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26 November 2024

Temor com China faz pontuação da Bovespa em dólar cair ao menor nível em 10 anos

Temor com China faz pontuação da Bovespa em dólar cair ao menor nível em 10 anos

Tombo nas ações e disparada da moeda americana fez valor da Bolsa em dólar recuar abaixo do nível da crise global

É um grande movimento de contágio. Um problema maior de desaceleração na China vulnerabiliza os países emergentes, que já estão frágeis e têm um peso importante para o crescimento global. E se há um problema que abale a situação dos emergentes, isso tem uma implicação nos países desenvolvidos — explicou José Mauro Delella, Superintendente do private banking do Santander.

Para os emergentes, o canal de contágio acaba sendo via cotação do dólar. Isso porque as moedas locais acabam ficando mais fracas quando os preços dos principais produtos exportados, as commodities, estão em patamares baixos. O peso colombiano e o rublo russo são as moedas que mais perdem nesta segunda-feira em relação ao dólar, com desvalorizações em torno de 35. Na máxima do pregão, o dólar comercial no Brasil atingiu o valor de R$ 3,57, o maior valor durante um pregão desde os R$ 3,6004 do dia 5 de março de 2003, ou seja, uma nova máxima em mais de 12 anos.

Na visão de investidores, o governo chinês não sinalizou com apoio suficiente para o mercado acionário no país, embora pela primeira vez os fundos de pensão tenham sido autorizados a investir em ações. Apesar disso, a Bolsa de Xangai caiu 8,5% nesta segunda-feira. A Bolsa de Hong Kong recuou 5,2%, a sétima queda consecutiva, e a Bolsa de Tóquio registrou baixa de 4,61%.

— Um desaquecimento acentuado na segunda maior economia do mundo tende a trazer impactos relevantes sobre o preço das commodities, com efeitos danosos sobre os países emergentes, em especial os exportadores como o Brasil — explica Marco Aurélio Barbosa, estrategista da CM Capital Markets. Além disso, investidores e economistas estão com dúvidas sobre a real desaceleração da economia chinesa, acreditando que ela pode ser mais acentuada do que o divulgado pelo governo de Pequim.

INDICADOR DE RISCO CHEGA A MAIOR VALOR DESDE 2009; JUROS FUTUROS DISPARAM

Esse movimento de aversão ao risco faz com que a Bolsa voltasse aos níveis de 2009 (em reais). Na mínima do pregão, o Ibovespa chegou a 42.972 na pontuação em reais, menor nível desde os 41.977 de 2 de abril de 2009, quando os mercados ainda sofriam os efeitos da crise financeiro global.

As ações da Petrobras despencam nesta segunda-feira. Os papéis preferenciais (PNs, sem direito a voto) recuam 3,61%, cotados a R$ 8,01, e os ordinários caem 2,71%, a R$ 8,96. Mas a cotação dos papéis chegou às mínimas de R$ 7,53 e R$ 8,35, respectivamente. No caso da Vale, a queda é de 5,87% nas PNs e de 4,79% nas ONs. Chegou, porém, a ultrapassar os 7%.

Os bancos, que possuem o maior peso na composição do Ibovespa, também caem forte, mas em ritmo inferior ao registrado pelas empresas exportadoras de commodities. As ações do Itaú Unibanco caem 2,72% e as do Bradesco recuam 3,09%. Os papéis do Banco do Brasil caem 3,36%.

O mau humor também impacta as taxas dos contratos futuros de juros, os DIs, que disparam em todos os vencimentos indicando pessimismo dos investidores com a perspectiva futura. O contrato com vencimento em janeiro de 2017, avança 240 pontos-base, subindo de 13,81% para 14,05%. O contrato mais curto, com vencimento em janeiro de 2016, tem alta de 45 pontos-base, para 14,22%, enquanto o com prazo em janeiro de 2021 avança 140 pontos, a 13,81%.

Tanto pessimismo refletiu no Credit Default Swaps (CDS) referente ao Brasil, que é uma espécie de seguro contratado pelos investidores de títulos soberanos e representa, na prática, uma medida de percepção de risco. O CDS brasileiro com vencimento em cinco anos saltou de 332 para 359 pontos nesta segunda-feira, o maior patamar desde 2009, segundo dados da CBIN compilados pela Bloomberg.

BOLSAS GLOBAI DESPENCAM; PETRÓLEO RENOVA MÍNIMAS

As Bolsas nos mercados desenvolvidos também são afetadas, e investidores já falam em “Segunda-feira negra”. O índice DAX, de Frankfurt, recuou 4,70%, e o CAC 40, da Bolsa de Paris, caiu 5,35%. No caso do FTSE, de Londres, o recuo foi de 4,67%. No Estados Unidos, o Dow Jones cai 1,17% e o S&P 500 tem desvalorização 1,84%.

“As bolsas de valores como um todo são novamente contaminadas e a saída em massa de investidores receosos com a recorrente situação de instabilidade chinesa se torna inevitável”, avaliou, em relatório a clientes, Ricardo Gomes da Silva Filho, analista da Correparti Corretora de Câmbio.

Com as dúvidas em relação ao crescimento da economia chinesa, e a demanda por commodities, os preços do petróleo renovam as mínimas. O barril do tipo Brent recuava 4,44%, a US$ 43,44, mas chegou a tocar a mínima de US$ 43,28, menor nível março de 2009. O petróleo leve americano (WTI), de referência nos Estados Unidos, caía 3,86%, a US$ 38,89 por barril, sendo que na mínima chegou a US$ 38,69.

A forte volatilidade nos mercados fez também com que o Tesouro Nacional suspendesse os negócios no Tesouro Direito. Isso ocorreu devido às fortes oscilações nas taxas de juros dos títulos públicos negociados nessa plataforma. A expectativa é que as operações sejam retomadas a partir das 11h15. Na sexta-feira, suspensão similar já foi praticada.

Essa suspensão ocorre toda vez que a volatilidade no mercado de juros, que em geral responde aos movimentos do dólar. A ideia é proteger o investidor nesses momentos que o risco é maior pela rápida variação dos preços.

 

Por:  Ana Paula Ribeiro / Rennan ssetti/ O Globo