Governador Rui Costa usa policiais fortemente armados para retirar pais de familia de seus barracos em Massaraduba
Era por volta das 6h desta segunda-feira (28) quando a tropa da Polícia Militar chegou em mais de 10 viaturas à um terreno da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), no final de linha de Massaranduba. Rapidamente os 400 barracos de madeira foram marcados pela Conder com “X” para derrubada imediata e “R” para a retirada dos móveis. Dava-se, então, o início da desapropriação da área, para desespero das famílias.
“Se eu tivesse para onde ir não estaria passando por isso”. A declaração é da ambulante Suelem Santos Lopes, 30 anos, uma das moradoras que teve um “R” marcado na porta do barraco onde vive.
“Chegaram aqui esmurrando as portas, perguntando quem estava morando, dizendo que todo mundo vai sair, tratando a gente como cachorros. A Constituição Brasileira dá direito à moradia”, disse Suelem em prantos, na porta do barraco, enquanto observava a demolição de outras moradias.
Ela mora no local há um ano, junto com os dois filhos pequenos e o marido, o também ambulante Davison de Araújo Costa, 34, que igualmente resiste em sair do barraco. “Um deles (policial militar) ainda me deu um tapa no peito quando questionei o porquê da demolição. Eu não vou sair. Vou deitar nessa cama e só sairei morto”, desabafou.
A PM chegou a usar bombas de gás lacrimogênio para dispersar os moradores – no momento em que a retroescavadeira precisou entrar nos escombros para recolher os restos dos barracos. Foi quando começou o tumulto entre policiais e a população.
Segundo os moradores, a área foi ocupada há cerca de um ano. No início da manhã desta segunda (28), empregados à serviço da Conder retiravam as ligações de energia clandestinas e depois puseram ao chão os casebres – a maioria de um vão – com o uso de martelos, picaretas e outros instrumentos.
Moradores contam que o local estava abandonado, cheio de mato e usado por bandidos para consumo de drogas. “Antes morava de favor na casa de uma tia, aqui mesmo no bairro. Não tenho para onde ir”, declarou a cozinheira Bárbara Evangelista, 38, que teve um “X” marcado na porta do barraco onde mora com o marido e os dois filhos pequenos.
Uma boa parte dos moradores não estavam em casa.
“Muitos aqui sequer estão sabendo do que está acontecendo. Estão trabalhando. Outros já foram informados, mas não puderam vir porque não podem deixar o trabalho. Quem não está aqui, não pode guardar os móveis e tem gente que é de fora que está aproveitando para roubar televisão, ventilador”, disse Rosália Evangelista, 24, prima de Bárbara.
Pernambucano, o desempregado José Cosme Oliveira de Jesus, 40, veio para Salvador atrás de emprego. “Não tenho para onde ir. Eu, minha mulher e meus três filhos estamos na rua agora. A solução vai ser fazer um barraco na maré”, declarou.
Em nota, a Conder informou que a “ação em curso no fim de linha de Massaranduba cumpre uma notificação judicial de reintegração de posse. Nas datas de 9 e 10 de janeiro, as famílias foram oficialmente informadas pela justiça que deveriam realizar a saída voluntária no prazo de 15 dias”.
O órgão do governo estadual destacou ainda que o terreno dará lugar a um condomínio popular, com 174 apartamentos.
“O terreno em questão foi ocupado no primeiro semestre de 2018, apesar da área ser previamente destinada à construção de 174 unidades habitacionais de interesse social com recursos do PAC II. As famílias já cadastradas para receber os imóveis a serem construídos também são provenientes da área de Alagados e atualmente são beneficiárias de aluguel social enquanto aguardam reassentamento definitivo”, informou a Conder em nota.
Segundo a pasta, “a ação coercitiva é de responsabilidade da justiça” e reforça que a atuação da Conder na reintegração “limita-se à prestação de apoio às famílias que hoje ocupam o terreno, disponibilizando caminhões para auxiliar na mudança”.
A Polícia Militar, em nota, destacou que está no local dando apoio na segurança. “Ocorre uma ação de desapropriação de terreno da Conder. A PM está no local apenas em apoio”. A Corporação não informou o número de policiais envolvidos na ocorrência.