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28 September 2024
Foto: reprodução/Instagram

Tatuadoras se tornam referência após abrir estúdio só com mulheres

Quando Nely Oliveira decidiu ser tatuadora, há 13 anos, pensou que naquele meio não ia encontrar o machismo da mesma forma que encontra na sociedade. Afinal, é um mercado mais moderno, mais “pra frente”, claro que não ia ter nada disso, certo? Errado. O cenário com o qual ela se deparou não foi muito diferente do que se vê no mercado nacional ou mundial, do ponto de vista feminino. “Antigamente, mulher em estúdio de tatuagem ou era secretária ou era mulher do tatuador. Até você conseguir mudar isso demorou um tempo”, comenta Gabriela Drouguett, que tatua profissionalmente há 12 anos. “É muito difícil para alguns homens reconhecer que algumas mulheres passaram deles e que estão no mesmo nível que eles. É árduo. Mais difícil do que ser um cara que começou há pouco tempo, porque os homens já olham no mesmo nível. Mulher não, você tem que se provar muito para te olharem da mesma forma”, pontua Gabriela. Ao lado de outras três mulheres, as duas participaram da criação do C’ink Tattoo, com o objetivo de “criar um ambiente profissional, mas também acolhedor”.

Tanto Nely quanto Gabriela acreditam que hoje o mercado está mais aberto para as mulheres que tatuam, mas para que isso fosse possível, foi necessário que pessoas como elas firmassem o seu espaço. Nely conta que muitas vezes durante a sua trajetória ouviu comentários depreciativos sobre a sua arte, que insistiam em colocá-la para baixo e duvidavam da sua capacidade. Entretanto, ela escolheu focar no seu trabalho – “work hard”, como ela mesma diz – e não ligar para esse tipo de crítica. “Precisamos aprender a se colocar exatamente no lugar que estamos. Você sabe qual a sua capacidade, o seu valor, você sabe tudo. É diferente ouvir uma crítica construtiva, de alguém te respeita, de quando você está em um meio machista masculino em que você tem que escutar algumas coisas”, explica Nely.

Estúdio C’ink Tattoo (Foto: Bahia Notícias)

Milena Correia, que tatua profissionalmente há 7 anos, também se coloca como parte dessa trajetória para consolidar as tatuadoras no mercado. “A gente [o estúdio] meio que abriu o caminho para as outras meninas. Especialmente elas duas [Nely e Gabriela], porque a gente começou lá atrás e nunca fez outra coisa. A gente estava sempre ali, na luta, sem desistir, e chegamos lá”, diz Milena. Rêka Bittencourt, que faz parte da nova geração de tatuadoras, no mercado há apenas quatro anos, encontrou um cenário diferente depois das conquistas das “veteranas”. “Quando eu cheguei, tive uma outra história, eu fui muito bem acolhida”, contou Rêka. “Inspirar a carreira de uma pessoa é muito forte. A gente se inspirava nos caras. A gente ficava procurando mulheres para se inspirar”, conta Nely. Carol Hidalgo, perto de completar dois anos como tatuadora, considera que ter uma mulher como inspiração é engrandecedor. “É muito doido, porque a maioria dos tatuadores só coloca foto de tatuagem, e quando a gente vê que é mulher, é diferente. Tinha uma tatuadora que eu conhecia só o trabalho e quando eu descobri que era mulher eu pensei ‘nossa que incrível, é uma mulher’”, conta Carol.

O que essas cinco mulheres tinham em comum, além de exercerem a mesma profissão, mais ou menos cinco meses atrás, era o desejo de montar um lugar só delas. Naquele momento, todas elas estavam trabalhando em outros estúdios. Gabriela Drouguett, que já trabalhava com Carol, convidou Rêka para montar um estúdio juntas. Coincidentemente, na mesma época, Nely Oliveira e Milena Correia também estavam se unindo para trabalhar juntas. Amigas de longa data, Gabriela e Milena, em uma conversa, acabaram concordando que deveriam, as cinco, se unir e montar um estúdio. Assim nasceu a C’ink Tattoo. “Foi muito certo desde o início, a gente sentiu isso”, conta Gabriela. Em cerca de quatro meses, as cinco dobraram esforços para conseguir montar o estabelecimento, que funciona na TK Tower, localizado na Avenida Magalhães Neto, na Pituba.