Primavera inspira cuidados com a saúde mental
De acordo com a psicóloga Ana Luiza Rubini, do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Aristides Novis, no Engenho Velho de Brotas, o ato de cuidar de uma planta proporciona um momento de reflexão e desperta no indivíduo a vontade de cuidar de si. “O paciente adoecido que esquece de se cuidar pode ser estimulado por uma flor. Quando você cuida, lembra que tem que se cuidar também, lembra que precisa beber água, tomar seus remédios, está feliz consigo mesmo”, explicou.
Na unidade em que a psicóloga atua, há um jardim e uma horta. Os espaços são ofertados aos pacientes que se sentem bem em contato com a natureza para ter um momento de foco ou relaxamento. Ela explica que a observação dos ciclos das plantas – como das hortaliças que estão florescendo nessa época – e o cuidado contínuo são recursos que ajudam os pacientes. Na prática, qualquer indivíduo pode buscar essa conexão com a natureza para tratar sintomas como ansiedade e estresse, mesmo em casa.
Ana Luíza orienta que o ideal é que a planta tenha uma rotina de cuidados. Além disso, uma que nunca foi cuidada pelo indivíduo é mentalmente estimulante, porque obriga o cidadão a pesquisar sobre a espécie, buscando informações para definir, por exemplo, o melhor aproveitamento do sol, entre outras questões. “É lidar com paciência, foco, determinação, distribuição de cuidado. Mas a pessoa precisa gostar de planta, porque senão será mais uma obrigação no dia, mais uma tarefa, como lavar os pratos. Tem que fazer sentido para a pessoa”, pontuou.
No cultivo específico de flores, a profissional explica que há uma identificação entre o indivíduo e a planta que pode ajudar a trazer leveza para a vida. “Aqui em Salvador não temos o costume de comprar flores, mas observe que quando você coloca uma flor em casa ela muda o ambiente. Essa condição estética faz com que, quando você vê o belo, se reconheça, muda o foco da ansiedade, por exemplo, porque passa a focar em ações mais positivas. Quando muda o foco, abre os olhos para oportunidades para lidar com um momento difícil”.
Horta – Os benefícios de ter uma planta em casa, seja um antúrio ou uma erva como manjericão, se estendem para todos que tem afinidade com a natureza, sem distinção. A nutricionista do CAPS Aristides Novis, Lourdes de Freitas, acompanha os pacientes na horta e afirma que percebe como o vínculo deles com o cultivo impacta positivamente no olhar de cada um sobre a vida.
“Temos mamão florescendo, abacaxi. As borboletas aparecem e os pacientes adoram zelar, tirar foto ou ainda ouvir os pássaros cantando. A horta daqui não é convencional, com alguma atividade programada. Às vezes fazemos plantio ou colheita, regamos ou tiramos a terra, é bem dinâmico. Quando os pacientes entram na horta vão relaxando e esquecendo os problemas. Lá também tem liberdade de expressão”, frisou.
A nutricionista reforçou que há aspectos emocionais no cultivo de plantas, e que na horta a chegada da Primavera marca os indivíduos. “É interessante porque muitos nunca viram uma flor de maracujá, e a estação promove o interesse na horta, no ato de florir, de ver os frutos que virão depois. Lá fora eles têm problemas, mas aqui há o compartilhamento de experiências e harmonia”, afirmou.
Onde encontrar – Caso você queira aproveitar a chegada da Primavera para embelezar a casa ou até mesmo um cantinho no trabalho, mas não deseje se arriscar no cultivo das flores, é possível encontrar arranjos variados em alguns locais da cidade para aquisição.
No Mercado das Flores, localizado no Dois de Julho, por exemplo, há uma variedade de espécies tanto de corte para ornamentar vasos decorativos quando já plantadas. O horário de funcionamento do espaço, administrado pela Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), é de segunda-feira a sábado, das 10h às 16h.