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29 November 2024

Moro autorizou ‘devassa’ na vida de filha de alvo da Lava Jato para tentar prendê-lo

O Ministério Público Federal (MPF) pediu duas vezes ao então juiz Sergio Moro operações contra a filha de um alvo da Lava Jato que vive em Portugal, a fim de forçá-lo a se entregar. É o que apontam  mensagens de Telegram trocadas entre procuradores e entregues ao portal The Intercept por uma fonte anônima. O material foi publicado hoje (11), na série de reportagens denominada Vaza Jato.

A filha do investigado era titular de contas no exterior que receberam propinas. O plano dos procuradores era criar um “elemento de pressão”, como foi dito pelo procurador Diogo Castor de Mattos, sobre o empresário luso-brasileiro Raul Schmidt.

O MPF apelou a Moro mirando na filha do investigado e queria que o passaporte de Nathalie Angerami Priante Schmidt Felippe  fosse cassado, para que ela fosse proibida de sair do Brasil.

Na primeira tentativa, Moro vetou a manobra. “Apesar dos argumentos do MPF, não há provas muito claras de que Nathalie Angerami Priante Schmidt Felippe tinha ciência de que os valores tinham origem ilícita e/ou eram fruto de atos de corrupção”, disse o então juiz, em um despacho.

A tentativa frustrada dos procuradores de cassar o passaporte de Nathalie para pressionar o pai a se entregar ocorreu em fevereiro do ano passado. A justiça portuguesa havia determinado o cumprimento da extradição do empresário Para o Brasil no mês anterior, mas ele não foi localizado onde morava, em Lisboa.

Em maio daquele ano, após novo fracasso em buscas por Raul Schmidt em Portugal, a Lava Jato voltou a apresentar o pedido a Moro. Desta vez, sem que houvesse qualquer suspeita adicional contra ela, o juiz resolveu alterar o posicionamento e aprovou a solicitação do MPF, que incluía uma “varredura” na casa, nas comunicações e nas contas de Nathalie.

Os policiais cumpriram o mandado de busca e apreensão na casa da filha do investigado, no Rio de Janeiro. A defesa do empresário alegou que ela foi coagida pela Polícia Federal, na ocasião, a dizer onde o pai estava. O plano dos procuradores, no entanto, não teve tempo de ser testado. No mesmo dia, Raul Schmidt conseguiu extinguir seu processo de extradição em Portugal. A Lava Jato busca até hoje trazê-lo ao Brasil.

Nathalie foi denunciada pela Lava Jato por lavagem de dinheiro pela compra do imóvel em Paris no final de 2018, mas o caso corre, até hoje, sob sigilo.

Questionado a respeito do caso, o Ministério Público Federal (MPF) alegou que “os procuradores da força-tarefa Lava Jato formulam pedidos cautelares ou denúncias apenas quando estão presentes os requisitos legais”, e que “Nathalie Schmidt foi beneficiária de contas secretas que receberam milhões de dólares ilícitos no exterior, podendo estar sujeita, por tais condutas, a sanções criminais”.

Já sobre as ameaças relatadas pela defesa de Nathalie Schmidt a Polícia Federal disse que “supostos envolvidos, caso intimados, devem se manifestar em juízo para apresentarem suas versões”.

O ex-juiz Sergio Moro também foi procurado para comentar o caso, mas não respondeu até a publicação.