Subúrbio oferece belas paisagens e locais aprazíveis
Por detrás das mazelas sociais do subúrbio, esconde-se uma bela Salvador pouco observada pelo olhar desatento do soteropolitano. Em meio ao aglomerado de bairros, a localidade desnuda encantadoras possibilidades a serem exploradas: natureza abundante, história, cultura e culinária.
Desbravar os recantos do Lobato, Enseada do Cabrito, Parque São Bartolomeu, Plataforma, Escada, Tubarão e São Thomé de Paripe, “o paraíso dos presidentes”, demanda sair da zona de conforto muitas vezes imposta pelo caos urbano, que limita a visão um pouco mais romântica sobre a cidade.
A viagem mais curta para o outro lado de Salvador pode começar com a travessia de barco por R$ 1,30 (inteira), a partir da Enseada dos Tainheiros, na Península Itapagipana da Ribeira. A primeira parada é o bairro de Plataforma, separado de São João do Cabrito por uma tênue divisa imaginária.
Logo de cara, o visitante é recepcionado pelas ruínas da antiga fábrica têxtil São Brás, construída no final do século XIX, no bairro que deu origem ao subúrbio, quando o conquistador holandês Maurício de Nassau desembarcou na localidade 200 anos antes.
No mesmo local, por volta de 1637, os jesuítas erigiram a capela de São Brás, voltada para as águas da Baía de Todos-os-Santos. Numa rápida volta pela praça homônima do santo, ainda é possível ver os casarões da Vila Operária, que ainda resistem à modernização das moradias.
É pelas paredes do bairro que o poeta Péricles de Santana, 53 anos, escreve seu “livro a céu aberto” para valorizar a cultura local. “Minha terra tem palmeiras, onde o trem passa por lá. De frente para a Ribeira, havendo divisa para o mar”, cita, em paródia à Canção do Exílio, de Gonçalves Dias.
Na carona da abstração, a mulher dele, Nalva de Santana, 42 anos, materializa o cotidiano do subúrbio por meio de acrílica sobre tela. “Fico feliz quando as pessoas reconhecem nosso trabalho, porque conseguimos mostrar que o subúrbio não é só violência”, orgulha-se.
Se a fome apertar, basta apreciar a culinária à base de frutos do mar no restaurante Boca de Galinha, que funciona de sexta-feira a domingo, entre 11h e 20h, a depender do dia. “Não enjoo de apreciar o pôr do sol sobre o mar”, diz Edinilton de Souza, filho do fundador do estabelecimento.
Cachoeira do Parque São Bartolomeu
Ferrovia
Caso o interesse seja fazer um roteiro apenas contemplativo, o passeio ao subúrbio também pode ser feito de trem, por R$ 0,50 (inteira). Desde a Calçada até Paripe, o passageiro percorre dez estações em 13 quilômetros, a maior parte deles sentindo a brisa do mar.
No trajeto, vale destacar o cruzamento sobre a ponte São João, considerada o cartão-postal do subúrbio. Com um vão de 450 metros, a obra de engenharia construída a mando do imperador dom Pedro II, originalmente em 1860, divide ao meio as enseadas do Cabrito e dos Tainheiros.
Da janela esquerda sentido Paripe, tem-se uma vista panorâmica de Salvador: Ribeira, Ponta do Humaitá e Farol da Barra. Do lado direito, é possível ver o balé das garças, ávidas pelos peixes trazidos por pescadores ao Porto das Sardinhas, em São João do Cabrito.
Via terrestre
Por terra, o principal acesso à região é a avenida Afrânio Peixoto, conhecida como Suburbana. São 13 km entre a Baixa do Fiscal e o bairro de Coutos. No caminho, vale parar no Parque São Bartolomeu, área de 75 hectares, que já foi habitada pelos tupinambás, no século XVI.
O local já foi palco do único combate da luta pela Independência da Bahia na capital, em 7 de novembro de 1822. “Sempre venho aqui tirar fotos”, conta o estudante Marcelo Matos, 17 anos.
Para ir às melhores praias da região, Tubarão e São Thomé de Paripe, a alternativa é encarar os 10 quilômetros da BA-528 (Estrada do Derba), a partir de Águas Claras, na BR-324. “Muita gente acha que o roteiro turístico acaba na Ribeira, mas o subúrbio tem muito a oferecer”, aponta o produtor cultural Fabrício Cumming.