Lula diz que seria desleal pedir o afastamento de Levy
O ex-presidente também disse que não indicou o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o cargo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ter pedido o afastamento do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, à presidente Dilma Rousseff. Em entrevista a Mário Kertész, da Rádio Metrópole, de Salvador, Lula disse que tal movimento seria “desleal”. Ele também disse que não indicou o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o cargo.
“Eu não seria desleal com a Dilma, não seria desleal com o Levy e não seria desleal com o Meirelles. Eu não sou o presidente e não tenho o direito de indicar ninguém. Eu tenho o direito de torcer para que a presidenta Dilma escolha as pessoas mais corretas”, disse, na entrevista realizada na manhã desta sexta-feira (23/10).
Lula afirmou que, quando Levy foi indicado para o ministério, ele argumentou que era a “melhor notícia” que Dilma havia dado desde a vitória da reeleição. “Foi o primeiro momento que a imprensa falou com carinho de uma indicação da Dilma”, destacou. “E ele (Levy) tem a responsabilidade de fazer o ajuste, agora ele também não tem o controle do Congresso Nacional”, ponderou. “Se a Dilma quiser ficar com Levy, ela fica; se quiser tirar, ela tira. Eu vou continuar apoiando, torcendo para o governo dar certo. Porque, se o governo não der certo, quem perde não é a Dilma, quem perde sou eu, é você, é o povo brasileiro”, completou o ex-presidente.
Cunha
O ex-presidente negou qualquer tipo de acordo com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que evitasse a cassação do deputado em troca de não deixar passar processos de impeachment contra Dilma, como veiculado na imprensa. “Não tem acordo, porque eu não tenho nem mandato para fazer acordo. O que eu tenho é liberdade para conversar com todo mundo”, afirmou o ex-presidente.
Lula disse que estava reunido com a bancada do PT, em Brasília, discutindo a pauta de votações no Congresso, quando saíram as notícias de um acordo com Cunha que ele teria costurado. “E eu sou obrigado a responder isso? Alguém pergunta assim para mim: ‘Presidente, está pronto o acordo?’ Mas que acordo? Eu estou cansado de ilações, não faço política por ilações”, disse Lula.
O ex-presidente defendeu o direito do peemedebista a defesa e disse que, se for culpado, vai pagar. “O Eduardo Cunha tem que ter o direito de defesa que eu quero pra mim, pra Dilma, pra todo mundo. Ele tem que ter apenas o direito de se defender. E se ele for culpado, ele vai pagar como todo mundo tem que pagar nesse País”, disse na entrevista.
Lula disse ainda que não quer afundar Cunha, mas pediu que ele coloque em votação as pautas de interesse para o governo e para o País. “Enquanto ele for presidente da Câmara, ele vai determinar a pauta do Congresso Nacional e nós temos interesse em aprovar não só parte do ajuste, aprovar a CPMF, o orçamento, mas aprovar outras medidas que estão lá que são importantes”, disse.
Impeachment
Com relação ao movimento favorável à saída da presidente Dilma do governo, Lula disse não haver razão para o impeachment, a não ser a “atitude irracional” daqueles que querem chegar ao poder sem esperar as próximas eleições. Ele afirmou ainda que as pessoas estão “tomando juízo” e que, por isso, avalia que a “conversa” de impeachment vai acabar logo. “Não há nenhuma razão jurídica, nenhuma explicação a não ser a atitude irracional de querer fazer o impeachment da presidente. Não há um fato”, disse.
O ex-presidente repetiu a argumentação de que a oposição não se conforma com a derrota nas urnas. “Eu nunca acreditei que vai ter impeachment, porque seria uma coisa tão irracional, de tanta instabilidade pra esse país. Imagina que todo mundo que ganha as eleições, no dia seguinte a oposição vai estar nas ruas pedindo impeachment?” Lula elogiou a moral e a ética da sucessora, Dilma Rousseff, e disse que impeachment é uma coisa “importante” a ser usada somente se o presidente tiver desrespeitado a Constituição ou a sociedade. “Não é o caso da Dilma, que é uma mulher altamente comprometida, uma mulher de uma integridade, de moral e ética extraordinárias, que tem passado, que tem história nesse País. Ora, se está vivendo um momento difícil, não vai pedir impeachment.”
O petista afirmou que é preciso separar Lava Jato, crise econômica e os rumos do País e reforçou o mantra de “deixar a Dilma governar”. “O Ministério Público, a Justiça cuidam da Lava Jato, a Dilma cuida desse País e o Congresso Nacional cuida de fazer com que as coisas sejam aprovadas para que esse País volte a andar. Não podemos ficar um ano parados. O País precisa tranquilidade, precisa deixar a Dilma governar.”