Para líder do PMDB, não é possível dizer se Dilma termina o mandato
Desde que assumiu a liderança do PMDB na Câmara dos Deputados, o escritório político de Leonardo Picciani (PMDB) na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, tornou-se polo de poder em um Brasil com a Presidência da República cada vez mais fragilizada. Nesta segunda-feira, foi dia de falar de política com Rodrigo Maia (DEM) – até o ano passado, opositor voraz de peemedebistas fluminenses e hoje executor de uma reforma política afinada com os interesses de Eduardo Cunha (PMDB).
Conversa vai, conversa vem, quem quer que seja o visitante quer saber os rumos do país neste segundo semestre. E o parlamentar é o primeiro peemedebista relevante a admitir claramente que não tem mais certeza se Dilma Rousseff vai completar o seu mandato. Em uma entrevista ao site de VEJA, Picciani afirma que o partido vai cumprir a Constituição e que não existe mais compromisso com o PT, mas sim com a governabilidade do Brasil.
É nítida a mudança de tom dos caciques do PMDB do Rio de Janeiro: em fevereiro, Jorge Picciani, pai e mentor político de Leonardo, chamava de “golpista” qualquer tentativa de impeachment de Dilma. Hoje, o líder peemedebista afirma que chamar de golpe as análises que o Tribunal de Contas da União e a Justiça Eleitoral farão das contas públicas do governo e da campanha de Dilma “é ver fantasma onde não existe”. Picciani fala ainda da ambição de ser prefeito do Rio de Janeiro – hipótese que deixa ansioso Eduardo Paes, ávido por emplacar logo o seu secretário e braço-direito Pedro Paulo Carvalho. Abaixo os principais pontos da conversa:
É possível garantir que Dilma completa o mandato? Não sei se é possível garantir.
O que deveria preocupá-la mais, o julgamento das pedaladas fiscais no TCU ou as doações de campanha no TSE? Creio que o TCU é mais preocupante. Porque caracterizaria o crime de responsabilidade praticado no exercício do mandato. No caso do TSE, se houver uma decisão judicial dividida (hoje, a expectativa é de equilíbrio na votação das contas da campanha presidencial de Dilma) não será construído o consenso político e social necessário. Já a decisão no TCU não, chamaria o Congresso para o debate, que precisaria julgar as contas. Agora, temos que fazer uma análise técnica, avaliar se de fato as regras foram ou não foram descumpridas.
Não é golpe discutir esses temas com uma presidente eleita no ano passado? Não identifico tentativa de golpe. Quem vê isso neste debate, está vendo fantasma onde não existe. Acho que tem que ser debatido. Mas com seriedade, de forma justa.
Ou seja, quando a questão do TCU chegar ao Congresso, Cunha não atuará como um soldado da base aliada evitar problemas contra Dilma? Ele agirá como a função determina, vai cumprir o regimento da Casa. Creio que ele tem obrigação de deliberar as contas do governo. O Congresso tem se omitido nos últimos anos, desde 1991 pouquíssimas contas foram votadas. Eduardo Cunha vai julgar todas as contas, inclusive as atrasadas.
A oposição, em especial o PSDB, vai tentar o impeachment de Dilma? A oposição está cumprindo o seu papel. Eles tem que marcar seu espaço, causar desgaste ao governo. O que eu creio é que a oposição não deve se açodar, nem por um caminho nem por outro. Tem que aguardar o avanço do cenário político. Hoje o PMDB cumpre uma posição de independência, não nos alinhamos às teses radicais da oposição e nem ao governo.
Aécio Neves disse que o PSDB está “pronto” para assumir o governo. O PMDB também está? Primeiro um fato concreto: não estamos discutindo isso neste momento. Vamos analisar as contas assim que formos chamados para o debate. Agora, o PMDB cumpre a Constituição. Qualquer que seja a decisão baseada na Carta, estaremos prontos para cumpri-la. Não havendo cometimento de crimes ou rupturas da institucionalidade, deve-se mantê-la. Em ocorrendo ou se identificando, deve-se agir dentro da lei e se proceder o que tiver que ser feito.
Você defende que Michel Temer deixe a articulação política do governo, assim como Eduardo Cunha tem feito? Para o Michel prosseguir, precisa ter autonomia – e, hoje, ele não tem. Para ficar como está, é melhor que não continue. Até porque não é tarefa de vice-presidente tocar articulação política. A situação política é muito grave e o governo não tem uma base organizada. Eles erram na tomada de decisões, na interlocução com os deputados e subestimam demais o que deve ser feito na cena política.
Afinal, novamente, Dilma consegue ou não consegue sair desta confusão? Se ela consegue sair, eu não sei.
Na ultima sexta-feira, a bancada do PMDB desembarcou no Rio para uma agenda com o prefeito Eduardo Paes. Foi o primeiro evento da campanha presidencial dele de 2018? Foi uma oportunidade de mostrar o que tem sido feito no Rio. Muitas vezes fica aquele discurso de que o país inteiro paga essa conta e só a cidade se beneficia. Era para fazer essa prestação de contas.
Existe ciúmes com a Olimpíada do Rio? Existe. Mas acho que os deputados saíram daqui com uma consciência diferente, da importância política e histórica do evento. Agora, é evidente que o partido quer ter um candidato a presidente da República. E um dos nomes cotados é o Eduardo Paes. Então era importante que deputados de outros estados o conhecessem.
Que outros nomes são cotados para a candidatura do PMDB em 2018? Fala-se no Paulo Hartung, no Eduardo Cunha, na Katia Abreu…
O PMDB do Rio em 2014 reclamou que o PT foi aliado do governo Sérgio Cabral e lançou a candidatura de Lindbergh Farias contra Luiz Fernando Pezão. Não é incoerente vocês estarem no governo Dilma e dizerem que terão candidato em 2018? São duas questões distintas. Depois de participar por sete anos e três meses do governo, o PT deixou a aliança conosco as vésperas da eleição. Nós estamos alertando para o nosso projeto presidencial no início do governo Dilma e não no final. E é preciso deixar as coisas claras: nosso compromisso não é com o PT, mas sim pela governabilidade. Queremos garantir que o país funcione. Não temos nenhuma afinidade ideológica nem programática com o PT.
O senhor será candidato a prefeito do Rio em 2016? Não sei, essa é uma decisão que cabe ao partido…
O senhor está falando ‘não sei’ há algum tempo. Quando esta decisão vai ser tomada no PMDB (disputam a vaga Picciani e Pedro Paulo, braço-direito de Paes)? Ano que vem. O prefeito tem preferência pelo Pedro Paulo como candidato, mas o partido só vai definir depois. Nossa prioridade agora é ajuda-lo a fazer um bom governo.
Mas você quer ser prefeito do Rio? Quem não gostaria de governar a sua cidade? Mas ninguém é candidato de si próprio. Nem eu sou de mim, nem o Pedro Paulo dele próprio. Este é um processo de construção interno.
Mas quando o Paes colocou seu irmão Rafael Picciani como secretário de Transportes e atuou fortemente para você ser líder do PMDB, ele não resolveu a questão com gestos? O gesto fica sempre registrado e tem valor. Mas o convite ao Rafael foi feito de forma desvinculada a qualquer montagem política, o prefeito deixou isso bem claro. Do contrário meu irmão nem teria aceito o convite. E da minha parte também, sou grato ao que foi feito, mas ele ajudou sem nenhuma vinculação a acordos futuros.
E a possibilidade do seu irmão Rafael ser vice do Pedro Paulo, tirando o posto hoje ocupado pelo PT? O PT sem dúvida não terá a vice no Rio de Janeiro, tenho absoluta convicção que isso não ocorrerá. Caso a escolha do partido seja pelo Pedro, é bastante provável que meu irmão seja o vice sim.
Outra hipótese seria você suceder Eduardo Cunha na presidência da Câmara. O senhor prefere ser prefeito ou presidente da Câmara no futuro? Qualquer uma das funções me deixaria honrado. O destino e a vida mostrarão qual caminho seguir.
Até agora só falamos de cenários com peemedebistas assumindo cargos no Rio. Este é um reflexo da fraqueza da oposição ao grupo político de vocês que vence eleições consecutivas no estado desde 2006? Considero que a oposição ao PMDB no Rio é duríssima. O PSOL tem uma bancada forte, por exemplo. O senador Marcelo Crivella disputou a eleição contra Pezão e teve mais de 40% dos votos, com apoio do ex-governador Anthony Garotinho e do PT. É uma oposição com dois senadores (referindo-se também a Lindbergh Farias). Agora, prefiro analisar os acertos do PMDB, não vencemos porque a oposição erra. Somos vitoriosos porque apresentamos um projeto real de melhoria da vida da população.
O senhor falou de um personagem que muito atacou vocês nos últimos tempos, o ex-governador Anthony Garotinho. Sem mandato hoje e nomeado secretário de Rosinha em Campos dos Goytacazes, o maior rival do PMDB-RJ está morto politicamente? Na política se diz que a pessoa pode morrer mais de uma vez e ressuscitar. Então obviamente não consideramos nem ele nem ninguém morto definitivamente.