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25 November 2024

Morre aos 85 anos o cantor Cauby Peixoto

Intérprete de ‘Conceição’ e ‘Bastidores’ estava internado havia uma semana em São Paulo por causa de uma pneumonia

 

O cantor Cauby Peixoto morreu na noite deste domingo, aos 85 anos. Ele estava internado no hospital Sancta Maggiori, no bairro do Itaim Bibi, zona sul de São Paulo, desde 9 de maio, por causa de uma pneumonia.

Remanescente da era de ouro da canção, Cauby se estabeleceu nos anos 1950 e se tornou o cantor mais famoso do rádio brasileiro, ocupando o trono que antes pertencera a Orlando Silva. Foi um showman de talento único e pioneiro ao levar aos palcos o estilo teatral, com exageros vocais e faciais e o figurino purpurinado inspirado no pianista americano Liberace, como retratou o documentário Cauby – Começaria Tudo Outra Vez, lançado no ano passado. No filme do diretor Nelson Hoineff, o cantor fala de tudo, de seu nunca assumido homossexualismo às joias de seu repertório: Conceição, Bastidores (um presente de Chico Buarque) e New York, New York.

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Caubi Peixoto Barros nasceu em Niterói (RJ), em 10 de fevereiro de 1931, em uma família de músicos notáveis: filho do violonista Cadete, sobrinho do famoso Nonô (Romualdo Peixoto), grande pianista que popularizou o samba no instrumento, e primo do cantor e compositor Ciro Monteiro. Seus irmãos também se destacaram na área artística: Moacyr Peixoto como pianista, Arakén Peixoto como trompetista e Andyara como cantora.

Sua carreira teve início em programas de calouros. Em 1957, tornou-se o primeiro cantor brasileiro a gravar rock: a faixa Rock’n’Roll em Copacabana, em 1957. Na mesma década, logo após gravar seu primeiro disco, trocou o Rio por São Paulo para ser o crooner das boates Oásis e Arpége. Voltaria ao Rio para integrar o elenco da Rádio Nacional.

Cauby logo se destacaria pela voz poderosa que dava brilho a standards da música americana. A identificação de Cauby com Sinatra, Bing Crosby e outros intérpretes do “american songbook”, o repertório dos standards americanos, o levaria a tentar a sorte nos EUA. Lá, com o pseudônimo de Ron Coby, se apresentou em nightclubs e chegou a gravar com o maestro Percy Faith. Participou do filme Jamboree, nos EUA, cantando Toreador. Insistiu na conquista da América naquela década, chegando a fazer temporadas de mais de um ano, e chegou a ser chamado pela imprensa de “Elvis Presley brasileiro”, mas o sonho de uma carreira internacional não se concretizou.

Em compensação, no Brasil, emplacava sucesso após sucesso, participava de filmes, cantava na noite, nos principais programas de rádio e televisão, aderia (à sua maneira) aos estilos que iam surgindo e formava a extraordinária bagagem que o transformou, com quase 70 anos de carreira, em um dos artistas de maior longevidade na música popular.

Sempre teve admirável versatilidade: fez duetos com Chico Buarque, Dona Ivone Lara, Luiz Carlos da Vila, Martinho da Vila, Nelson Sargento, Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho e Carlinhos Brown.

Sobreviveu à bossa nova, à Jovem Guarda e outros gêneros que vieram, e até se adaptou a eles, mas sempre mantendo-se como um monolito artístico, um santuário musical. Em 2009, gravou um disco só com sucessos de Roberto Carlos, de quem foi grande amigo – havia então 16 anos que Roberto não autorizava um artista a gravar um disco só com músicas suas.

Com a saúde debilitada, foi internado várias vezes nos últimos anos. Em 2000, ganhou seis pontes de safena – e, em um mês, estava cantando de novo. Em 2015, passou semanas internado por causa de diabete.