Conheça as histórias de mulheres que contrariam estatísticas
No Dia Internacional da Mulher, O BOL mostra o que Allyne, Ana Carolina, Helena, Esmeralda, Otilina e Robeyoncé têm incomum: elas são mulheres “fora da curva”, que contrariam estatísticas com histórias de vida emocionantes; conheça a seguir:
A história de vida de Esmeralda do Carmo Ortiz é cheia de obstáculos: com 8 anos, ela foi morar na rua, foi viciada em crack, roubou, traficou, teve mais de 50 passagens pela antiga Febem. Já na adolescência, com ajuda de socioeducadores, Esmeralda começou a se reconstruir: se internou, se desintoxicou, recebeu ajuda psicológica, participou de oficinas de arte, publicou um livro de poesia, dois livros autobiográficos e iniciou uma carreira na música.
Hoje, Esmeralda está lançando seu 1º disco como cantora profissional. Com sambas melódicos, a paulista de 36 anos está iniciando sua turnê com sambista pelos palcos do Sesc, em 2016. “A música foi uma das coisas que me salvou, ela veio para amenizar todas as mazelas da vida. Quando eu canto, eu consigo alcançar as mãos de Deus”, comemora a ex-menina de rua.
Logo que nasceu, Ana Carolina Dias Cáceres já teve de fazer a 1ª de suas seis cirurgias. Ela nasceu com microcefalia causada por cranioestenose. Ana sobreviveu a duas paradas cardíacas com previsões médicas de que não iria andar e viveria em estado vegetativo. Ela cresceu, foi à escola e se formou em jornalismo com uma biografia que conta a história de sua superação: “Selfie: Em Meu Autorretrato, A Microcefalia É Diferença e Motivação”.
Apesar do preconceito e do estranhamento pela falta de informação com a Microcefalia, a autoestima de Ana Carolina permanece firme. “Eu gosto de mim do jeito que eu sou. O ser humano não é aparência, isso o tempo leva”, avalia a jornalista, que tem 24 anos e mora em Campo Grande (MS).
Otilina Duailibe não é uma mãe comum. A piauiense de 60 anos tem cinco filhos: dois de sangue e três de coração. Os três adotivos são portadores de deficiências – Mateus tem hidrocefalia, Daniela é portadora da Síndrome de Dandy Walker e Samuel possui Síndrome de Down. A supermãe conheceu as crianças ao fazer trabalho voluntário em um orfanato no Piauí: “Não acredito em coincidências, acho que tinha esse encontro marcado”.
Otilina Duailibe é uma mãe bem rara. Apenas 8% dos pais pretendentes as adoções gostariam de adotar filhos com deficiências, e ela adotou três. “Eles são maravilhosos”, diz a mãe, orgulhosa das crias. A dona de casa conta qual os preceitos para as três adoções tão especiais: “Amor em abundância, desapego dos paradigmas considerados normais e disposição para se doar”.
A carioca Allyne Andrade e Silva, de 30 anos, faz parte de um índice desigual em nosso país: o percentual de negros no universo acadêmico. Os últimos dados do Pnad dão conta que apenas 0,98% da população brasileira chega à pós-graduação; deste total, apenas, 28,9% são negros. Contrariando estatísticas, Allyne se formou em Direito pela UERJ, concluiu mestrado pela USP e está iniciando, em 2016, o doutorado na mesma instituição.
Allyne crê que a igualdade racial é uma luta feita coletivamente e que o ingresso de estudantes negros na universidade é um passo importante nessa conquista. “A minha presença nesse espaço traz discussões e escancara privilégios e desigualdades que talvez não houvesse se não existisse uma mulher negra presente ali. A diversidade racial e social muda, dinamiza e enriquece a produção do saber universitário”, avalia.
A indígena Helena Indiara Corezomaé saiu da aldeia Umutima, em Cuiabá (MT), com uma missão em mente: dar voz e esperança a seu povoado. “Sei a importância da comunicação para os povos, decidi lutar pelo curso de Jornalismo e consegui”, conta. Além disso, Helena foi uma das criadoras de um projeto com os artesãos da aleia que está dando sustento, identidade e esperança aos moradores.
“O Coloriê Bôloriê Umutima está ajudando na criação de uma identidade dos artesãos. É possível ver a esperança nos olhos de cada um de que tudo pode melhorar”, ressalta Helena (segunda à esq. na foto) sobre o grupo que produz biojoias, esculturas em madeira, bolsas, cestos e outras peças feitas com produtos naturais. Neste ano, Helena Indiara está iniciando mais uma etapa dos sonhos que a despertou de dentro de sua aldeia para o mundo: o mestrado em antropologia social.
Em fevereiro deste ano, o nome de Robeyoncé Lima despontou na mídia. A jovem de 28 anos foi anunciada como a 1 ª universitária transexual a ser aprovada na OAB no Estado de Pernambuco. Foi dentro da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) que, segundo relato da mesma, ela deixou de se auto reprimir, assumiu a transexualidade e passou a participar de discussões importantes que lhe trouxeram empoderamento: “Participar de movimento estudantil foi crucial, pois como diz Paulo Freire: ‘Ninguém se liberta só. O processo é coletivo'”.
“Nesse mundo em que a gente vive, a transexualidade é vista de uma maneira hostil. Muitas vezes, existem pessoas transexuais – homens e mulheres – que têm currículo perfeito, mas não são aceitos no mercado de trabalho justamente pela condição de transexualidade. Eu espero que a minha conquista estimule outros transexuais para que eles sigam com foco seus objetivos. Se eu puder dar um conselho em uma palavra é: Insista!”, afirma Robeyoncé Lima.