congresso?
A forma com que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), utiliza o regimento interno da Casa para favorecer suas posições políticas e a estratégia de defesa adotada no processo que tramita contra ele no Conselho de Ética da Câmara fizeram com que ele ganhasse apelidos que variam de “mago do regimento” a “rei da manobra”. Mas até onde essa fama é verdade ou mito?
Cunha chegou à Câmara dos Deputados em 2007 depois de fazer carreira como executivo da antiga Telerj e da Xerox. Ele também passou um breve período como deputado estadual no Rio de Janeiro (entre 2001 e 2003). A fama de “rei da manobra” ganhou força nos últimos dois anos, quando o político conseguiu ao mesmo tempo reverter ou acelerar votações de seu interesse e praticamente paralisar o processo por quebra de decoro parlamentar que tramita contra si no Conselho de Ética da Câmara.
A tentativa de reconstruir a trajetória que levou Cunha ao apelido esbarra no pequeno número de pessoas da sua equipe dispostas a falar abertamente sobre ele. Com o chefe alvo de processos no Conselho de Ética e no STF (Supremo Tribunal Federal), os assessores mais próximos preferiram não se manifestar sobre o assunto.
Cunha é economista formado no início da década de 80 pela Universidade Cândido Mendes. E é justamente a ausência de uma formação acadêmica em direito que chamou a atenção de Mozart Vianna, servidor aposentado da Câmara que atuou durante quase 24 anos como secretário-geral da Mesa Diretora. O cargo é uma espécie de “braço-direito” do presidente da Casa e é o encarregado por, entre outras coisas, auxiliar na condução das sessões no plenário. Vianna é tido por colegas e políticos como um dos maiores especialistas no regimento interno da Câmara.
“Para alguém que não tem formação em direito, ele surpreende. Naquela época (em que Cunha era líder do PMDB), as pessoas me falavam que ele levava coisas para estudar em casa durante a noite. Ele mostrava um grande domínio das normais regimentais. Discutia, debatia de igual para igual com qualquer um sobre as normas regimentais”, diz Vianna.
Vianna diz também que parte da habilidade de Cunha com as leis é resultado de sua atuação como vice-líder e líder do PMDB. “Além de relatar algumas matérias da área econômica, ele também estudava muito para dar a orientação à bancada sobre outros projetos de lei. Quando ele dava uma orientação, a gente via que ele tinha estudado o assunto profundamente”, explica.
O assessor parlamentar Adsmar Freire tem 43 anos de experiência na Câmara e trabalhou com Cunha na liderança do PMDB. Ele diz que uma das características mais marcantes do então líder do partido era uma pastinha que ele carregava debaixo do braço.
Ele vivia com aquela pastinha para cima e para baixo. Tinha tudo ali. Medida provisória, emenda, projetos de lei. Ele é muito inteligente e, quanto ao regimento, ele enxergava as coisas muito à frente dos outros. Nesse aspecto, ele está acima de muitos.
Por Bol