Salvador teve aumento de 10% na média móvel de casos de covid-19 semana passada
A Prefeitura de Salvador ligou um alerta de “luz amarela” após a média móvel de casos de covid-19 registrar, na semana passada, um aumento de 10% no número de ocorrências da doença por data de manifestação dos primeiros sintomas. Em coletiva de imprensa no início da construção de uma escola em São Marcos nesta segunda-feira (5), o prefeito ACM Neto explicou que o número não é um dado “padronizado” e faz parte de um acompanhamento interno da gestão.
Segundo ele, o indicador não necessariamente aponta para uma tendência de crescimento, mas é uma informação que deve ser observada com atenção, já que pode apontar para a necessidade de voltar atrás em algumas reaberturas econômicas.
“Dado padronizado é o que indica a quantidade de novos casos por dia, mas para controle interno, [essa estatística por data de manifestação dos sintomas] é um dado importante porque nos permite um acompanhamento mais próximo da realidade. Não é nada que em termos absolutos deva nos assustar, mas é algo que deve nos colocar em observação. Acende a luz amarela de atenção para todos nós.”, afirmou o prefeito.
A prefeitura tem trabalhado com a média móvel que, ao invés de contar só os casos registrados nas últimas 24 horas, compara os números de uma semana com a outra anterior. “Houve aumento da média móvel de casos a partir do primeiro dia do sintoma”, disse.
O dado da média móvel é uma estratégia que tem sido adotada em quase todo o Brasil. Essa estatística é tida como melhor porque, ao considerar sempre todos os dias da semana, a média pondera o represamento de notificações da doença que costuma acontecer aos finais de semana por causa do não funcionamento de alguns órgãos nestes dias.
Em atenção ao que sinaliza o dado local, o prefeito citou o noticiário internacional que tem revelado aumento de casos em algumas partes do mundo, que já estão novamente impondo restrições — como a volta do fechamento de bares em Paris, na França, e o segundo lockdown em Madri, na Espanha.
“Então, uma série de lugares está tendo que conviver com a alta significativa no número de casos e, consequentemente, com medidas de isolamento e restrição. Tudo isso serve para reforçar a nossa atenção e a nossa preocupação”, continuou.
O final de semana foi considerado pelo prefeito como de relativa tranquilidade em Salvador quanto à ocupação das praias, que estão proibidas de serem usadas nestes dias. O problema maior aconteceu no domingo, na faixa entre Piatã e Itapuã, onde pessoas desrespeitaram as regras e foram alvo de ação da Guarda Municipal e da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop).
Médico emergencista e vice-presidente da Cooperativa de Atendimento Pré-hospitalar (Coaph), Valderi Júnior comenta que, diferente dos países europeus, onde predomina o frio e nos quais é mais comum que as pessoas tenham o costume de ficar confinadas, no Brasil, sobretudo no Nordeste, há uma dificuldade extra no controle da doença devido à cultura de vida de praia e da sociabilidade marcada por encontros.
“As pessoas estão com sede de liberdade, de encontrar umas às outras. O nosso clima é mais ameno, mas o problema é que ele não se mostrou protetor como se pensava e nós ainda estamos sofrendo muito com a pandemia. O Brasil tem uma extensão gigantesca, então os governos não têm como controlar todas as praias. Aqui, de modo geral, elas são um lazer barato. Enquanto isso, a única coisa que a gente sabe é que, até o momento, a medida que funciona é o distanciamento”, enfatiza.
O prefeito ACM Neto garantiu que, a partir da análise dessa subida nos casos, com o dado que foi obtido neste fim de semana, a prefeitura verá se a situação trata-se de algo pontual ou se tem mesmo relação com uma tendência de crescimento da doença na cidade. O CORREIO buscou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para entender os números absolutos por trás da estatística e para solicitar a base do cálculo, mas não teve resposta.
Procurada por e-mail, a Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab) não informou se tem monitorado fenômenos que podem ter relação com essa alta — como as campanhas eleitorais e as reaberturas econômicas.
“Hoje, se me perguntar o que mais me preocupa é ver muita gente sem máscara na rua. É uma sensação de um certo relaxamento, mas vamos observar o que está acontecendo lá fora: países fechando bares, suspendendo as aulas, decretando lockdown. Tudo isso tem que ser examinado porque a pior coisa para a gente seria retroceder nas conquistas que já alcançamos. Até então, pela prudência que tomamos as decisões, não foi preciso voltar atrás de nada e espero que continuemos assim”, finalizou o prefeito.
VEJA DADOS DA COVID-19 NOS ÚLTIMOS 15 DIAS EM SALVADOR:
Data | Casos acumulados | Óbitos | Ocupação geral das UTIs | UTI adulto | UTI pediátrica |
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20/09 | 83.413 | 3.393 | 42% | 44% | 44% |
27/09 | 85.481 | 3.544 | 45% | 42% | 56% |
04/10 | 86.467 | 3.669 | 44% | 41% | 67% |
Fonte: Boletim epidemiológico/Sesab