Secretária presa durante na operação Lava Jato revela jogo de corrupção na Odebrecht
Uma secretária da Odebrecht, que foi presa em Salvador durante a fase Acarajé da Lava Jato, foi crucial nas investigações que culminaram na 26ª etapa da operação deflagrada nesta terça-feira, 22, na Bahia e em outros sete estados, além do Distrito Federal. De acordo com os delegados da Polícia Federal (PF), informações e documentos obtidos com Maria Lúcia Guimarães Tavares levaram a descoberta de um setor de operações estru8turadas para pagamento de propinas pela empreiteira.
Foram encontradas planilhas na casa de Maria Lúcia, além de emails delas para um executivo da empresa para prestar contas sobre as transações ilícitas. Maria Lúcia era secretária de executivos da Odebrecht e era responsável pela produção das planilhas que controlavam o pagamento de “acarajés” (como essas transações eram chamadas). De acordo com as investigações, esses valores eram repassados para diversos políticos e pessoas ligadas a partidos.
Um dos possíveis beneficiários seria o publicitário João Santana, que foi preso durante a fase Acarajé. Maria Lúcia foi solta nove dias após a prisão. Mesmo sem fazer delação premiada, ela passou a ajudar na investigação, conforme confirmação da procuradora Laura Gonçalves Tessler. Ela está sob proteção da Lava Jato.
Contabilidade
De acordo com a Polícia Federal, ficou constatado que existia um setor estruturado para pagamento dessas propinas com sistema informatizado e procedimento definido para repasse desses valores. “Ficou claro que a Odebrecht realmente tinha um setor que organizava o pagamento dessas propinas”, disse o procurador da Lava-Jato Carlos Fernando dos Santos Lima.
As planilhas apontam o pagamento de pelo menos R$ 76 milhões para propinas, mas ainda há outras contas a serem analisadas. Esses repasses não se restringiam apenas a Petrobras. Outras diretorias da empreiteira baiana também participavam do esquema. O delegado Márcio Anselmo ressalta que isso comprova que o pagamento de propina está “institucionalizado” dentro da Odebrecht e era “sistemático”.
Há indícios que esse procedimento foi realizado em outras obras da Odebrecht, incluindo estádio, portos, canais e outros serviços de infraestrutura. “Há indicativo de obras federais, estaduais e municipais. Ainda vamos aprofundar (a investigação sobre essas obras)”, afirmou o procurador. Na entrevista coletiva desta terça, o procurador e os delegados não citaram indícios de irregularidades em obras realizadas pela empreiteira na Bahia.
A Odebrecht foi responsável, por exemplo, pela demolição e construção da Arena Fonte Nova. De acordo com o procurador, em relação a estádios, por enquanto, só há citações a Arena Corinthians, em São Paulo, mas os investigadores vão aprofundar as apurações para verificar outras obras da empreiteira.
Os delegados também destacaram que há provas da participação do presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, que foi preso em outra fase da Lava Jato e condenado pelo envolvimento no esquema. De acordo com eles, a sigla MBO (que se refere a Marcelo) aparece em diversas planilhas.
Mandados
A ação desta terça, 22, tem como alvo executivos da Odebrecht envolvidos no esquema, operadores que controlavam as contas utilizadas nas transações ilícitas e possíveis beneficiários que foram identificados por meio das planilhas apreendidas. Políticos não são investigados nessa fase.
Um dos detidos é Humberto Mascarenhas, que, de acordo com a PF, era chefe de operações da Odebrecht. Ele foi detido na Bahia. No estado, os policiais federais também buscaram um operador do esquema, que não teve o nome revelado.
Os policiais ainda tentaram cumprir um mandado de prisão temporária em Salvador, mas o alvo não foi localizado, segundo a assessoria da PF. No total, foram cumpridos oito mandados de busca em Salvador e Mata de São João, na região metropolitana da capital baiana.
A Bahia tem sido alvo constante da Lava Jato. É no estado que morava o publicitário João Santana e sua esposa, Mônica Moura, que também foram alvo da 23ª fase, a Acarajé.
Outros estados
Além da Bahia, os policiais federais também cumpriram mandados de prisão, condução coercitiva e busca em outros sete estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Piauí e Minas Gerais. No total, são cumpridos 67 mandados de busca e apreensão, 28 mandados de condução coercitiva, 11 mandados de prisão temporária e quatro mandados de prisão preventiva.