Emaranhados de fios pendurados arriscam a vida de pedestres
Há cerca de três anos, a bela vista para o mar da casa da aposentada Maria Luiza Santana, 68 – situada no bairro de Praia do Flamengo -, foi interrompida por um grande emaranhado de fios instalados entre os postes de energia das redondezas.
Não foi só a visão do mar que foi comprometida: na porta da sua casa, na rua Godofredo Filho, um fio preso à rede elétrica atrapalha a passagem e coloca em risco a vida de quem transita pela calçada.
A situação se repete em, pelo menos, outras cinco localidades da capital baiana. A equipe de reportagem de A TARDE percorreu bairros como Sussuarana, Cabula, Boca do Rio, Pernambués e arredores da avenida Luiz Viana Filho (Paralela) e constatou a presença de cabos caídos em vias públicas e postes sobrecarregados.
De acordo com o superintendente de Expansão da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), Eduardo Girardi, os problemas relativos à fiação expostos pela reportagem são provenientes de ligações de telefone, internet ou TV a cabo e, portanto, cabe a elas a devida manutenção.
O fato de não se tratar de fios elétricos, segundo Girardi, não anula os riscos de acidentes, como choques elétricos. “Não recomendamos que as pessoas toquem nesses fios por qualquer que seja o motivo, pois eles podem estar em contatos com outros fios da rede elétrica”, alertou.
Após diversas tentativas frustradas de contato com quatro empresas de telefonia para solicitar a retirada de sobras de fios que estavam dispostos em frente ao condomínio em que mora, na Praia do Flamengo, o engenheiro mecânico Edmundo Acioli precisou remover, por conta própria, a fiação.
“Conheço os riscos de manusear fios sem saber a procedência, mas não poderia deixar que os cabos colocassem em risco a segurança de quem passa pela região. A permanência desses nesta situação induz a uma condição de risco e insegurança, não só pela possibilidade de choques, mas também de uma queda provocada pelo emanharado”, disse.
No local, segundo ele, a situação se agravou no início deste mês, quando a Coelba procedeu a troca de um transformador e dois postes. “Após a troca, cabos foram largados, dependurados, e se encontram na mesma situação”, afirmou.
Para que os transeuntes consigam circular pela calçada da avenida Ulysses Guimarães, em Sussuarana, é necessário afastar, com as mãos, um extenso cabo de cor preta do caminho.
Para escapar do fio, o auxiliar de pedreiro Vanderson Silva, 37, precisou caminhar pela pista, entre os carros. “Sempre que passo por aqui, tento seguir pela pista, pelo meio dos carros pois tenho medo de tomar um choque. Aparentemente, o cabo está preso em fio de alta tensão, então acho melhor não arriscar”, contou.
Na Estrada do Curralinho, na Boca do Rio, um grande cabo pendurado em frente à entrada de um lava-a-jato encosta no teto dos automóveis que entram no local.
Em Pernambués, na entrada da rua 10 de Janeiro, objetos jogados sobre os fios rebaixaram os cabos.
Telefonias
Por meio das assessorias de Comunicação, as empresas Oi, Telefônica Vivo, NET, Claro e Embratel se pronunciaram a respeito do problema. A Oi informou, em nota, que monitora e realiza manutenção constante na rede.
Segundo a Telefônica Vivo, são realizadas, de forma regular, vistorias para manter a qualidade e segurança da rede instalada na cidade. A empresa informou, ainda, que enviará uma equipe técnica aos locais mencionados pela reportagem para verificar se os cabos pertencem à operadora: “Caso se confirme a responsabilidade da empresa, a companhia tomará as providências necessárias para normalizar a situação no menor prazo possível”.
As assessorias da NET, Claro e Embratel afirmaram, por sua vez, que cabos observados nos bairros não pertencem às empresas.
Sobrecarga nas redes pode provocar acidentes
Além de oferecer riscos à população, a sobrecarga de fios nos postes de energia elétrica pode danificar a estrutura da rede e até provocar acidentes mais graves, como a queda e danos a imóveis.
De acordo com o engenheiro elétrico e professor universitário José Alves Carvalho, a lógica do ordenamento de instalações elétricas e de telecomunicações deve obedecer um planejamento tal qual o desejável para a área de habitação.
“O que ocorre na Praia do Flamengo, por exemplo, advém da falta de estrutura da rede em absorver um grande número de ligações de telefone e internet. O crescimento do bairro foi grande, nos últimos dez anos, o que colaborou para o ‘inchaço’ dessas ligações”, disse.
Redes subterrâneas
De acordo com o especialista, a tendência, no futuro, é que as grandes capitais recebam, em sua totalidade, sistema de fiação subterrânea: “Nesses casos, os cabos de transmissão de energia elétrica, telefonia e TV a cabo são todos colocados em galerias subterrâneas. Porém, é um sistema caro e com alto custo para manutenção”.