Matheusa recebeu garrafa de água com ecstasy em festa, diz testemunha à Justiça
Uma testemunha revelou à Justiça que Matheusa Passarelli consumiu água com ecstasy durante uma festa, horas antes de ser morta por traficantes no Morro do Dezoito, em Água Santa, Zona Norte do Rio, em abril do ano passado. Em audiência na 1ª Vara Criminal, no último dia 17 de setembro, a testemunha — que morava na casa onde acontecia a festa à época — disse que uma convidada deu uma garrafa de água com ecstasy para a estudante. A testemunha, entretanto, não soube dizer se Matheusa sabia que havia droga na bebida. De acordo com a investigação do caso, a estudante saiu do local demonstrando “intenso descontrole emocional” e correu, nua, em direção ao Morro do Dezoito.
“Eu fiquei sabendo este ano que tinha MD (na festa), e uma pessoa deu uma garrafa de água com MD para a Matheusa. Não fiquei sabendo disso na época. Não presenciei a cena. Só soube este ano”, disse a testemunha, citando a substância MDMA (sigla para 3,4-metilenodioximetanfetamina), uma versão mais forte do ecstasy.
A juíza Viviane Ramos de Faria, que participava da audiência, pergunta quem é a pessoa que entregou a garrafa. A testemunha cita dois apelidos da convidada e diz que ela, atualmente, não mora mais no Brasil.
“Essa pessoa pediu para não ser citada na delegacia. Achei estranho na época ela, que é uma pessoa do movimento LGBTQ, não querer se envolver nisso. Quando eu soube dessa informação, entendi porque ela não queria se envolver”, respondeu a testemunha, que disse não ter visto Matheusa consumir outras drogas no dia da festa.
O relatório final do inquérito da Delegacia de Descoberta de Paradeiro (DDPA) aponta que Matheusa foi a uma festa na madrugada de 29 de abril de 2018 na Rua Cruz e Souza, no Encantado, para fazer uma tatuagem na aniversariante. Na época, segundo depoimentos de amigos à polícia, a estudante do curso de Artes Visuais da Uerj passava por dificuldades financeiras e precisava do dinheiro que ganharia pela tatuagem. Durante a festa, no entanto, a amiga desistiu de ser tatuada, o que decepcionou Matheusa, que passou a “demonstrar intenso descontrole emocional”, segundo o relatório.
Quando foi levada pela aniversariante à porta da casa para ir embora, Matheusa a abraçou e saiu correndo em direção à rua, deixando sua bolsa e seu celular. Após deixar a casa, a estudante percorreu uma distância de 1,6km até chegar ao Clube da Várzea, próximo ao acesso do Morro do Dezoito. Todo o trajeto foi refeito pela DDPA, que coletou imagens de câmeras de segurança que mostram Matheusa correndo, nua, pelas vias. Além disso, agentes da especializada ouviram moradores do local, que contam ter visto a estudante entrando desorientada na favela.
Ontem, o EXTRA revelou o depoimento gravado em vídeo de Manuel Avelino de Sousa Junior, conhecido como Peida Voa, acusado de ter matado a estudante. Na filmagem, feita na DDPA, Manuel confessa que deu dois tiros em Matheusa e revela que, após o homicídio, o corpo da estudante foi esquartejado e queimado num tonel no alto da favela.
“Ele tava andando na rua pelado. Fui lá interrogar ele. Não conseguia falar o nome, endereço, lugar onde morava nem nada. Eu falei que ia arrumar ajuda para ele. Só que ele não aguardou e reagiu tentando tirar o fuzil de mim, botando a mão no meu pescoço e me empurrando. Peguei a pistola e dei tiro nele. Um tiro de pistola e um tiro de fuzil”, contou Manuel, se referindo à Matheusa pelo gênero masculino. A estudante se identificava como não-binária — termo usado por pessoas cuja identidade de gênero não é nem masculina nem feminina.
Além de Manuel, outros dois traficantes foram acusados pelo homicídio e ocultação de cadáver de Matheusa: Genilson Madson Dias Pereira, o GG, e Messias Gomes Teixeira, o Feio. GG foi morto numa operação da PM no Morro do Dezoito em março. Feio está preso.