Manifestantes largam família, emprego e estudos para acampar na Paulista
Muitos dos manifestantes acampados em frente ao prédio da Fiesp, na avenida Paulista, deixaram o emprego, a família e os estudos para “lutar pelo País”.
São pessoas com pensamentos diferentes, mas com um objetivo em comum: derrubar o governo de Dilma Rousseff.
Veja algumas histórias de manifestantes que acreditam que suas ações vão mudar o País:
“Pedi licença não remunerada do trabalho”
O advogado Álvaro Gomes Junior, de 27 anos, pediu licença do escritório de advocacia que trabalha em Guaratinguetá (SP), nesta terça-feira (23), para se juntar ao grupo de manifestantes que está acampado na avenida Paulista, em frente ao prédio da Fiesp.
Junior conta que tomou a decisão de se ausentar do trabalho pelos próximos 15 dias após ver no noticiário o caso do advogado criminalista ativista na luta contra o governo, que foi morto em Guarulhos nessa terça-feira (22). Para o advogado, o crime tem motivação política.
— Eu já pensava em me juntar ao grupo, mas quando soube da morte do advogado não tive mais dúvidas e pedi licença do trabalho para o meu chefe. Abri mão do meu salário nesse período para juntar forças contra a corrupção e para conseguirmos mudar o cenário político.
“Deixei meus clientes e minha namorada em Florianópolis”
O analista de sistemas Murilo Nichels, de 27 anos, chegou no sábado (19) em São Paulo para se juntar ao movimento Resistência Paulista. Em Florianópolis, onde mora, deixou alguns clientes e a namorada, para engrossar o caldo dos manifestantes fixos.
Nichels conta que tem uma pequena empresa prestadora de serviços, que não vai muito bem, por isso faz serviços para fora. Porém, os trabalhos ficaram paralisados para vir a São Paulo.
— Vi na Internet que o pessoal estava acampado. Com o Brasil desandado decidi vir ajudar. Falei com a minha namorada, mas não foi fácil. Ela sabe que eu gosto de lutar pelo País. Nos falamos todos os dias. Ela ficou por lá trabalhando. A empresa em que ela trabalha está tranquila.
“Pedi demissão do trabalho para estar aqui”
O analista de sistemas Rafael Melo Cordeiro, de 32 anos, de Poá (SP), conta que pediu licença do trabalho para começar a acampar com os manifestantes na quarta-feira (16). Porém, uma semana exatamente após pedir a liberação, o analista, que trabalhava com carteira assinada, voltou a entrar em contato com a empresa para pedir mais dias para ficar no movimento, mas o empregador preferiu a dispensa.
— Expliquei para ele o que queria fazer. Meu chefe sabe que eu tenho engajamento político. Nesta manhã decidi pedir mais tempo, mas a empresa preferiu dispensar por enquanto. Eu entendo o lado deles e depois voltaremos a conversar sobre uma readmissão, mas, por enquanto, ficarei por aqui. Eles não me demitiram. É como se o pedido para sair tivesse partido de mim.
“Atrasei meus cursos para estar aqui”
A estudante Isabella Sanches de Sousa Trevisani, de 19 anos, veio de São Vicente, litoral de SP, para lutar por um País onde a direita conservadora tenha vez. A jovem faz dois cursos on-line, que estão com as lições atrasadas há oito dias.
— Sou totalmente contra o discurso de esquerda.
A garota se considera “bolsonariana” (simpatizante de Jair Bolsonaro). Durante a ocupação, Isabella ostenta uma camiseta com a imagem do político.
“Pedi demissão e tranquei a faculdade”
A cuidadora de idosos Sirlene de Souza Zanotti, de 46 anos, decidiu largar o emprego e trancar a faculdade de psicologia em Andradina, interior de SP, para vir a São Paulo e lutar contra a “ditadura comunista”.
Sirlene conta que sofreu resistência da família e chegou a se separar do marido em outubro do ano passado por causa do seu ativismo. Foi somente em janeiro que ambos fizeram as pazes, mas não antes do amado “se informar bastante” e começar a apoiá-la.
— Com ele me apoiando tudo fica mais fácil. Há dois anos eu venho me engajando e ameaçando largar tudo para lutar pelo Brasil. Estamos vivendo uma ditadura comunista, na qual o governo tira nossos direitos básicos e ainda quer calar a sociedade. Ficaria sem família, mas não deixaria meus ideais. A luta é por eles também. Um dia eles iriam reconhecer.
“Menti no trabalho, disse que estava doente para vir protestar”
N.G.G.C, de 22 anos, prefere não revelar detalhes de sua identidade. A jovem veio de uma cidade do interior escondida da família e dos chefes. Em casa, apenas a avó sabe da escapada. No trabalho, acreditam que ela está afastada por motivo de saúde. Apesar da clandestinidade de sua vinda a São Paulo, N. garante que a causa é nobre.
— Sou filha única e de uma cidade pequena. Meu pai fica preocupado com a violência, mas é a segunda vez que venho escondido para lutar pelo País. Ficarei até esta sexta-feira (25) e então terei que voltar para minha cidade. Ficarei aqui até o último minuto sabendo que estou fazendo isso pelas gerações futuras, para que não passem pelo o que eu estou passando. Vivo indignada com a falta de justiça.