Mecânico preso por engano tinha medo de não ver a filha nascer: ‘Só pensava nisso’
O mecânico Luiz Felipe Neves Gustavo, de 27 anos, está aliviado. Preso desde setembro por engano, sob a acusação de ter atirado contra policiais na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, ele foi solto na terça-feira e poderá acompanhar a reta final da gravidez da esposa, Vivian dos Santos Cabral, de 26, que dará à luz Hellena no próximo mês. Em entrevista ao EXTRA um dia após sair do Presídio Ary Franco, em Água Santa, na Zona Norte, Luiz Felipe contou que “só pensava em sair da cadeia antes de ela nascer”.
— Minha filha vai nascer em janeiro. Minha maior preocupação lá dentro era estar preso nessa data — disse Luiz Felipe, que já é pai de um menino, de 1 ano.
Luiz Felipe contou que, na primeira semana após a prisão, ficou cinco dias sem tomar banho e escovar os dentes, na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica. Já no Ary Franco, segundo ele, a água que os presos bebiam era a mesma usada para tomar banho e limpar vasos sanitários.
— Esses meses que passei preso não vão voltar. Eu poderia ter saído de lá pior do que entrei. Isso acontece com muitas pessoas. Graças a Deus, comigo não foi assim. Eu não desejo para o meu pior inimigo o que eu passei — contou o mecânico.
Em seu primeiro dia de volta à família, Luiz Felipe visitou amigos e parentes. Agora, sua maior preocupação é manter o emprego na oficina onde trabalhava quando foi preso.
— Já entrei em contato com a empresa e vou a uma reunião lá nesta semana. Estou tranquilo porque eles sabem que eu sou inocente — diz Luiz Felipe, que ainda responde por tentativas de homicídio contra 18 PMs. Policiais que participaram do confronto reconheceram, erradamente, o jovem como um dos atiradores por meio de fotografia.
O mecânico foi solto graças a uma decisão judicial após sua defesa comprovar que, no momento do tiroteio entre PMs e traficantes, ele estava trabalhando na oficina onde bate ponto há três anos. Uma folha de ponto anexada ao processo mostra que no horário do tiroteio, por volta das 16h30 do dia 1º de agosto de 2017, Luiz Felipe estava na oficina.
O documento — feito a partir de identificação biométrica — mostra que ele chegou ao local às 8h41, saiu para almoçar às 12h12, voltou do almoço às 13h11 e só saiu da oficina às 18h10. A carteira de trabalho do mecânico atesta que ele trabalha na mesma oficina desde agosto de 2016 como “assistente de montador”, ganhando um salário de menos de mil reais.
A decisão que determinou a soltura de Luiz Felipe é do juiz Daniel Werneck Cotta, da 2ª Vara Criminal da capital, e atende a um pedido do Ministério Público. O promotor Fabio Vieira dos Santos pediu a liberdade de Luiz Felipe porque, segundo ele, “os requisitos para prisão preventiva se enfraqueceram” após analisar os documentos que atestam que o réu trabalha como mecânico.