Conheça a história de Cacau Tabatchnik, que passou de vítima de violência à instrutora de mulheres que querem aprender a se proteger
Depois de presenciar violência doméstica na infância, ser abusada sexualmente na adolescência e viver um relacionamento abusivo na fase adulta, a produtora de moda, digital influencer e instrutora de armamento e tiro, Cacau Tabatchnik, 41 anos, criou o projeto Apodere-Se Woman Defense para capacitar mulheres a se protegerem de agressões através de técnicas de defesa pessoal e aulas de tiro.
“Eu venho de uma família na qual cresci vendo a violência doméstica entre meus pais, eu assisti cenas de horror até os meus 17 anos, nessas cenas se incluem armas de fogo como forma de ameaça. Desde então eu passei a ter trauma de armas, eu não gostava de armas”, conta a instrutora.
Nascida em Recife, PE, Cacau mora em Salvador há 10 anos e conta que já obteve uma medida judicial protetiva contra a violência do ex-companheiro há três anos, mas que, felizmente, a decisão foi respeitada. “Foi daí eu comecei a me engajar e ajudar outras mulheres. Dessas que já ajudei, algumas não sobreviveram”, lamenta. Apesar da situação delicada que viveu, a digital influencer procura ter uma visão mais positiva e transforma a situação de dor em força para ajudar outras pessoas.
“Quando passo por alguma situação, sempre me pergunto: “para quê?” e não “por quê?”. Eu passei por isso para sair do local de vítima e poder ajudar outras mulheres a não passarem pelo que eu passei e por coisas piores, não virem a óbito como muitas e muitas que a gente vê todo dia”
Cacau conta que começou a fazer psicoterapia transpessoal sistêmica, uma metodologia de ação prática e profunda do corpo, mente e espírito, uma ajuda terapêutica para conseguir se curar dos traumas em relação à violência doméstica. Hoje ela faz pós-graduação na área.
De traumatizada para atiradora
A produtora de moda não era atiradora, mas foi contratada por um clube de tiro para se tornar digital influencer da instituição e atrair mais mulheres para esse universo. “Foi assim que eu tomei gosto, perdi meu medo de arma, quebrei o bloqueio e vi que eu poderia usar a minha quebra de bloqueio para me defender”.
A atiradora tem posse de arma e Certificado de Registro do Exército e acredita que toda mulher que tem medida protetiva deveria ter a legalização do porte de arma de imediato. “É um projeto de lei que já levei para alguns legisladores e estou tentando fazer dar certo. A grande maioria das vezes não existe segunda chance, quando o homem ultrapassa a medida protetiva ele já vai para matar e se a mulher sabe se defender, ela tá armada. É uma questão de salvar a própria vida.”
Moda e armas
A instrutora de tiro já sofreu preconceito e perdeu algumas parcerias do mundo da moda e beleza por causa do uso de armas. “As pessoas ainda tem muito preconceito com armas de fogo por pura falta de conhecimento, mais ainda pelo “atual significado político” que estão atribuindo”, conta.
Sobre a questão de pessoas comuns terem algum tipo de armamento, Cacau é a favor, mas ressalva: “Quando o cidadão registra uma arma, quando pede autorização, está assumindo toda a responsabilidade, então, a pessoa não tem uma arma para matar, ela tem para se defender. Se ela tiver que se defender matando alguém, eu acho que a defesa da vida está em primeiro lugar”.
A recifense que pratica jiu jitsu e muay thai diz que já precisou usar técnicas de defesa contra homens, mas arma, não. Ela reforça que todos precisam passar por uma bateria de testes e exames para ver se o cidadão é habilitado a ter uma arma de fogo. “Assim como para dirigir um carro, que também é uma arma, não é qualquer pessoa que é habilitado para dirigir e não é qualquer pessoa que é habilitado para ter uma arma, mas a grande maioria das pessoas, sim” explica.
O curso
O curso de tiro, que pode ser para homens e mulheres, tem cerca de seis horas e inclui regras básicas de segurança, legislação de arma, balística e manuseio. O aluno só efetua disparos, que é a finalização do curso, depois que dominar totalmente o manuseio na teoria.
No caso do curso feminino, acrescenta mais uma hora aula de defesa pessoal baseada no Krav Maga, técnica que usa o próprio corpo para se defender. “A gente ensina golpes básicos para que a mulher se defenda de algumas situações, como por exemplo, de um enforcamento ou outro tipo de agressão de violência doméstica”. O curso custa R$ 600.
Mensagem para as mulheres
“Tome consciência de quem você é não se aperte para caber em lugares pequenos porque você é grande. Não se aperte para caber em roupas pequenas, em padrões pequenos, em corações pequenos. Apodere-se daquilo que é seu por direito, daquilo que Deus fez você para ser: uma grande mulher”, finaliza Cacau Tabatchnik.