Deputados acusam Cunha de quebra de decoro
Após a confirmação pelo Ministério Público de que é investigado na Suíça por suspeitas de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi alvo de questionamentos de parlamentares de PSOL, PT, PSB, PMDB e Rede Sustentabilidade. O grupo de parlamentares avalia que ele pode ser cassado por quebra de decoro por ter negado reiteradamente à CPI da Petrobras, no dia 12 de março, possuir contas no exterior.
“Não tenho qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no meu Imposto de Renda”, disse Cunha na ocasião, quando prestou um depoimento espontâneo. A declaração contrasta com investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR). O órgão comunicou oficialmente que o deputado do PMDB e parentes dele têm contas secretas em bancos suíços. A suspeita é que Cunha tenha recebido, na Suíça, propina relativa a contratos da Petrobras, conforme delatado por réus da Operação Lava Jato. Foram bloqueados cerca de 5 milhões de dólares nas contas atribuídas ao peemedebista.
O grupo de deputados apresentou um requerimento em que pede a Cunha informações sobre eventuais contas dele e de familiares. O pedido também será apresentado à PGR e, caso o peemedebista não se manifeste até a próxima semana, os congressistas entregarão ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara uma solicitação para que o presidente da Casa exponha os dados bancários e fiscais.
Essa petição, no entanto, teria de ser aprovada pelo Conselho, comandado por um aliado de Cunha. A estratégia do grupo inclui questioná-lo em todas as sessões para desgastar a imagem dele. Com recortes de jornais e cartazes onde se lia “Cunha não nos representa” e “Não em nosso nome”, nove deputados apresentaram o requerimento.
Na quinta-feira, o presidente da Câmara voltou a ignorar as perguntas dos deputados e passou a maior parte do dia trancado em seu gabinete. O líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ), questionou o presidente da Casa, na tribuna do plenário, mas foi ignorado por ele. “O presidente Eduardo Cunha tem ou não contas secretas na Suíça?”, perguntou. “É cristalino, é simples. Não tenho e se veio algo em meu nome, abro mão disso. Como o deputado Paulo Maluf sempre faz”, afirmou o parlamentar, referindo-se ao deputado Paulo Maluf (PP-SP), que nega reiteradamente ter contas no exterior. “Todos querem essa resposta. É um dever do presidente da Casa se explicar ao plenário.”
O peemedebista cancelou uma viagem que faria na quinta-feira à Itália. Alegou que permaneceria em Brasília para ir ao casamento do senador Romero Jucá (PMDB-RR) neste sábado.