Hospital tem 119 médicos para 30 pacientes, mas vistoria não acha profissionais
A lista de funcionários do Hospital Estadual Eduardo Rabello, em Campo Grande, na Zona Oeste, impressiona com a quantidade de profissionais de saúde para atender os 30 idosos internados na única ala da unidade em funcionamento. São 119 médicos de diferentes especialidades, quatro para cada paciente.
— Apesar de haver um quantitativo expressivo de médicos lotados no hospital, especialmente após a municipalização de hospitais como o Rocha Faria e o Albert Schweitzer, no momento da inspeção, nos informaram que havia um único médico plantonista, mas não conseguimos localizá-lo — relata a promotora Luciana Direito, que recebeu da direção da unidade a lista de funcionários, durante inspeção judicial realizada no último dia 5.
Além da Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Proteção ao Idoso e à Pessoa com Deficiência da Capital do Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), participaram da vistoria a juíza da 13ª Vara de Fazenda Pública, Luciana Losada, procuradores do Estado e representantes da Secretaria estadual de Saúde. A inspeção faz parte de uma ação civil pública ajuizada contra o Estado e o Iaserj.
O número de profissionais de enfermagem lotados na unidade chega a 612, sendo 89 enfermeiros.
— No entanto, familiares de pacientes internados nos relataram que são eles que alimentam os idosos e ajudam os que estão sem acompanhante — diz a promotora.
A escala de plantonistas da única ala em funcionamento e onde há 30 idosos internados tem 13 médicos. Para o dia 22, um domingo, não há médicos escalados. Na realidade, no entanto, parece que isso se repete em todos os fins de semana, apesar de haver uma Unidade Intermediária, onde cinco pacientes estavam no respirador, no último dia 5.
— Os pacientes e seus familiares dizem que não aparecem médicos no fim de semana no hospital — diz Luciana.
São 13 farmacêuticos para uma farmácia sem medicamentos
A lista de funcionários entregue ao MPRJ mostra que 13 farmacêuticos estão lotados no Hospital Estadual Eduardo Rabello, cuja farmácia não tinha um medicamento sequer no dia em que houve a vistoria.
— A unidade não tem orçamento próprio por se tratar de uma autarquia desde que foi subordinada ao Iaserj. Um funcionário nos informou que, há mais de dois anos, não tem antibióticos na farmácia da unidade. Não tem fralda. Tudo é levado pelos familiares dos pacientes, até soro e esparadrapo — diz a promotora.
Sobre a falta de remédios na unidade, a Secretaria estadual de Saúde informou que a “reposição de medicamentos é realizada semanalmente pela SES até que a unidade migre para gestão da Fundação Saúde”.
Como o EXTRA mostrou ontem, problemas estruturais também foram verificados durante a inspeção. Um castelo d’água (reservatório de água elevado) corre risco de desabamento iminente, o que pode comprometer a estrutura de todo o hospital, conforme atestou laudo da Defesa Civil.
A secretaria não respondeu sobre o número de médicos lotados na unidade. Afirmou apenas que “as obras numa ala do prédio, iniciadas em março, estão concluídas” e que o “processo para obras no castelo d’água já foi iniciado”.
Equipamentos abandonados
Em depósitos do Hospital Estadual Eduardo Rabello, uma construção com capacidade para 200 leitos, está abandonada há anos uma enorme quantidade de equipamentos e móveis hospitalares, como camas cirúrgicas, monitores cardíacos, cadeiras de rodas, suportes para soro, além de insumos, como pinças e tesouras cirúrgicas. Produtos novos estão virando sucata, como o EXTRA revelou nesta quarta-feira.
A Secretaria estadual de Saúde informou que o material é oriundo do Iaserj e que aguarda determinação judicial para retirá-lo da unidade.
— Há uma liminar deferida em março determinando que esse material fosse retirado de lá e destinado a hospitais carentes de equipamentos, mas a secretaria não se mexeu — afirma a promotora.