abr 29, 2014
Age como se fosse ainda senhor de engenho', diz educador sobre Joaci Góes
Fotos: Max Haack/ Ag. Haack/ Bahia Notícias
As críticas ao regime de cotas feitas pelo pré-candidato a vice-governador pela chapa das oposições Joaci Góes (PSDB) e a aprovação do programa pedagógico do Instituto Alfa e Beto (IAB) pela prefeitura de Salvador foram rebatidas nesta segunda-feira (28) pelo pedagogo e ex-diretor de Política da Educação Fundamental do Ministério da Educação, Walter Takemoto. “Em relação à questão da meritrocacia e da competitividade citada pelo senhor Joaci, que se relaciona com o fato de ser contra as cotas, ele reproduz os discursos das elites mais reacionárias que, ao longo dos séculos, permitiram a marginalização das camadas mais pobres da população, em especial o negro e pobre do estado da Bahia”, comparou o educador, em entrevista ao Bahia Notícias, ao afirmar que o tucano “age como se fosse ainda o senhor de engenho, que vê da casa grande o povo da Bahia como se fosse seu escravo e seu servidor”. Sobre o IAB, Takemoto vê as afirmações de Joaci como demonstração de “sua completa ignorância sobre os problemas da escola pública”. “Quando ele defende o Alfa e Beto está indo contra a legislação brasileira, as diretrizes pedagógicas do Conselho Nacional de Educação, e legitima uma medida do prefeito ACM Neto de comprar esse sistema pedagógico por mais de R$ 40 milhões, sem licitação, sem consulta aos professores da rede municipal”, explica, ao destacar ainda que o procedimento adotado pelo instituto é "nacionalmente condenado pela comunidade educacional".
O programa pedagógico do instituto foi alvo de críticas quando foi implementado, por parte dos docentes e de políticos, como o vereador de Salvador Sílvio Humberto (PSB), que se manifestou contra o material e apontou o texto “As bonecas de Fernanda”, integrante de um dos módulos do programa, como racista. “É importante que o estudante aprenda sobre diversidade e não a partir de um modelo único que seja reproduzido a todo momento. O uso de conteúdos que reforçam estereótipos trabalha contra uma educação de qualidade. O material desse instituto é racista e denunciamos isso”, reiterou. O socialista questionou o “efeito bumerangue” citado por Joaci para afirmar que não criaria as leis que instituem cotas na universidade e na carreira pública municipal e estadual. “Quando você investe contra a natureza das coisas, você acaba tendo um efeito oposto ao que você desejava”, diz o tucano, ao exemplificar a discriminação feita a estudantes aprovados pela reserva de vagas. “Que situação que é natural? As desigualdades sociais são naturais e raciais são naturais? As políticas de ações afirmativas garantem a igualdades de oportunidades que a população negra nunca teve. Não é que vai causar um problema social [a retirada das cotas]. Isso seria um retrocesso”, argumenta. O edil acredita que não há contradições em falar de ações afirmativas e da qualidade da educação pública. “Quem não quer resolver o problema acha que são duas coisas diferentes. Elas não são opostas. Combater as desigualdades sociais não resolve as desigualdades raciais, mas o contrário é verdadeiro”, analisou, ao definir a linha de pensamento do postulante do PSDB como “extremamente conservadora”. “Não me surpreende: há uma repactuação das elites. A questão aí não é só mudança de direção. Se ele tem a mesma visão de sociedade, não há problema nenhum em se juntarem, o principal ponto é a visão de mundo, extremamente conservadora nesse aspecto”, analisa, em relação ao fato de o pré-candidato ter sido um conhecido anticarlista e dividir atualmente a chapa com o ex-governador Paulo Souto (DEM