Do outro lado da mesa, o governo permanece cético em relação à greve. Representantes do Ministério da Infraestrutura conferem a iniciativa a “associações isoladas” e dizem que as entidades que aderiram publicamente à paralização até agora têm baixa representatividade entre a categoria.
“A Associação Nacional do Transporte Autônomos do Brasil (ANTB) não é entidade de classe representativa para falar em nome do setor do transporte rodoviário de cargas autônomo e que qualquer declaração feita em relação à categoria corresponde apenas à posição isolada de seus dirigentes”, disse a pasta à CNN.
Na última semana, porém, o Conselho Nacional de Transportes Rodoviários de Cargas (CNTRC) enviou um ofício ao governo confirmando a paralisação. Diante de um governo que se recusa a negociar com essas entidades, cresce a preocupação de economistas, empresários e investidores diante do impacto econômico e social que uma greve como esta pode causar.
“Ninguém descarta a possibilidade de uma greve, acho que existe adesão, sim. E o impacto de uma paralisação agora, nos moldes da que houve em 2018, seria devastador”, avalia André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica Consultoria.
Peso maior no bolso dos mais pobres
Para Galhardo, o primeiro golpe seria sentido em produtos que já estão com o preço distorcido, o que afeta justamente as classes mais vulneráveis da população.
Como já demontrado por dados recentes do Ipea sobre a inflação, o preço de alimentos e do combustível, por exemplo, tem pesado mais no bolso dos mais pobres: 6,2% frente a 2,7% dos mais ricos.
“Quando você olha o impacto por faixa de renda, quem ganha menos dinheiro no Brasil são justamente as pessoas mais prejudicadas pela flutuação dos preços. São essas camadas que vão sofrer mais, se houver uma paralisação”, diz Galhardo.
Dependência do transporte rodoviário
A professora e coordenadora do Centro de Excelência em Logística e Supply Chain da FGV Priscila Miguel explica que o impacto de uma paralisação de caminhoneiros toma proporções enormes por causa da dependência que o país ainda tem em relação à distribuição de cargas.
“Em termos de transporte, o Brasil é extremamente dependente do transporte rodoviário. Cerca de 60% é transportado dessa forma. É um país sobre rodas, muitas coisas são transportadas por caminhões”, reforça.
Ela explica que, na pandemia, com o fortalecimento do e-commerce, muitos produtos passaram a ser distribuídos em pequenas rotas, feitas de moto, mas que essa não é a realidade de todas as mercadorias e que existe uma parte do trajeto que invariavelmente depende dos caminhões.
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