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27 September 2024

Maia critica Guedes e diz que vai priorizar pauta anticrise nos próximos 45 dias

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a falta de respostas imediatas do governo e a possível tentativa do ministro Paulo Guedes de transferir para o Congresso a responsabilidade pelo enfrentamento da crise econômica intensificada pelo avanço do coronavírus. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Maia disse que os parlamentares se frustraram com o ministro pela falta de propostas de curto prazo durante sua apresentação em reunião de emergência realizada na Câmara na noite de quarta-feira (11).

“Guedes não tinha uma coisa organizada ou não quis falar. Se olhar os projetos, tem pouca coisa que impacte a agenda de curto prazo ou quase nada”, criticou. O presidente afirmou que a agenda do Congresso nos próximos 45 dias será focada no combate aos efeitos econômicos do coronavírus.

Na avaliação dele, nem as reformas nem a lista de projetos considerados prioritários enviada por Guedes na terça oferecem soluções de curto prazo requeridas pelo momento. “A reforma administrativa estar atrasada incomodava até 15 dias atrás”, afirmou.

Para Rodrigo Maia, Guedes terá agido de forma “medíocre” se tiver pensado em transferir a responsabilidade para os parlamentares sobre a solução da crise ao ter cobrado a votação da agenda econômica. “Não posso acreditar que um homem de 70 anos, com a experiência dele, tenha mandado isso com essa intenção. A crise é tão grande que a gente não tem direito de imaginar que o ministro da Economia de uma das maiores economias do mundo possa ter pensado de forma tão medíocre.”

Segundo, incomoda e angustia o Congresso saber que o governo não tem plano de contingência para superar essa crise e os impactos dela na vida das pessoas na economia. “Queremos que o governo construa as soluções que vão minimizar os efeitos na saúde pública e na crise na vida das pessoas na área econômica área social. O governo precisa liderar isso”, cobrou.

Ontem à noite, o Ministério da Economia anunciou medidas para combater o impacto que o coronavírus tem trazido para a economia brasileira. Uma das medidas será a antecipação do pagamento de R$ 23 bilhões referentes a parcela de 50% do 13º salário aos aposentados e pensionistas do INSS.

Veja os principais pontos da entrevista concedida por Maia aos jornalistas Leandro Colon e Julia Chaib, da Folha:

Frustração com Guedes
“O que preocupou os parlamentares é que certamente teremos impacto de curto prazo e que essas reformas de médio e longo prazo não vão resolver. Temos uma crise de pandemia de um vírus que começa a crescer no Brasil. […] O que incomodou os parlamentares é que não sentimos e não vimos, se ele [Guedes] não podia falar ou se ainda não organizou, as soluções para os problemas de curto prazo, como nos setores da aviação civil e de serviços.”

Saúde e economia
“São dois eixos: como impacta a saúde dos brasileiros e como impacta a vida econômica e social. São duas urgências. Essa primeira está bem organizada. Por outro lado, como o governo vai reagir em relação à queda da atividade e a algum risco de perda de emprego? Essa parte incomodou os deputados e senadores. A falta dessa parte. Essas variáveis de curto prazo é que eu acredito que os deputados e senadores sentiram falta na apresentação do Guedes.”

Mediocridade
“Não posso imaginar que, numa crise desse tamanho, o ministro tenha encaminhado uma lista de 19 projetos para transferir a responsabilidade para nós. Não posso acreditar que um homem de 70 anos, com a experiência dele, tenha mandado esses projetos com essa intenção. Não acredito nisso. A crise é tão grande que a gente não tem direito nem de imaginar que o ministro da Economia de uma das maiores economias do mundo, o com mais poder desde a redemocratização, possa ter pensado de forma tão medíocre. Eu tenho certeza de que não. […] Queremos que o governo construa as soluções que vão minimizar os efeitos na saúde pública e na crise na vida das pessoas na área econômica área social. O governo precisa liderar isso.”

Desconforto
“Entre uma pressão do Guedes e o risco de perder a vida de brasileiros com o vírus, somado ao risco de ampliação de desemprego no Brasil, não vou estar preocupado se ele fez isso para pressionar. Essa não é a pressão que nos incomoda. A que nos incomoda é a gente ainda estar desconfortável em relação à resposta que o poder público, os três Poderes, precisa dar.”

Agenda contra coronavírus
“A reforma administrativa estar atrasada incomodava até 15 dias atrás. Hoje, o que me angustia e preocupa é, sob a liderança do Poder Executivo, mostrar à sociedade brasileira uma união para superar os próximos seis meses. O que incomoda e angustia é que a gente ainda não tem um plano de contingência para superar essa crise e os impactos na vida das pessoas na economia. A reforma administrativa não é parte dessa solução. Nos próximos 45 dias, nossa prioridade vai ser a agenda com o governo e o Supremo para superar essa crise. […] Em relação ao curto prazo, ele [Guedes] não tinha uma coisa organizada ou não quis falar de anúncio a ser feito pelo presidente. Se você olhar os projetos, tem pouca coisa que impacta a agenda de curto prazo ou quase nada. Temos um problema de seis meses.”

Derrubada do veto ao BPC
“Trabalhei para manter o veto e disse aos parlamentares que havia sido um erro a votação. Todo o mundo sabia que a crise do vírus estava crescendo. Nós estaríamos apenas colocando lenha na fogueira e de alguma forma ajudando o governo a fazer um discurso de transferir responsabilidades para o Legislativo. O momento de gerar uma despesa de forma racional ou menos racional foi completamente equivocado. Geramos uma despesa de R$ 20 bilhões e sinalizamos que pode ter um risco de desorganização da pauta pelos próximos seis meses. Aí eu falo, como se faz para votar a PEC do Fundeb na próxima semana? Além do erro de ter votado um projeto que a gente sabe que não tinha previsão orçamentária.”

Retaliação
“O resultado acho que não foi uma retaliação ao protesto porque ninguém é contra o protesto. Foi uma retaliação a esse ambiente que dá a impressão de que alguma forma o governo estava patrocinando uma manifestação contra o Poder Legislativo. Pode ter sido isso, talvez.”

Recurso do governo
“Eu não posso tomar uma decisão que vá contra a decisão de 300 deputados. Mas eu acredito que o Poder Executivo está certo e tem as condições de questionar uma decisão que vai de fato desorganizar o Orçamento público brasileiro.”