Data de Hoje
23 September 2024

‘Aquaman do crime’: veja como agia o espanhol que colocava drogas em cascos de navios

Criminosos estão em uma lancha, à procura de um alvo. No caso, um grande navio cargueiro. As embarcações estão atracadas na região portuária de Vitória. Há policiais federais na área. Um dos criminosos repassa para o resto da quadrilha o alerta do bandido que está no comando da lancha: o momento de agir não é agora.

“Não sou eu. É o Pollo. Quer ver o que o Pollo tá falando aqui? Não tem como”, disse um dos criminosos.

 

As imagens fazem parte de uma investigação da Polícia Federal. “Pollo”, como o homem foi chamado, é uma palavra em espanhol que significa “frango”. O criminoso tem também um outro apelido: o super-herói Aquaman, por causa das suas habilidades embaixo d’água. Mas este é o “Aquaman do crime”

Joaquín Francisco Gimenez tem 34 anos e nasceu em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, na Espanha. Ele é mergulhador e sócio de uma empresa em Madri que atua na área de transporte marítimo e construção naval.

'Aquaman do crime' tinha frase famosa do traficante Pablo Escobar tatuada na mão — Foto: Reprodução/TV Gazeta

‘Aquaman do crime’ tinha frase famosa do traficante Pablo Escobar tatuada na mão — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Entre as várias tatuagens de Pollo, em uma lê-se “plata o plomo” – que significa “dinheiro ou chumbo” em espanhol. Uma expressão famosa do traficante colombiano Pablo Escobar.

Nos últimos dois anos, o espanhol passou a vir com frequência ao Brasil. Segundo a Polícia Federal, ele foi contratado pela quadrilha de Marcos Camacho, o Marcola, para coordenar o envio de cocaína para a Europa usando a experiência em estrutura de navios e em mergulhos em alto mar.

“Ele tinha ferramentas apropriadas. Ele tinha um equipamento razoável e ele tinha o principal que era o conhecimento pra fazer esse mergulho”, afirmou o agente Rogério Lages, da Polícia Federal.

 

Para chamar menos atenção, traficantes agiam durante a madrugada na Baía de Vitória — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Para chamar menos atenção, traficantes agiam durante a madrugada na Baía de Vitória — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Para escapar de um flagrante, os traficantes costumam agir de madrugada. A policia levou a reportagem até o local onde os navios ficam ancorados, e onde o “Aquaman do crime” mergulhava.

“Pollo falou que tá tranquilo, tá favorável”, falou um dos criminosos em áudio interceptado.

 

Eram 4h, a visibilidade era baixa, o mar estava calmo e as condições do tempo eram favoráveis à navegação. Havia 47 navios ancorados no Porto de Vitória.

“Chega devagarzinho, motor desligado pra não fazer barulho da lancha e faz o mergulho. E o navio, você não consegue enxergar de cima. Tem um ponto cego no navio. porque tem aquela curvatura natural do navio, casco do navio”, disse o delegado Bruno Zane.

 

Caixa de mar do navio tem grade onde droga era amarrada — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Caixa de mar do navio tem grade onde droga era amarrada — Foto: Reprodução/TV Gazeta

De acordo com as investigações, o espanhol entrava na água e a primeira coisa que fazia era tentar encontrar a chamada “caixa de mar” da embarcação.

“São compartimentos grandes que tem abaixo da linha d’água, são responsáveis pela captação da água pro navio, pra geradores, para motores, pra resfriamento. Ela tem um gradil justamente pra evitar que sejam sugadas objetos grandes que possam interferir no funcionamento do navio”, explicou Lages.

 

A profundidade da caixa de mar pode chegar até cerca de 18 metros, dependendo do peso do navio.

“Eles abrem as grades, colocam a droga dentro, amarram e fecham as grades. Então da parte exterior, você não consegue ver”, detalhou Lages.

Ilustração mostra onde fica a 'caixa de mar' de um navio — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Ilustração mostra onde fica a ‘caixa de mar’ de um navio — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Segundo as investigações, a quadrilha fez um levantamento minucioso das rotas de cada navio, para saber a data exata da saída do porto e o dia da chegada à Europa. Quando os traficantes entravam no mar, eles já sabiam exatamente em qual embarcação esconderiam a carga de cocaína.

A Polícia Federal investiga se o espanhol conseguiu embarcar a droga em navios que saíram de pelo menos dois portos, o de Vitória e o de Santos (SP).