Economia brasileira ainda não atingiu fundo do poço, avalia mercado
Após amargar dois trimestres seguidos de retração, PIB brasileiro deve continuar patinando na segunda metade do ano. Retomada do crescimento deve ocorrer só em 2017
Mesmo após amargar a segunda queda trimestral seguida do Produto Interno Bruto (PIB), a economia brasileira deve continuar patinando nos últimos dois trimestres do ano, segundo economistas consultados pelo site de VEJA. Nesta sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a economia do país retraiu 1,9% no entre abril e junho e 0,7% entre janeiro e março, levando o país a entrar em um quadro de recessão técnica – quando há dois trimestres seguidos de baixa. A queda nos investimentos, aliada ao baixo nível do consumo das famílias – que despencou 2,1% no segundo trimestre -, devem continuar a frear o crescimento até o final de 2015.
“O próximo trimestre será o fundo do poço para a economia brasileira, com queda de 0,2%. Já no último trimestre, devemos ficar perto da estabilidade”, prevê Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados. No final do ano, a consultoria estima uma retração de 2,5%, maior do que os 2,06% de recuo esperados pelo mercado. Para 2016, a estimativa da Rosenberg é de baixa de 0,5%, também mais pessimista do que os 0,24% projetados no último boletim Focus, do Banco Central (BC). Se a economia fechar no vermelho por dois anos seguidos, será a primeira vez que isso acontece na história do país desde que o PIB passou a ser calculado pelo IBGE, em 1948. Segundo os economistas consultados, uma retomada do crescimento deve ocorrer somente a partir de 2017.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) também prevê que o PIB voltará a fechar no vermelho no terceiro trimestre e melhorar um pouco no quarto trimestre. Para o ano todo, o instituto calcula um encolhimento no PIB da ordem de 2,06%. “A economia vai piorar um pouco antes de se recuperar, e essa retomada será lenta e gradual”, avaliou o pesquisador do IBRE/FGV Regis Bonelli. Segundo ele, devido ao “carregamento estatístico” de 2015, o PIB do próximo também deve ter uma ligeira queda.
Bonelli ainda é enfático em dizer que o Brasil está em recessão desde o segundo trimestre de 2014. “Possivelmente, esse quadro vai durar sete trimestres, sendo o período mais longo de recessão já visto”, avalia. No começo do mês, o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da FGV, divulgou um documento em que identificou a ocorrência de um pico no ciclo de negócios no primeiro trimestre de 2014, que representou o fim de uma expansão econômica que durou 20 trimestres – entre o segundo trimestre de 2009 e o primeiro de 2014. Para o Codace, a fase cíclica, marcada pelo declínio na atividade econômica de forma disseminada, é denominada recessão.
O economista Gesner de Oliveira, sócio da GO Associados, aponta três razões para a baixa do PIB. Primeiro, a sucessão de “equívocos” cometidos pelo governo Dilma Rousseff na condução da economia, desde subsídios concedidos a setores específicos ao descontrole da política monetária. Segundo, o modelo de crescimento calcado no consumo se esgotou. “O endividamento das famílias e da concessão de crédito chega a um limite. Não tem como continuar crescendo”. E terceiro, o fator externo, de queda no preço das commodities e da perspectiva de desaceleração econômica da China, principal parceira comercial do Brasil.
“Não é possível continuar com o que vinha acontecendo – empréstimos subsidiados pelo BNDES, controle artificial dos preços, contabilidade criativa. É como se você tivesse tampado a válvula de escape da panela de pressão. Ou você tira o dedo ou ela explode”, afirma Gesner.
Luz no fim do túnel – Os economistas também são unânimes em dizer que a retomada pelo menos está no horizonte, ainda que não no curto prazo. “Não há mais chance de o consumo crescer devido à alta do inflação e do desemprego. As exportações podem ajudar um pouco por causa do câmbio favorável, mas não é suficiente para puxar toda a economia. Vai depender mesmo de quando as empresas começarem a investir”, avalia Gesner, destacando a importância de por em prática o programa de concessões anunciado pelo governo no primeiro semestre.
Os investimentos caíram pelo oitava vez seguida no segundo trimestre deste ano e chegaram ao menor nível desde 1996. “O governo não tem mais a bala na agulha de antes”, disse Bonelli, referindo-se ao último trimestre de 2008 e ao primeiro de 2009, quando o Brasil também passou por um quadro de recessão técnica. Naquela época, o governo contava com dinheiro em caixa por causa do boom das commodities e conseguiu impulsionar a economia, injetando recursos nas empresas via BNDES e liberando subsídios. “Não temos mais esse dinheiro”, completou Bonelli.
O agravamento da crise política e as dificuldades do governo em promover o ajuste fiscal também tendem a deixar no chão a confiança dos empresários e investidores .”O brasileiro precisa ter uma visão mais clara de como será feito o ajuste fiscal. E o governo precisa de capital político para implementá-lo”, concluiu Thaís Zara