Rebaixamento da nota de risco do Brasil ocorreu antes do esperado e deve acentuar crise política
Anúncio da queda do rating brasileiro, feito nesta quarta-feira pela agência Standard & Poor’s, era uma ameaça crescente, mas esperada apenas para 2016
Perda do selo de bom pagador aumenta o custo de financiamento de empresas, além de intensificar volatilidade nos mercados de ações e câmbio(Germano Luders/VEJA)
O rebaixamento da nota de risco do Brasil, anunciado nesta quarta-feira pela agência de classificação Standard & Poor’s, era o elemento que faltava para dar cores mais dramáticas às crescentes crises política e econômica do país. O corte da nota era um risco presente, mas esperado – caso ocorresse – apenas para o ano que vem, segundo analistas.
“O mercado apostava que a agência ia esperar um pouco mais. Havia um consenso de que isso iria ocorrer em 2016”, diz Celso Plácido, estrategista da XP Investimentos. “Está muito difícil de governar, e agora acontece um negócio desse. Ganhou-se e perdeu-se o grau de investimento em sete anos. Terá uma pressão política muito grande.”
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A piora do quadro fiscal do país, com a proposta de orçamento para 2016 com déficit de 30,5 bilhões de reais, foi a gota d’água para o rebaixamento, dizem muitos analistas. “Com a divulgação da previsão de déficit, a S&P refez as contas e percebeu que a trajetória do país não estava condizente com uma situação de investment grade (grau de investimento)”, diz Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset Management. De acordo com os analistas, cogita-se elevar impostos para tentar melhorar a situação fiscal, mas o governo parece não ter uma estratégia definida.
Como o rebaixamento já era esperado – ainda que não para 2015 -, há quem acredite que o impacto sobre os mercados financeiros não será tão drástico. “Talvez não tenha grandes reações do mercado porque já era muito esperado, já estava, em parte, precificado”, diz Alexandre Schwartsman, sócio da Schwartsman & Associados e diretor do Banco Central (BC) durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas a opinão não é unânime. “Mesmo que a decisão já estivesse na conta, o mercado deve reagir mal. Todo todo mundo vai olhar com dúvidas sobre o efeito na parte fiscal, se o governo irá se sentir mais pressionado a fazer alguma coisa, a precipitar alguma medida”, afirma José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
A certeza é de que a volatidade continuará nos mercados, com uma possível alta do dólar e dos juros, além de queda na Bovespa. Os reflexos serão sentidos a partir desta quinta-feira. Para as empresas, a consequência é um aumento, ainda que marginal, no custo de financiamento, já que muitos fundos de pensão ou de investimento têm em seu regulamento a proibição de aplicar recursos em países sem o selo de bom pagador. Mas uma piora mais acentuada nesse sentido só deve ocorrer após as outras duas principais agências – Fitch e Moody’s – também rebaixarem a nota do país, o que pode ocorrer, segundo os analistas, ainda este ano.
Surpreendente ou não, o rebaixamento da nota de risco do Brasil exigirá uma resposta imediata – e articulada – do governo, diz Gesner Oliveira, sócio da GO Associados. “É hora de apresentar uma estratégia clara. Mas não basta ser algo de um ministério, de um ministro. Falta um sinal de que o governo consegue um acordo em torno de um programa mínimo de ajuste.” Ele também vê risco de aumento da tensão política. “Isso acentua a crise política, mas serve como uma empurrão à racionalidade. Você está num prédio, no 20º andar, e começou a sentir o calor. Ou tomamos medidas concretas ou nos queimaremos