O ‘plano B’ dos EUA para o Irã pode levar a uma guerra?
Este é o “plano B” dos EUA para o Irã – ampliar a pressão de sanções para forçar o governo em Teerã a negociar um novo acordo diplomático: o país teria de aceitar restrições mais abrangentes não só em suas atividades nucleares, mas também em seu programa de mísseis e em seu comportamento na região.
Nesta segunda-feira, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou o novo plano. Washington lista 12 condições para que as sanções econômicas contra o Irã sejam aliviadas, entre as quais, encerrar o programa de mísseis balísticos e não intervir em conflitos regionais, como na Síria e no Iêmen.
Mas essa é uma política realista para conseguir um novo compromisso de Teerã? Ou é uma receita para tensões crescentes, uma diplomacia agressiva que serve de cortina de fumaça para uma política que tem como principal objetivo uma mudança de regime no Irã?
Eleições na Venezuela: O que são os ‘pontos vermelhos’ e por que Henri Falcón acusa Maduro de compra de votos
‘O dia em que meu pai tentou me matar com uma faca’
Ele é certamente uma política dura. Pompeo teve dificuldades para elaborar uma estratégia para conter o Irã e reduzir sua influência na região.
Mas quantos dos aliados de Washington deverão endossá-la – além de sauditas e israelenses, para quem a nova política americana soa como música?
De certa maneira, há lógica no discurso de Pompeo. Ele explica por que o governo Trump considera o acordo de Barack Obama com o Irã – normalmente conhecido por suas iniciais em inglês JCPOA (Plano Abrangente de Ação Conjunta) – como essencialmente falho.
O argumento é o de que a equipe de Obama falhou em usar o poder que as sanções lhe conferiam e se contentou com um acordo pela metade, que só resolve parte das questões.
Registros históricos, no entanto, mostram que o Irã não estava sendo contido pelo regime de sanções. Ele estava ficando cada vez mais perto da bomba nuclear.
O governo Obama imaginou que, ao aceitar que o Irã continuasse a enriquecer urânio de forma controlada, conseguiria um pacto que protelasse a obtenção de um artefato atômico em, no mínimo, 18 meses.
Esse acordo – se funcionasse – poderia ser seguido por outras negociações. Era imperfeito, mas muitas vezes a diplomacia é imperfeita.
Não se pode esquecer que o regime mais amplo de sanções contra Teerã estava lentamente se fragilizando. Obama optou por agir imediatamente, sabendo que haveria mais trabalho para realizar no futuro. Mas os riscos bem reais de uma guerra com o Irã foram contornados.
Agora, uma das demandas pela Casa Branca é que o Irã desista totalmente enriquecimento de urânio. Esse ponto era um entrave em 2015, quando o JCPOA foi anunciado, e continua a ser um obstáculo atualmente.
Peso dos negócios
A estratégia americana se baseia na imposição de um novo conjunto de sanções contra Teerã e numa coalizão de aliados regionais para conter sua crescente influência.
Claro que, para as sanções funcionarem, devem ser abrangentes e apoiadas pelo máximo possível de países.
Por enquanto, os aliados europeus dos EUA querem seguir com o JCPOA.
Há quem diga que a posição dos governos europeus não importa – os empresários é que decidirão se vale a pena investir no Irã e correr o risco de sofrer punições dos EUA. E a visão de especialistas é que, ainda que países europes esperneiem, como tem feito a petrolífera francesa Total, investidores temerão as consequências e abandonarão negócios com os iranianos.
Até onde Rússia, China e Índia devem se curvar à pressão das sanções americanas? Convencer aliados e outros países a abandonar o comércio com o Irã pode prejudicar uma série de relações diplomáticas mais amplas dos EUA.
O governo Trump está realmente disposto a arriscar diversos laços bilaterais em nome de sua política em relação a Teerã?
Objetivo incerto
Quando ouvimos Pompeo, temos a impressão de que a principal novidade é sobre os meios, não aos fins. Os europeus, a Rússia, a China e, claro, o Irã ficariam felizes com a continuidade do JCPOA. Mas Pequim e Moscou compartilham várias das preocupações de Washington – que não são novas – e estão dispostos a adotar novas medidas para tentar bloquear o programa de mísseis do Irã e sua proeminência regional.
Mesmo assim, muitos temem que, na verdade, o governo Trump discorde em relação aos fins – e esteja seguindo a linha do conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, que há muito tempo prega uma mudança de regime em Teerã.
De qualquer maneira, o problema fundamental continua a ser o próprio Irã.
O país não vai aceitar o plano de 12 pontos de Pompeo. Em algum momento, pode muito bem decidir sair do novo acordo e intensificar as atividades nucleares. Essa não é uma receita para enfraquecer a linha dura em Teerã ou garantir estabilidade regional.
Muitos temem que essa não seja uma estratégia que levará a um acordo novo e melhor, mas uma estratégia que ameaça iniciar uma guerra.