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27 November 2024
Oficiais da Polícia Militar ouvem denúncia do pai de santo na manhã desta sexta (Foto: Mauro Akin Nassor/Correio)

Terreiro é invadido por PMs na Liberdade e líder desabafa: ‘Eles jamais apontariam arma para um padre’

O terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, localizado na Rua do Curuzu, foi fundado em 1890. Pela primeira vez nos seus 127 anos de história, a casa foi invadida na manhã de quinta-feira (17).

O pai de santo Doté Amilton Costa, sacerdote do templo há mais de 30 anos, afirma que três policiais militares quebraram a porta do terreiro e acessaram a parte sagrada da casa, por volta das 10h, onde ficam recolhidos os filhos de santo que estão em obrigação religiosa.

Doté afirma que os policiais são do Batalhão de Choque (BPChq) da Polícia Militar que integram as tropas que fazem a operação de combate ao tráfico de drogas na Liberdade.

“Eles arrombaram minha porta. Mandaram que eu saísse, mas eu disse que quem tinha que sair da minha casa era eles. Eu disse que era ilegal o que eles estavam fazendo e que eu não permitia a entrada deles na minha casa. Eles jamais colocariam a arma na cara de um padre como colocaram na minha”, afirmou o religioso, destacando que houve preconceito por parte dos militares por se tratar de um terreiro de candomblé.

O terreiro foi o primeiro a ser tombado com base na Lei 8.550/2014, de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Salvador. A oficialização ocorreu em 15 de janeiro de 2016 pela Prefeitura de Salvador. Desde o início da manhã desta sexta-feira (19), oficiais da PM e integrantes da Fundação Gregório de Matos estão no terreiro para apurar a denúncia.

Líder religioso do local, Doté ressalta que a parte sagrada da casa – que não pode ser acessada por quem não é do terreiro – foi vasculhada pelos policiais. “Aqui não guardo ladrão. Não sou a favor de ladrão, não gosto de ladrão e não sou a favor de droga. Só não posso entrar em conflito com minha vizinhança para dizer para não fumar droga, matar ou roubar. Quem tem que fazer isso é o governo, é a justiça e não eu”, destaca o religioso ressaltando que faz um trabalho de educação com as crianças e jovens da comunidade.

Os militares, segundo Doté, apontaram fuzis para ele e um filho de santo que estava na casa no momento. O líder religioso destacou ainda que, antes dos militares acessarem o imóvel, policiais civis tinham ido ao local e pedido para revistar o imóvel. Doté afirmou que deu a autorização, mas que foi surpreendido com a ação dos militares.

“Quando eu estava falando com os policias civis ouvi um barulho no fundo da casa. Quando cheguei lá, a porta estava arrombada e os policiais botando a arma na minha cara”, argumentou Doté.

Em resposta, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) informou apenas que a Corregedoria da Polícia Militar está apurando a denúncia. A PM, por sua vez, em nota, afirmou que “orienta o cidadão a formalizar o registro junto à Ouvidoria da Corporação através do 0800 284 0011 ou do site institucional www.pm.ba.gov.br no link da Ouvidoria”. (Por Correio)