Pessoas que fumam apresentam risco maior de contrair tuberculose
Fumantes têm risco 20% maior de contrair tuberculose do que as pessoas que não usam cigarros. É o que aponta um estudo desenvolvido pelo Centro de Pesquisas da Fundação José Silveira. De acordo com a pesquisa, pacientes tabagistas ou com antecedentes de tabagismo também têm 2,1 vezes mais probabilidade de fracasso no tratamento da tuberculose.
O estudo foi realizado com pacientes atendidos no Instituto Brasileiro de Investigação da Tuberculose (Ibit), da Fundação José Silveira, comparando os que fumaram e os que não tinham esse hábito. O infectologista e pesquisador Eduardo Martins Netto explica que os dados apontados pela pesquisa são explicados pela forma como os componentes da fumaça do cigarro interferem nas atividades inflamatória e imunológica. “Por um lado, diminuem a reação humoral e celular (mecanismos de defesa) frente à doença e, por outro lado, aumentam a lesão nos tecidos dos brônquios e a morte celular (apoptose)”, detalha.
O médico acrescenta que outro mecanismo pelo qual o tabagismo aumenta os riscos de ter tuberculose é a interrupção mecânica da função dos cílios da árvore traqueobrônquica, que atuam na limpeza dos pulmões. O Ministério da Saúde define a tuberculose como uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch, que afeta prioritariamente os pulmões, mas também pode acometer outros órgãos e/ou sistemas.
Martins lembra que a tuberculose é considerada uma das dez maiores causas de morte por agente infeccioso no mundo. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2018, o Brasil teve 72,8 mil novos casos da doença e cerca de 4,7 mil mortes. Dados da Secretaria da Saúde do Estado indicam que a Bahia contabilizou 4.750 diagnósticos com 295 óbitos.
O especialista ressalta que não há margem segura para o uso de cigarros, mas o grupo com maior risco de desenvolver tuberculose é formado por aqueles que fumam ao menos um cigarro diariamente ou fumaram pelo menos um cigarro nos últimos seis meses.
A pesquisa indicou ainda que o tratamento de indivíduos com mais de 50 anos de idade teve uma possibilidade de fracasso 2,8 vezes maior.
Martins explica que os pacientes diagnosticados com tuberculose devem abandonar o cigarro imediatamente, por conta do risco aumentado de “desfechos negativos, com falência de resposta ao tratamento, abandono do tratamento e óbito”. O infectologista alerta que o tabagismo também está associado ao câncer de pulmão, que, conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é o segundo mais comum no Brasil.
Sintomas
O médico alerta que mesmo os ex-fumantes devem informar sobre esse hábito passado ao médico, pois pacientes com esse perfil requerem a investigação de outros problemas relacionados ao tabagismo, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou o enfisema.
Martins esclarece que a complicação mais comum da tuberculose é a morte, que acontece em cerca de 3% dos pacientes. Segundo o infectologista, o fator central para essa mortalidade é o diagnóstico tardio da patologia. O risco de óbito também é maior quando o paciente não toma a medicação regularmente e acaba desenvolvendo resistência àqueles medicamentos.
Pessoas que apresentem tosse, escarro amarelado e febre baixa no cair da tarde seguido de sudorese noturna por mais de três semanas devem ser submetidas a exames. O médico acrescenta que as perdas de peso e de apetite são bastante comuns entre os pacientes.
Atualmente, o método mais usado para o diagnóstico é o exame do escarro, que consiste na coleta do material para análise da presença do bacilo, conta o especialista. Nesse caso, a identificação do agente causador da tuberculose pode ser feita por dois diferentes métodos, um deles oferece resultado em até duas horas. “Estes são os dois principais métodos, existem outros, como a cultura, o teste auxiliar que é o de raios-X do tórax, dentre outros”, complementa Martins.