Criança pode pegar herpes com beijo? É perigoso? Entenda esta doença viral
A foto que a britânica Amy Stinton postou do filho com o corpo coberto de brotoejas rodou as redes sociais na última semana e deixou muitas mães preocupadas. Na postagem, que já foi compartilhada quase 10 mil vezes, ela diz que “isso é o que acontece a bebês quando entram em contato com alguém com herpes”. Segundo ela, “Oliver agora tem o vírus do herpes e o terá para a vida toda”.
Médicos ouvidos pelo UOL, no entanto, explicaram que não é bem assim. O caso do bebê é raro, e as feridas pelo corpo todo foram provavelmente causadas por uma associação a doença de pele.
Geralmente, não há motivo para temer o herpes simples.
Como o vírus está altamente disseminado na população, é muito comum ver crianças infectadas, explica a infectologista pediatra Sandra de Oliveira Campos, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Na maioria das vezes, a chamada “prima infecção herpética” provoca apenas lesões na boca (bolhas e aftas), que saram em questão de dias sem necessidade de remédios.
O vírus fica encubado nas células e pode causar nova lesão em situações específicas (estresse, sol em excesso ou baixa imunidade, por exemplo) –e a tendência é que as pessoas deixem de ter os sintomas ao longo da vida, porque o organismo adquire imunidade.
“A primeira infecção do herpes simples ocorre na infância em forma de gengivoestomatite, quando a boca apresenta bolhas e aftas. Mas é uma doença autolimitada, que geralmente se cura sozinha”, afirma Campos.
Mas o beijo é um problema?
A transmissão do herpes não ocorre somente pelo beijo, como sugere Stinton. O vírus pode passar facilmente pela saliva (quando falamos, por exemplo) ou pelo toque.
“Um ou dois dias antes de você saber que está com herpes, você já pode transmitir o vírus. Essa capacidade de transmissão vai crescendo até chegar no auge da doença, que é quando os sintomas físicos aparecem”, afirma a médica.
Por isso, é difícil saber quem transmitiu a doença.
É melhor evitar visitas ao bebê?
Bebês e crianças costumam ter um sistema imunológico mais frágil, por isso são mais suscetíveis aos vírus. Mas isso vale para muitas doenças, não apenas para o herpes.
Se uma pessoa sabe que está doente, ela deve evitar o contato com o bebê. “Se alguém de dentro de casa apresentar a doença, deve lavar bem as mãos e evitar pegar ou beijar a criança”, explica Campos.
Doença de pele agrava sintomas
A infecção por herpes pode ganhar outra proporção em crianças que sofrem com dermatites (doenças de pele). Nestes casos, que são raros, as feridas do herpes podem se espalhar e devem ser tratadas de forma mais incisiva.
“Acontece com bebê que está sempre com coceira, alergias na pele, que têm dificuldade de ficar com a pele hidratada, o que chamamos de dermatite atópica. Quando essas crianças são infectadas com o herpes, o vírus se dissemina mais, e ela desenvolve a erupção variceliforme de Kaposi”, afirma a dermatologista Luiza Keiko Oyafuso, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Há casos mais graves de herpes que podem levar à morte, mas são considerados raríssimos.
“Existe a encefalite por herpes, a meningoencefalite, que não é comum, mas pode acontecer com pessoas imunodeprimidas que têm contato com o vírus. Não é uma evolução da estomatite. É uma forma de transmissão grave do herpes que é muito rara”, afirma Campos.