Encontro com Alckmin, França, Kassab e Skaf tem gritos de ‘tchau, Doria’ e críticas ao governador
O nome do governador João Doria (PSDB) não constava na lista de convidados, mas foi o mais lembrado em evento que reuniu neste sábado (25) o ex-governador Geraldo Alckmin (de saída do PSDB), o ex-governador Márcio França (PSB), o presidente do PSD, Gilberto Kassab, e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (MDB).
Realizado no plenário da Câmara Municipal de Cajamar, cidade da região metropolitana da capital paulista, o primeiro encontro regional das juventudes do PSB e PSD reuniu políticos que apoiam Alckmin para o governo do estado e se opõem ao atual governador.
Márcio França, que ainda não definiu se lançará candidatura própria ou se irá compor chapa com Alckmin, foi o mais vocal na ofensiva contra Doria. “Estou para encontrar um sujeito que votou nesse cara e acha que ele está indo bem. Nem na família dele a gente encontra. É por isso que nós temos que falar: Tchau, Doria”, afirmou o ex-governador, que encorajou o coro “tchau, Doria” entre os presentes.
O pessebista ainda afirmou que o tucano não possui amigos de longa data -“alguma coisa está errada”, disse-, e chamou seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), de “Dorinha”.
“Metade [do Brasil] gosta do [ex-presidente] Lula, do PT, desse povo. Metade não gosta. Outra metade gosta do [presidente Jair] Bolsonaro, outra metade não. O único homem que pode unir o Brasil é o João Doria: 100% não gosta”, disse França, que também responsabilizou o governador pelo número de vítimas da Covid-19 no estado de São Paulo.
O ex-governador e quase ex-tucano Geraldo Alckmin foi mais comedido e não citou o nome de Doria ao discursar. Ele, no entanto, endossou as acusações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que tem responsabilizado os governadores pelo aumento no preço dos combustíveis nos estados. Os chefes dos Executivos estaduais negam.
“Reduzir de 25% para 12% a alíquota do ICMS do querosene, do transporte dos ricos [aviões], e aumentar o ICMS do diesel, do ônibus do trabalhador, do caminhão… Vejam o preço que está o diesel do caminhão”, disse Alckmin. “Não é razoável”, completou.
O ex-governador evocou sua campanha à Presidência em 2018 e afirmou que, na ocasião, reuniu economistas para discutir reformas econômicas que pudessem impulsionar o crescimento do país, as quais, segundo ele, ainda se fazem necessárias. Naquele ano, o PSDB teve seu pior resultado em eleições presidenciais, com 4,76%.
“Falta uma agenda para o país voltar a crescer, não ficar discutindo compra de fuzil. Como o povo vai comprar fuzil, que custa R$ 12 mil, se não tem R$ 100 para comprar botijão de gás?”, disse, sob aplausos.
“É por isso que nós estamos aqui. Não fazemos política da pessoalidade, nós fazemos política em benefício da nossa população”, seguiu.
Alckmin lidera a corrida eleitoral no estado com 26% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Em seguida aparecem Fernando Haddad (PT), com 17%; o ex-governador Márcio França (PSB, com 15%, empatado tecnicamente com o petista) e o líder de movimentos de moradia Guilherme Boulos (PSOL, com 11%).
Em um cenário sem Alckmin, o candidato de Doria e vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), aparece em quinto lugar, com 5%. A pesquisa foi realizada de 13 a 15 de setembro com 2.034 pessoas em 70 cidades do estado. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Contrariando as expectativas, Alckmin nem sequer mencionou as tratativas para sua migração rumo ao PSD durante o evento deste sábado —ao contrário de Gilberto Kassab, que usou boa parte de sua fala para reforçar o convite e o apoio ao ex-governador.
“O PSD, espontaneamente, ouvindo todos o seus quadros, procurou Geraldo Alckmin e manifestou a sua posição. Onde ele estiver, caso disponibilize o seu nome para ser candidato a governador, conta com nosso entusiasmo. O PSD estará incondicionalmente ao seu lado”, disse Kassab, que afirmou que a mesa de debates em Cajamar reuniu “o que há de melhor na política brasileira”.
“Estou pronto, Geraldo Alckmin, para no momento [em] que você definir o seu projeto aqui no estado. Junto com o nosso partido, aqui muito bem representado por diversas lideranças que estarão ao seu lado, para que o estado de São Paulo continue sendo referência de modelo de gestão, para ajudar o Brasil a reencontrar o seu caminho”, disse o presidente do PSD.
A deferência do ex-prefeito de São Paulo foi correspondida por Alckmin, que chamou Kassab de “engenheiro politécnico da boa política” e afirmou que ele constrói pontes para beneficiar a população.
À Folha, Kassab disse esperar que Alckmin decida sobre sua filiação ao PSD nas próximas semanas. O ex-governador, por sua vez, afirmou que “ainda é muito cedo” para uma definição.
Durante seu discurso, o presidente do PSD também alfinetou Doria, ainda que sem citá-lo. “Políticos que aumentam impostos, com discursos mentirosos, porque esses recursos estão sendo usados para cooptar lideranças políticas, para fazer publicidade, estão sendo muito mal utilizados”, disse.
Como revelou a Folha, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), multiplicou os repasses de verbas políticas para atender a pedidos de parlamentares em busca de consolidar sua candidatura à Presidência da República em 2022.
O volume de recursos, considerado inédito entre os políticos, beneficia não só seus aliados na Assembleia Legislativa, mas até mesmo deputados federais.
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, criticou o que chamou de “Doria e sua turma” e disse que o momento do país pede união e desapego de vaidades e caprichos. “Vamos estar juntos. Eu diria não por São Paulo, mas, sim, pelo Brasil”, afirmou.
O papel de Skaf no próximo pleito, que também pode ter como destino o PSD, é incerto: ele pode ser candidato ao Senado na chapa de Alckmin ou candidato a governador.
O encontro deste sábado reuniu prefeitos, vereadores e militantes de cidades de todo o estado paulista. Também estiveram lá os deputados federais Fausto Pinato (PP-SP), Rosana Valle (PSB-SP) e Rodrigo Agostinho (PSB-SP).
Segundo os organizadores, o evento reuniu 200 pessoas no plenário da Câmara Municipal e 600 pessoas do lado de fora da Casa, onde foi instalado um telão.
Houve aglomeração no interior da Câmara e todos os participantes que discursaram tiraram a máscara ao tomar a palavra, apesar do ambiente ser fechado e não ter janelas para ventilação -o que, segundo especialistas, aumenta a possibilidade de contágio pelo novo coronavírus.