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24 November 2024

As ‘rodovias da morte’ na Bahia: confira os trechos mais letais

Entre 2012 e 2017, estradas federais registraram 4.269 vítimas fatais

O entregador de pães Gilmagno da Conceição Matos, 42 anos, tinha acabado de sair de uma fazenda às margens da BR-101, na noite de 24 de janeiro de 2017, e circulava de moto, na contramão, pelo acostamento quase inexistente da rodovia, quando foi atingido por um carro de passeio que o matou na hora. O acidente ocorreu próximo a Buerarema, no Sul da Bahia, um dos trechos mais movimentados da BR-101.

Já neste ano, também no Sul do estado, na 101, um carro Classic bateu de frente com um ônibus que seguia de Garanhuns (PE) para o Rio de Janeiro, na altura de Itabuna, no último domingo (14). Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o motorista do carro tentou fazer uma ultrapassagem proibida. Resultado: ele morreu na hora e outras 14 pessoas ficaram feridas. O último paciente internado teve alta nesta segunda-feira (16).

Acidente no último domingo, na BR-101, vitimou motorista (Foto: Pimenta Blog)

Com 156 mortes em 2017, a BR-101 é a que mais teve acidentes com vítimas fatais no ranking das rodovias federais e estaduais na Bahia, no ano passado. Os trechos mais perigosos, segundo a PRF, são na divisa entre Espírito Santo e Bahia, no Km 957, até Itamaraju (Km 806), passando por Teixeira de Freitas (Km 880); o trecho iniciado no Km 793, em Itamaraju, até o 717, em Eunápolis, passando por Itabela (Km 745) e Itagimirim (Km 702).

Outros trechos que concentram mais acidentes são a cidade de Itapebi, na altura do Km 660; Santo Antônio de Jesus, no Km 180; e Itabuna, no Km 505.

Depois da 101, a rodovia que ocupa o segundo lugar no número de mortes é a BR-116, com 147 registros. Ambas recebem cerca de 5 mil veículos diariamente. A 116 – administrada pela concessionária Via Bahia – é mais bem conservada e possui menos curvas perigosas, segundo a PRF. Já a 101, líder do ranking, administrada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (Dnit), é toda em pista simples, mais precária e próxima do litoral, onde chove mais, o que dificulta a visibilidade dos motoristas e deixa a pista escorregadia.

Além da 101 e da 116, a BR-324 registrou 57 mortes em 2017, seguida pelas BRs 242 (51 vítimas fatais) e a 110, onde 43 pessoas morreram. Estatisticamente, o tipo de acidente que mais deixa vítimas fatais é a colisão frontal, afirma a PRF, em nota. Foi o que aconteceu em Itabuna, no domingo.

Arte: CORREIO

Estradas estaduais
No ranking das cinco estradas estaduais que mais mataram em 2017, informado pela Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra), a que lidera, com 31 mortes, é a BA-099, conhecida como Estrada do Coco, entre Lauro de Freitas e o Litoral Norte. Em seguida, vêm as BAs 001 (29 mortes), 130 (19) e a 052 e a 120, ambas com 17 mortes em 2017.

No total, 880 pessoas morreram nas estradas baianas em 2017, a maioria delas nas rodovias federais: 575. O número, porém, vem reduzindo nas BRs desde 2012, quando foram registradas 849 mortes nas federais. Foram 4.269 vítimas fatais de 2012 a 2017 nas rodovias federais. No mesmo período, nas estradas estaduais, houve 1.955 mortes.

Razões
“Embora apareça na nona posição entre as ocorrências mais frequentes, a colisão frontal é a primeira em número de vítimas fatais. Por isso, as ultrapassagens irregulares são práticas fiscalizadas intensamente pela PRF e devem ser evitadas pelos motoristas”, explica a nota da PRF.

Outras causas importantes vitimam um número expressivo de pessoas, como a saída de pista provocada pelo excesso de velocidade, as colisões traseiras, laterais e transversais causadas pela falta de atenção em conversões, cruzamentos e mudanças de direção.

Acidentes com motocicletas, como o que matou Gilmagno há 1 ano, também contribuem para o número de mortes nas rodovias, destaca a PRF, segundo a qual o não uso de equipamentos de segurança, sobretudo capacete, o excesso de passageiros e a inobservância das regras de trânsito são fatores que contribuem para as mortes.

“A falta de atenção é a maior causadora de ocorrências, respondendo por 70% dos registros”, destacou a Seinfra, em nota.

Segundo a 21ª Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada em 2017, 64,8% (5.745 km) de vias têm algum tipo de deficiência no estado (regular, ruim ou boa). Apenas 35,2% das rodovias (3.121 km) tiveram um ótimo ou bom. As rodovias da Bahia (estaduais e federais) somam 8.866 km de extensão, segundo informações da Confederação Nacional do Transporte (CNT).

O estado geral inclui a avaliação conjunta do pavimento, da sinalização e da geometria da via. De acordo com a pesquisa, o acréscimo do custo operacional devido às condições do pavimento chegou a 23,5% no transporte rodoviário da Bahia. A pesquisa estima que só para as ações emergenciais de reconstrução e restauração das vias são necessários R$ 2,40 bilhões. Já para a manutenção dos trechos desgastados, estima-se um custo de R$ 1,78 bilhão.

Governos citam investimentos
O Dnit informou que estão previstos R$ 266,87 milhões em 2018 para manutenção das estradas federais que cortam a Bahia. O órgão planeja gastos específicos para as BRs 110, 116, 242 e 324. Para a duplicação da BR-116, de Teofilândia a Feira de Santana, existem dois contratos em fase de elaboração, análise e aceitação dos projetos, diz o Dnit. “O valor investido em 2017 para essa ação foi de R$ 24,39 milhões e em 2018, para as obras de duplicação na BR-116, é de R$ 37,10 milhões.”

Há ainda quatro contratos de conservação para a manutenção da BR-116, desde a divisa com Pernambuco até Feira de Santana. Além disso, existe um contrato que consiste em implantação de vias laterais e restauração. “Os serviços são executados entre o entroncamento com a BR-235 e Euclides da Cunha. Foram investidos R$ 8,97 milhões em 2017 para manutenção da BR-116/BA”, afirmou o órgão federal.

Para manutenção da BR-242, o Dnit tem três contratos de conservação, de São Roque do Paraguaçu ao entroncamento com a BA-534, e de Brotas de Macaúbas à divisa com o estado de Tocantins. E ainda três contratos para execução dos serviços de manutenção estruturada, entre Castro Alves e Brotas de Macaúbas. Na 242, foram investidos em manutenção R$ 40,69 milhões em 2017.

Já o governo do estado diz que “vai destinar 2/3 do valor obtido no empréstimo de R$ 600 milhões junto ao Banco do Brasil para a recuperação de rodovias estaduais sob a responsabilidade da Seinfra”, o que dá cerca de R$ 400 milhões.

Em 2017, a Seinfra diz que mais de R$ 182 milhões foram investidos na implantação e restauração em 387,14 quilômetros de rodovias baianas. “Dentre os trechos recuperados estão 78 km de extensão da BA-225, entre Formosa do Rio Preto e Coaceral; 37,7 quilômetros da BA-693, que liga a BA-290 a Ibirapuã, e 52,2 km da BA-052, de Ipirá a Baixa Grande”, afirmou o órgão.

Para 2018, o governo planeja recuperar mais de 1.600 km de estradas. O contrato para a realização das obras foi assinado no final de 2017.

Serão realizados serviços em mais de 360 km da BA-210, de Paulo Afonso a Juazeiro; no Anel da Soja (BAs 456 e 460), em mais de 400 km; da BR-242 (Paramirim, Livramento, Brumado, Vitória da Conquista, Itambé); entroncamento da BA-152 (Caturama e Botuporã) e BR 430 (Igaporã).

Estão previstos investimentos ainda em mais de 500 km da BA-161, entroncamento da BR-242 (Estreito), Barra (BA-172) e no entroncamento da BR-242 (Javi) em mais de 300 quilômetros. A previsão é que os serviços sejam iniciados neste primeiro semestre, informou a Seinfra.

Além disso, está na programação a realização de serviços de recuperação e pavimentação em outros 320 quilômetros, também no primeiro semestre, completou o órgão estadual.

 

CORREIO DA BAHIA