Ensino médio da cidade natal de Jerônimo é o quinto pior da Bahia
O ensino médio de Aiquara, cidade natal do candidato a governador Jerônimo Rodrigues (PT), tem a quinta pior nota da Bahia no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Segundo a mais recente edição do indicador, divulgada no mês passado, o município registrou nota 3,1, abaixo inclusive da média da Bahia, que foi de 3,5, a quarta pior no Brasil entre os 26 estados e o Distrito Federal.
Por lá, pais, alunos e professores reclamam da falta de cuidado e atenção do conterrâneo, que foi, justamente, secretário estadual de Educação entre 2019 e 2022. O município dispõe de apenas um colégio de ensino médio, o Colégio Estadual de Aiquara (CEA), que atende mais de 200 jovens. Nele, professores e alunos ouvidos pela reportagem se queixam de falta de estrutura.
Denunciam que a unidade tem problemas elétricos antigos e que, sem a manutenção feita adequadamente, vão piorando a cada dia. A escola não possui um refeitório, e os jovens almoçam no pátio escolar ou nas próprias salas de aula. A merenda, que obrigatoriamente é adquirida junto a parceiros credenciados pelo estado, que cobram preços exorbitantes, chegam de maneira escassa e pouco variada.
Apesar da estrutura deficiente, o CEA foi transformado em colégio de tempo integral pelo governo do estado. Atualmente, 140 alunos estão matriculados nessa modalidade. Porém, as aulas, que deveriam ocorrer em dois turnos por toda a semana, são realizadas apenas em dois dias. Por uma questão logística das salas de aula e da disponibilidade da refeição, o contraturno foi concentrado às terças e quintas.
“Sabe aquele pai ou aquela mãe que ralou muito para ajudar o filho a conseguir um espaço na vida? E quando o filho chega lá não olha com generosidade para os pais? A gente sente isso daí. Eu acho que ele poderia ter esse olhar mais generoso para o povo da terra dele”, lamenta uma profissional da área da educação aiquarense, que não quis ser identificada.
A reclamação uníssona entre alunos é que os professores acabam acumulando muitas matérias. “A educação em tempo integral tem as disciplinas da base comum e as chamadas diversificadas. E os professores e coordenadores precisam se virar para dar conta de todas as matérias, então acabam assumindo disciplinas em que nunca tiveram uma formação. Infelizmente, isso é comum no tempo integral”, confessa outra profissional que trabalha no Colégio Estadual de Aiquara e que não quis ser identificada por temer represálias.
“O governo do estado, em vez de qualificar as escolas de tempo integral que já existiam desde 2014, eles preferiram sair criando uma por cima da outra, sem estrutura necessária e sem condição. Eu acho que o certo seria dar estrutura para as escolas de tempo integral que já existiam, para que elas servissem de referência. E aí você poderia implantar outras novas depois, seguindo aquele parâmetro”, queixa-se uma das professoras.
Uma moradora da cidade, cujo filho estuda na unidade de ensino, diz que a educação estadual em Aiquara deixa muito a desejar. “Os alunos reclamam muito. Eu tenho uma sobrinha que estuda lá e reclama da merenda e do fato dos professores acumularem muitas disciplinas. Eu tenho um sobrinho, que é professor, e disse que tinha o sonho de que, por Jerônimo ser secretário de Educação e ter nascido na nossa cidade, ele ia dar um suporte maior. Mas, infelizmente, deixou a desejar”, confessa.
Uma das professoras do CEA que foi ouvida pela reportagem diz não recordar do último processo de formação continuada dos professores que foi realizado pela secretaria de educação do estado. Sobretudo, no que diz respeito às disciplinas inseridas na matriz do ensino integral.
Os alunos concordam com as críticas: “Aqui em Aiquara a gente ficou muito feliz quando soube que Jerônimo virou secretário de educação. Mas, eu vejo como uma decepção, sabe? Acabou que a gente foi meio que esquecido”, diz um jovem aiquarense. “Porque aqui é o lugar onde ele deveria fazer história, né? Gente, eu tô na educação, eu sei o que é educação do estado. Queria de verdade poder abraçar ele, poder dizer que é um filho da terra, mas eu não posso fazer por quem não fez nada por mim”, confessa outra aluna.
O único colégio de ensino médio atende também jovens de Palmeirinha, principal distrito de Aiquara, onde Jerônimo nasceu. Quem realiza o transporte dos alunos do distrito até a sede, distante 13 km, é a prefeitura, sem nenhuma ajuda do governo do estado.
Apesar de ter sido transformado em tempo integral, o CEA não recebeu melhorias por parte do governo do estado. A única obra realizada, há três anos, foi para consertar um muro que estava caído há quatro anos. Em julho, já num contexto eleitoral, foi iniciada a construção de um auditório, mas que só tem previsão para ser entregue em março de 2023.
“Eu acho que, nos sete anos em que ele passou como secretário de Desenvolvimento Rural e, depois, na Educação, acho que Jerônimo não teve um olhar generoso com a cidade dele, com o povo dele. Eu acredito que ele teria que começar a história pela cidade dele, pelo lugar onde nasceu. Começa pela tua casa, poxa. Isso foi muito doído para mim, porque a gente sente falta disso”, diz uma professora.
“A forma como o governo do estado vem se comportando com os servidores, não me sinto satisfeita. Não temos perspectivas de crescimento. Veio uma reforma da previdência que foi muito perversa conosco, tivemos o plano de carreira jogado na lata do lixo. E agora, com essa história dos precatórios, outra pancada. Acho que tudo isso veio desgastando a nossa relação com os governantes”, completa outra profissional de educação da cidade.
Município
Por parte da rede municipal, as reclamações de distanciamento do ex-secretário aiquarense são semelhantes. Aiquara dispõe de seis escolas municipais, que dão conta do Ensino Infantil e do Ensino Fundamental. Uma delas, inclusive, fica em Palmeirinha, distrito onde Jerônimo Rodrigues nasceu.
“Aqui a ajuda é a mínima possível, tudo que a gente faz é com recurso municipal. Reforma de escolas, transporte dos alunos dos distritos rurais, pagamento dos funcionários, tudo vem do recurso da prefeitura. Não dão qualquer apoio metodológico e pedagógico, não ajudam no processo de qualificação dos professores. Os municípios são, em geral, muito isolados do governo do estado”, comenta Joilma Brandão, secretária de educação de Aiquara.
Segundo ela, Jerônimo nunca esteve na cidade para tratar da educação oferecida pela rede municipal, que é a porta de entrada para o ensino médio. Mesmo sendo da sua cidade natal e conhecendo boa parte dos profissionais, eles nunca foram chamados a Salvador para uma reunião ou um encontro.