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29 November 2024

Imagens Chocante : 170 mil frangos mortos por dia e um prejuízo incalculável

Conheça as consequências de cada dia de greve

“O caos não vai solucionar a situação no Brasil”. Poderíamos começar este texto de diversas formas – o prejuízo pelas consequências dessa greve de caminhoneiros começa a tomar proporções tão absurdas que qualquer um dos fatos que serão listados a seguir seria impactante. Mas essa frase, dita pelo presidente do Sindicato das Indústrias de Ração e Nutrição Animal do Estado (Sindnutri), Marcelo Plácido, parece sintetizar bem o drama de um dos setores mais afetados por essa paralisação: o da avicultura.

Só no fim de semana, 60 mil frangos morreram de fome – 50 mil em Governador Mangabeira e 10 mil em Alagoinhas. Morreram definhando, de forma cruel. Mas esses números podem ficar piores a partir desta terça-feira (29), quando está previsto para que as rações ainda disponíveis acabem em todo o estado. Sem ração, no mínimo 1% do plantel pode morrer a cada dia – ou seja, 173 mil frangos mortos de fome diariamente. E, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), esse massacre pode passar a 500 mil mortes por dia.

“Estamos falando de animais. Estamos falando de vida. Tem granjas que já estão há três, quatro dias, sem alimentação”, denuncia a diretora-executiva da Associação Baiana de Avicultura, Patrícia Nascimento.

Ela é uma das milhares de pessoas que, neste momento, fazem um apelo pelo fim da greve e reabastecimento das cidades. A situação é tão grave que o governo do estado está, com as entidades, tentando criar uma logística para salvar as aves de uma morte dolorosa.

É difícil estimar o prejuízo em todos os setores – industrial, alimentício, da construção civil, de serviços… Alguns só terão um balanço real dias após o fim da greve. Mas o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação já calcula que o impacto nacional de oito dias de paralisação vai chegar a R$ 26 bilhões.

Foto: Evandro Veiga/CORREIO

O alerta de todos os setores é um só: não se trata apenas de preços de combustíveis. Seja lá qual for o preço – da gasolina, do frango, da banana, da carne vermelha, do leite, dos bens não-perecíveis –, a situação pode ser piorada com o desabastecimento.

Avicultura 
A Bahia tem, hoje, um plantel de 17 milhões de frangos, divididos em 800 propriedades em 30 municípios do estado. Só que, a partir desta terça-feira (29), essa população deve diminuir drasticamente, se não houver o desbloqueio das estradas.

A previsão da Associação Baiana de Avicultura (ABA), do Sindicato das Indústrias de Ração e Nutrição Animal do Estado (Sindnutri) e da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb) é de que 173 mil frangos morram por dia, sem comida. Segundo a Faeb, esse quadro pode evoluir para algo ainda mais desesperador: até 500 mil mortes por dia.

O prejuízo de perder esses frangos pode chegar a R$ 80 milhões, segundo o presidente da ABA, Dario Mascarenhas. “Mesmo com o prejuízo, o que nos preocupa mais é o prejuízo sanitário. Essas aves não têm destinação. Como elas não vão para o frigorífico, por uma questão óbvia de saúde pública, serão descartadas no meio ambiente, o que pode contaminar o solo e provocar doenças”, explicou.

Ao CORREIO, a diretora-executiva da ABA, Patrícia Nascimento contou que quem tinha ração já distribuiu. Agora, o jeito é esperar a chegada dos caminhões.

“Eles não estão deixando os caminhões passarem e continuamos numa situação crítica, principalmente de Barreiras para cá. Tudo está preso”, lamenta.

Segundo ela, na região de Feira de Santana e Santo Antônio de Jesus, existem seis frigoríficos: três já pararam e dois devem parar. Até o fim de semana, serão todos.

De acordo com o presidente do Sindnutri, Marcelo Plácido, as aves conseguem passar entre dois e três dias sem ração. No caso dos suínos, os animais conseguem suportar alguns dias a mais – até quatro ou cinco. Por isso, ele estima que, em até dois ou três dias, os porcos comecem a morrer de fome. Os criadores de bovinos, por outro lado, devem demorar a sentir o peso da mortalidade – mas o desempenho dos animais deve começar a cair.

“A situação está caótica. Está na hora de se buscar um bom senso de se evitar um prejuízo que, fatalmente, chegará à população. Da mesma forma que estamos vendo agressões por gasolina, tomara que não chegue aos alimentos”, denuncia. E o pior: mais uma vez, são as pessoas mais pobres quem mais devem ser afetadas. Metade do consumo de carne das classes C, D e E é justamente de frango.

Ele alerta para prejuízos muito maiores do que a população tem sido capaz de enxergar – e que, no fim, não vão solucionar problemas do país. Até os ovos já estão sendo itens raros nos mercados, já que 80% do que é consumido na Bahia vem das granjas de outros estados.

“O prejuízo muda a cada minuto. É incalculável. Só vamos ter a noção quando estancar. O movimento alega que está deixando passar ração e carga viva, mas deixam passar na ida e, na volta, prendem o caminhão. Estamos tentando sensibilizá-los para a nossa causa. É questão de analisar que se trata de uma carga diferenciada”.

A situação dos animais é tão grave que a apresentadora e ativista Luisa Mell fez um apelo aos caminhoneiros no final de semana. Em um vídeo publicado nas redes sociais, Luisa, que tem 1,7 milhão de seguidores, pediu que os eles alimentassem os animais. “Caminhoneiros, greve é um direito de vocês, mas, pelo amor de Deus, não façam esta crueldade, eles são vítimas indefesas”, declarou.

Segundo Marcelo Plácido, a ração dos frangos é feita de milho e farelo de soja – em proporções de 80% e 20%, respectivamente. “A população urbana precisa se sensibilizar por isso, do quanto é desagradável ver um animal restrito de sua alimentação. Não recebemos nada”. Só para restabelecer o fluxo e a entrega de rações no estado, a previsão é de uma semana.

No entanto, para que a cadeia da avicultura se recupere por completo, o presidente da Faeb, Humberto Miranda, estima que leve meses. Isso porque os produtores terão que dar início a um ciclo totalmente novo – que começa com o nascimento de um pinto e envolve todo o seu crescimento. “Não é ‘acabou a greve e tudo volta ao normal’. Os prejuízos de algumas atividades vão permanecer durante algum tempo”.