Data de Hoje
29 November 2024

CRISE POLÍTICA: Beneficiários de programas sociais confirmam apoio à Dilma por medo de extinção dos serviços

“O Bolsa Família vai acabar se algo de ‘ruim’ acontecer a Dilma e ao governo do PT”.

A frase, uma das variações do discurso político dos defensores do projeto que levou o ex-presidente Lula e a atual gestora do país ao poder, está ficando cada vez mais frequente diante da força que ganha a possibilidade doimpeachment ou a renúncia da presidente acontecer.

O pensamento já toma forma de boato e preocupa diretamente muitas famílias assistidas pelos Programas Sociais do Governo Federal. A ideia pode fazer algum sentido, mas talvez não tenha um efeito tão devastador.

Entre os beneficiários, a preocupação é mais acentuada e o medo de ficar sem o serviço deixa muita gente apreensiva. A reportagem do Aratu Online conversou na última segunda-feira (4/4) com algumas pessoas que buscavam atendimento, junto ao órgão da prefeitura, responsável pelo controle dos cadastros no Bolsa Família, em Salvador.

A diarista, atualmente desempregada, Rosana Maria Santana, 29 anos, tem três filhas: um bebê de sete meses, uma menina de 6 anos e outra de oito anos. Moradora do bairro de Santa Luzia do Lobato cria as garotas com o marido, que trabalha como repositor em uma delicatessen.

Ela depende da ajuda do Bolsa Família e teme pela extinção do benefício. “Dizem que se Dilma sair tudo pode acabar. Isso vai ser ruim, porque pra gente é uma grande ajuda”, afirmou. Rosana também votou na petista e está inscrita há dois anos no Programa Minha Casa Minha Vida. “Nós moramos em uma casa emprestada e precisamos ter a nossa moradia própria”, comentou.

Também Mãe de três filhas, Vânia Gabriel de Sena, 33 anos, está desempregada, recebe R$ 182 do Bolsa Família — o que ajuda nas despesas das duas meninas maiores. Na ocasião, ela tentava fazer a inclusão da recém-nascida também no programa e aumentar a renda familiar.

“Essa ajuda é muito importante para a alimentação delas”, ressaltou Vânia, que cria as garotas sem a presença do pai. Com relação à crise política e à ameaça contra o governo, sua posição é firme em favor da presidente. “Votei em Dilma, sou contra o impeachment e penso que ela é uma mulher que está guerreando pelos pobres”, defendeu.

entrevistada bf1

Entre os que buscavam atendimento, a moradora de Cosme de Farias, Edna Maria dos Santos, 54 anos, mostrou que tem um problema no fêmur e possui dificuldades de locomoção. “Sinto muitas dores e não posso trabalhar”, disse, a dona de casa em busca do auxílio do programa.

Quando o assunto foi a possível saída de Dilma do Palácio do Planalto, ela foi mais uma que demonstrou preocupação. “Eu tenho pra mim que se ela sair o Bolsa Família acaba e isso não vai ser bom. Tem muito pobre que precisa, assim como eu”, afirmou.

ANÁLISE

Segundo o professor de Ciências Políticas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jorge Almeida, a perda completa seria improvável, porque os programas já estão incorporados e geraria uma insatisfação social muito grande.

“O que pode acontecer é algum tipo de redução e a adoção de algumas medidas restritivas, assim como uma parada no reajustes dos benefícios”, avaliou o professor.

JorgeAlmeida

DIVERGÊNCIAS

Teve quem desacreditasse no boato, ainda que saísse em defesa de Dilma Rousseff: “somente as pessoas que não são bem informadas pensam que isso é verdade. Esses benefícios já estão aí há muito tempo e não vão acabar desse jeito”, disse Ednalva Barreto Matos, 43, beneficiária do Bolsa Família há 4 anos.

Ela acredita que a situação atual de Dilma é fruto de uma manobra política que tenta apagar as benfeitorias concedidas ao povo pela presidente. “Tem que ver o que a mulher fez: muitas pessoas que não tinham casa moram hoje em residência própria com televisão, geladeira, tudo arrumadinho”, ressaltou.

Apesar de contar com uma ampla defesa entre os assistidos pelos programas sociais do PT, Dilma não tem o total apoio dos seus beneficiários. Há quem reclame e muito! Maria Creuza Batista, 56 anos, é assistida pelo Bolsa Família, mas disse que nunca mais vota na presidente, caso ela venha, em outra oportunidade, se candidatar a um cargo eletivo.

“Não duvido que ela esteja envolvida nessa corrupção. Político é tudo igual, todos que entram fazem a mesma coisa!”, bradou a moradora do bairro de Valéria, que é viúva e convive com duas filhas e três netos.

entrevistada bf2

Também descrente na presidente e no líder do partido está o pedreiro Roberto Matias Silva, 57 anos. Ele tem um filho com deficiência mental e quer incluí-lo no benefício. “Acho que esse tipo de ajuda é o mínimo que o governo pode fazer pelo povo”, disse, acrescentando que Dilma e Lula nada fizeram para melhorar a saúde e educação dos brasileiros.

Apesar de insatisfações observadas entre membros da classe pobre com relação à gestão do governo atual, as constantes manifestações (Fora Dilma e pela prisão de Lula), que acontecem em todo o país, não contemplam integrantes desse grupo. Embasados nesse fato, os petistas, inclusive, afirmam que os protestos são elitistas e fazem parte de um movimento golpista que coloca em risco a democracia.

Para o professor Jorge Almeida, as manifestações são pouco heterogêneas, porque acontecem, normalmente, em bairros de classe média, onde o acesso é mais dificultado para as pessoas de renda mais baixa. “Elas precisariam pagar passagens de ônibus e isso não é tão fácil”, considerou.

Além disso, o especialista ressaltou que o grau de consciência política dessas pessoas não é o suficiente para enxergar nas manifestações, uma atitude que possa conduzir o povo aos resultados esperados.