Feliciano diz que abordar feminismo no Enem é doutrinação ideológica
Deputados de bancada evangélica da Câmara acusam PT e Ministério da Educação de “desenterrar tema já enterrado”
Conhecidos pela exposição de seus posicionamentos por mais polêmicos que sejam, os deputados federais Jair Bolsonaro (PP/RJ) e Marco Feliciano (PSC/SP) usaram as redes sociais para atacar uma das questões do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), realizado no sábado (24), em todo o País.
Em comentários postados ao longo do fim de semana, os parlamentares, que compõem as bancadas evangélicas e mais conservadoras do Congresso Nacional, expuseram repúdio ao fato de uma das questões da prova ter trazido uma frase da filósofa feminista Simone de Beauvoir, e chamaram a escolha de doutrinação ideológica por parte do governo Dilma Rousseff.
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”, trazia a questão, amplamente divulgada por políticos ligados a igrejas evangélicas no País – não só deputados federais, mas também de deputados estaduais e vereadores.
“Mais ou tão grave quanto a corrupção é a doutrinação imposta pelo PT junto à nossa juventude. O sonho petista em querer nos transformar em idiotas materializa-se em várias questões do ENEM (Exame Nacional do Ensino MARXISTA)”, escreveu Bolsonaro. “Essa canalhada deverá ser extirpada do poder em 2018 com o VOTO IMPRESSO, ou antes, da mesma forma como o Congresso, em 02 de abril de 1964, cassou o comunista João Goulart.”
“Esta frase da filósofa Simone de Beauvoir é apenas opinião pessoal da autora, e me parece que a inserção desse texto, uma escolha adrede, ardilosa e discrepante do que se tem decidido sobre o que se deve ensinar aos nossos jovens”, atacou o também deputado Feliciano, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. Ele citou o fato de a chamada “ideologia de gênero” – proposta em planos municipais e estaduais de Educação para que sejam debatidos nas escolas temas como machismo, homofobia, entre outros – ter sido derrubada por legisladores de todo o País ao longo dos últimos meses, o que, para ele, preservaria as crianças.
“[A questão] foi vencida e jogada no lixo, a teoria de gênero, algo que sutilmente tentaram nos incutir de forma sorrateira e rechaçada pelos parlamentares eleitos democraticamente pela maioria da população e que todas as pesquisas apontam como maioria de fé cristã e conservadora.”
Os deputados que criticaram a questão fazem parte do cada vez mais crescente grupo de parlamentares apoiadores de projetos de lei como o Estatuto da Família, que prejudica diretamente uniões homoafetivas; do PL 5069/2013, que dificulta a realização de aborto em caso de estupro e de distribuição de pílulas do dia seguinte; e do Estatuto do Desarmamento, que tenta levar de volta ao cidadão comum o porte de armas no País.