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24 November 2024

Atletas encontram dificuldades para conciliar estudo e esporte

O que vale mais a pena: correr atrás do sonho de ser atleta e arriscar ou se dedicar ao estudo e ingressar em uma faculdade? A resposta não é simples e, escolher entre as duas opções, também não. Milhares de jovens apaixonados por esportes no Brasil precisam em algum momento fazer esta escolha. 

Em busca da realização de um sonho de infância, atletas brasileiros abrem mão do convívio com a família, da rotina com os amigos e, em muitos casos, também da chance de estudar e conquistar um diploma universitário.

Conciliar as atividades esportistas e estudo não é para qualquer um. No futebol, por exemplo, os jogadores fazem viagens semanais, ficam confinados em concentrações e constantemente são transferidos para novas cidades. 

 

De acordo com Alexandre Gallo, coordenador das divisões de base da Seleção Brasileira e técnico da seleção sub-20, estes são alguns fatores que afastam muitos atletas da sala de aula. “É inviável para um atleta conseguir acompanhar e se dedicar a uma faculdade atuando em clubes brasileiros. No nosso país, não existe a facilidade de transitar entre cidades em pouquíssimo tempo, como na Europa. O jogador é muito exigido desde cedo, não temos como culpar. O calendário é um dos fatores que também não permite esse acompanhamento, essa dedicação ao estudo”, explica.  

Seleção de Alexandre Gallo enfrentará combinado do Amapá, formada por profissionais (CBF/Divulgação)

Alexandre Gallo lamenta o pouco tempo que passa com atletas, mas garante que sempre que possível orienta todos a continuar os estudos (Foto: Divulgação/CBF)

Pode até não ser tão comum no mundo da bola, mas alguns atletas driblam as dificuldades e conseguem encarar a faculdade. É o caso do goleiro Victor, recém-convocado para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Quando atuava no Paulista, de Jundiaí, o arqueiro ingressou na faculdade de Educação Física e garantiu o seu diploma. O mesmo caminho é seguido por Gustavo Blanco, meia das divisões de base do Bahia. Aos 19 anos, ele está no 5º semestre de Engenharia Civil e garante que conciliar as duas atividades é possível, desde que haja empenho.

Mas não é só no futebol que os atletas encontram dificuldades. Em outros esportes, a história se repete. Atleta do vôlei de praia desde a adolescência, Moisés Santos, conhecido como “Moca”, chegou a se matricular em uma faculdade, onde ficou por menos de dois anos. Segundo ele, a falta de incentivo ao esporte universitário foi predominante para que a conciliação se tornasse cada vez mais difícil. “Não existe incentivo nenhum. Não dava para treinar, se dedicar ao esporte e aos estudos. Era muito complicado, então fiz a minha escolha”, lamenta. 

Moisés deve deixar o Brasil para defender o Azerbaijão em competição mundial (Foto: Arquivo Pessoal)

Companheiro de Moisés, o servidor público Lucas Guerra, 29, escolheu outro caminho. “Tive de abandonar um sonho, que era o vôlei de praia. Meus pais tiveram uma conversa séria comigo e me fizeram entender que eu precisava fazer uma escolha e, como a vida de atleta é difícil e curta, não quis arriscar o meu futuro assim”, conta. Lucas passou em um concurso público e trabalha no Tribunal Regional Eleitoral da Bahia.

Outros esportes, como o MMA (na tradução, artes marciais mistas), recorrem a projetos voluntários para incentivar os jovens a aprender a lutar dentro e fora do octógono. O ex-campeão mundial de boxe Luiz Dórea, por exemplo, comanda uma academia que atende a comunidade carente de Salvador desde 1990. Para ser aluno de um dos mais renomados técnicos do esporte, basta fazer exames médicos e comprovar que estuda. “É uma forma de estimular que eles não abandonem as salas de aula”, diz Dórea.  

Neilson Gomes dedica a vida ao MMA, sem abrir mão da faculdade de Enfermagem (Foto: Divulgação)

Para tentar evitar que os atletas precisem se submeter a esta escolha, o Ministério do Esporte brasileiro elaborou uma proposta de incentivo ao desporto universitário, usando como inspiração outros países. É o caso dos Estados Unidos, que oferecem bolsas de até 100% para atletas universitários, além de outros países da Europa, que também incentivam o desporto nas faculdades.

Na Bahia, a política de incentivo ao esporte ainda não é unânime nas universidades. Nas instituições particulares, poucas incentivam seus alunos a praticar alguma modalidade esportiva. A União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) e a Faculdade Social da Bahia (FSBA) se destacam por investir em times e possuir complexos esportivos. As duas faculdades também já oferecem bolsas a alunos que se dedicam ao esporte.  

Faculdade Social da Bahia (FSBA) tem parceria com o Vitória e apoia atletas no esporte olímpico e amador (Foto: Divulgação/FSBA)