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24 November 2024

O número de homens vítimas de abuso doméstico nos EUA é surpreendentemente alto, então por que não ouvimos falar disso?

Quando você pensa em uma vítima de abuso doméstico, o que lhe vem à mente?

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Foto: Getty Images

Se você for honesto consigo mesmo, provavelmente pensou em uma mulher. Afinal, a violência doméstica contra homens não é tema de muitos filmes em Hollywood.

Ainda em 2010, o Centers for Disease Control and Prevention(Centro de Controle e Prevenção de Doenças), divulgou dados do seu National Intimate Partner and Sexual Violence Survey(Pesquisa Nacional sobre a Violência Sexual e nas Relações Íntimas, em tradução livre). Uma das estatísticas mais chocantes encontradas por este órgão americano de pesquisa, não foi apenas o total de vítimas de violência física, mas também como este número está dividido entre homens e mulheres.

De acordo com estatísticas do CDC, estimadas com base nas respostas de mais de 18.000 entrevistas feitas por telefone, nos Estados Unidos, aproximadamente 5.365.000 americanos do sexo masculino haviam sido vítimas de violência doméstica nos últimos 12 meses, em comparação a 4.741.000 mulheres. Para fins de definição, a violência física inclui tapas e empurrões.

As ameaças mais graves envolviam espancamento, queimaduras, chutes, golpes com os punhos e lesões com objetos pesados utilizados como armas. Aproximadamente 40 por cento das vítimas de violência física severa eram homens. O CDC repetiu a pesquisa em 2011. Os resultados desta pesquisa foram publicados em 2014 e tiveram números quase idênticos, sendo que o percentual de vítimas de violência física severa aumentou ligeiramente entre os homens.

“Os relatórios também mostram uma diminuição no número de vítimas mulheres e um aumento de vítimas masculinas”, diz a conselheira e psicóloga Karla Ivankovich, PhD, professora adjunta de psicologia na University of Illinois, Springfield.

Ivankovich diz que não se fala muito sobre estes números ou suas implicações, pois não sabemos como lidar com a violência contra os homens. “Por princípios, a sociedade apoia o fato de que homens não devem bater em mulheres, mas o oposto não é verdadeiro”, ela explica. “O fato é que a agressão física é simplesmente inaceitável”.

Além disso, a violência de mulheres contra homens, é muitas vezes transformada em entretenimento na televisão; em reality shows, por exemplo, um homem se torna motivo de riso em um caso destes, diz Anne P. Mitchell, professora aposentada de direito da família no Lincoln Law School of San Jose, Califórnia.

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Hoje terminei com minha namorada agressiva. Sim, eu sou um homem e sim, não há gênero livre de abuso.

Ela aponta o caso de John e Lorena Bobbitt, que foi notícia nacional nos Estados Unidos há mais de 20 anos, quando Lorena cortou o pênis do marido. A repercussão se tornou um verdadeiro circo, enquanto os detalhes revelavam um casamento volátil, mas Mitchell diz que a reação inicial de vários programas de TV e rádio, foi rir do incidente. “Se algo parecido tivesse acontecido com uma mulher, a reação seria muito diferente”, diz Mitchell ao Yahoo Health.

Mitchell, que representou legalmente várias vítimas masculinas de violência doméstica, diz que os homens têm dificuldade para processar o abuso e pedir ajuda. “Os homens são educados para acreditar que não devem bater em uma mulher, ainda que seja em legítima defesa”, ela explica. “Eles sentem que têm a função de proteger suas mulheres. Além disso, nenhum homem quer virar motivo de piada por ter apanhado da mulher. Sendo assim, sem qualquer reação considerada aceitável, os homens ficam sem saber como se sentir a respeito. Eles sabem que é uma vergonha, mas não querem que as mulheres acabem tendo problemas com a lei, então não dizem nada”.

A imagem da violência doméstica contra os homens

A violência doméstica contra os homens é, frequentemente, semelhante à violência dirigida às mulheres, diz Ivankovich, embora possa ser diferente em alguns casos. “A agressão feminina é notória por abusos que incluem perfurações, chutes, mordidas e cuspidas”, ela diz. “Em alguns casos, para compensar a diferença de força física, as mulheres podem usar armas, incluindo canivetes, facas e revólveres”.

Frequentemente, a agressão perpetrada por mulheres não tem nada a ver com socos ou facas. Elas também sabem como ferir o lado emocional. “Além da agressão física, as mulheres também agridem psicologicamente”, acrescenta Ivankovich. “Este mecanismo de controle pode incluir a humilhação, intimidação e menosprezo”.

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Terminei com minha namorada emocionalmente abusiva e ainda me sinto péssimo por causa das mentiras que ela ainda conta sobre mim. Caí em uma armadilha da qual não é possível sair.

Há uma tática muito comum usada contra os homens: “ninguém vai acreditar em você”. Os homens “temem a possibilidade de outras pessoas acharem que eles estão mentindo ou sendo na verdade os autores da agressão”, diz Ivankovich.

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Me divorciando de uma mulher mental e emocionalmente abusiva, que sente uma necessidade compulsiva de trair. Por causa dela, tenho 28 anos e não acredito que mereço ser amado.

Mitchell diz que graças velhos estereótipos e papéis de gênero, dificilmente um homem conseguirá um tratamento justo. Frequentemente eles acabam encurralados em situações impossíveis de se vencer. “Muitas mulheres que agridem os maridos fazem isso porque sabem que, caso a polícia seja acionada, o marido é que será preso”, ela explica. “Em uma ocasião, tive um cliente que era o cara mais gentil do mundo. Ele era o tipo de pessoa que jamais seria violento em qualquer situação, mas sua namorada era temperamental e usava drogas. Uma vez, ela tentou provocar meu cliente para que ele a atacasse. Quando ele não aceitou a provocação, ela cravou as unhas em seu rosto. Ele ainda estava sangrando quando a polícia chegou, mas foi preso, enquanto sua namorada permaneceu em liberdade”.

De acordo com Ruth Glenn, diretora executiva da National Coalition Against Domestic Violence, a agressão feita pelas mulheres tem o mesmo motivo do que aquela que é perpetrada por homens: “tem a ver com o equilíbrio do poder na relação e com controlar o parceiro”, ela diz ao Yahoo Health. Como “ainda vivemos em uma sociedade patriarcal, a vítima é vista como sendo o mais fraco da relação”.

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Minha esposa é muito gentil às vezes, mas na maioria do tempo ela é emocionalmente abusiva. Me sinto como se fosse minha culpa ser maltratado por ela.

Glenn diz que quase não existem dados sobre a real prevalência da violência doméstica contra os homens. Ela diz que o abuso é muitas vezes mais emocional e psicológico.

“Agressores de ambos os sexos exibem uma maior taxa de transtornos de personalidade como o narcisismo; há uma necessidade enorme de controle por parte do agressor” Ivankovich aponta. “Por conta da vergonha e do estigma social, os homens são muito menos propensos a procurar ajuda”.

Tolerando o abuso em nome dos filhos

Existem muitos motivos pelos quais os homens toleram parceiras agressivas. Alguns deles são bem semelhantes aos motivos dados pelas mulheres para permanecer neste tipo de relacionamento. Eles ficam por medo, por vergonha, por amor. E não apenas amor pela parceira, mas também pelos filhos.

De acordo com Mitchell, muitos homens continuam em relacionamentos abusivos pelo bem dos filhos e pela maneira que uma separação pode afetar o bem estar da criança. “Em um divórcio, muitas mulheres são claramente favorecidas pela justiça”, diz ela. “A ideia geral é que é melhor ter um dos pais feliz do que os dois infelizes. Quando se chega a estes termos, o pai sequer é considerado”.

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Suportei 8 anos de abuso emocional ao lado da minha esposa. Continuei na relação por causa da minha filha, que merece ter um pai decente. Os juízes raramente dão a guarda dos filhos para o pai.

Mitchell diz que teve clientes homens que tentaram manter seus relacionamentos e o vínculo com seus filhos, até mesmo para protegê-los da agressão das parceiras. “Eles ficam para proteger os filhos”, ela diz. “Eles não querem que a mulher acabe tendo problemas ou que as crianças percebam o que está acontecendo”.

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Honestamente, não sei se vale à pena lutar por meu casamento. Nunca quis me separar, mas não sei quanto mais deste abuso emocional sou capaz de aguentar. Eu gostaria que meus filhos tivessem uma família unida.

Independente da atitude que o homem resolva tomar, nunca é fácil para ele. Semelhante às esposas maltratadas, mesmo após o fim de um casamento, pode ser difícil para um homem escapar de uma parceira tóxica. Mitchell conta histórias de alguns clientes que foram esmurrados por suas esposas por que um filho ou filha adolescente tirou uma nota ruim na escola.

Também é difícil para os pais continuarem envolvidos em acontecimento do dia a dia das crianças, como as apresentações na escola, ou jogos de futebol, pois as mães estimulam os filhos a pensarem que tudo é melhor quando os pais não estão por perto. Mitchell menciona outro caso de um cliente que finalmente terminou seu casamento com uma esposa agressora: “a ex mulher dele ficou muito zangada. Através da manipulação, ela tentou afastá-lo dos filhos”.

Ele se mudou da Califórnia e foi viver em Nova Jersey, em busca de um novo recomeço, mas também moveu céus e terra para ser um pai presente para os filhos, apesar de tudo que sua ex mulher fazia para envenenar a mente dos filhos em sua ausência. “Eu sempre o aconselhava a continuar tentando”, diz Mitchell. “As crianças têm uma forma singular de crescer e enxergar a realidade. Elas se lembrarão de que o papai estava por perto”.

Deslocando a nossa perspectiva cultural da agressão

Glenn diz que, caso pudesse eliminar de vez um equívoco sobre a violência doméstica, certamente seria este. Segundo as estatísticas, as vítimas perdem 8 milhões de dias de trabalho remunerado por ano e muitos acabam desempregados. Algumas estimativas também indicam que o custo total anual para as vítimas de violência excede 8 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos, diz Glenn.

É importante que as pessoas fiquem alertas para “mudanças de comportamento” inexplicáveis em amigos e familiares. “Um grande mito que paira sobre o assunto da violência doméstica é que ela é um assunto de família”, diz Glenn. “Não é. Enquanto pensarmos assim, continuaremos a ser uma sociedade incapaz de resolver o problema”.

Vale também ter em mente que não há ninguém imune à manipulação psicológica ou violência física, independente do gênero.

Segundo Ivankovich, “os papéis de gênero estão no centro desta questão”. “Nós ainda enxergamos as mulheres como cuidadoras, e os homens como provedores e protetores. Considerar que uma mulher pode assumir o papel de agressora, é difícil, pois rompe com tudo que a sociedade entende como atribuição de papel de gênero. Como resultado, muitos homens dizem que engolem o problema a seco ou lidam com a vergonha de identificar a gravidade dele”.

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Minha esposa foi mental e fisicamente abusiva comigo. Quando procurei ajuda, me disseram para “virar homem” e superar. Nunca me senti tão sozinho na vida.

Os recursos para apoiar homens que sofreram abusos são escassos, tornando problemático para eles relatarem abuso doméstico, pois as autoridades tendem a atribuir o abuso a eles. Além disso, é claro, há o estigma.

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Sou um homem que sofre abuso verbal e emocional da minha esposa. Não sei onde conseguir ajuda.

A cultura do abuso precisa de uma mudança completa de perspectiva. “A violência doméstica e o abuso emocional contra homens é um problema enorme, que precisa ser tratado com um maior acesso a recursos que hoje não estão disponíveis”, diz Ivankovich. “Abuso é abuso. Não é perdoável em nenhuma de suas manifestações, especialmente quando a única variante é o gênero da vítima e do agressor. Quem sofre violência deve conseguir ajuda em um ambiente que não seja humilhante ou acusatório”.

É preciso incentivar os homens que sofrem violência doméstica a procurarem ajuda. De acordo com Glenn, os sinais de abuso em homens são geralmente os mesmos que ocorrem nas mulheres. “Você encontrará mudanças de comportamento; a vítima pode se isolar de seu círculo social e evitar falar sobre o assunto”, ela explica. “Frequentemente, o comportamento da vítima é controlado pela parceira. Ela pode reter o dinheiro da família ou checar constantemente”.

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Estou em um relacionamento emocionalmente abusivo. Faz um tempo que estou tentando terminar, mas tenho medo de ferir os sentimentos dela, mesmo que ela me faça sofrer todos os dias.

A violência que uma mulher sofre, incluindo a violência sexual e tantas outras, é algo que nunca deve ser minimizado. Uma vítima é uma vítima. Nenhum abuso deve ser tolerado, pois seus impactos nos homens e nas mulheres são enormes.

As estatísticas apenas sussurram o problema, mas as estimativas são alarmantes: 20 pessoas sofrem violência doméstica do parceiro (a) a cada minuto nos Estados Unidos. São mais de 10 milhões de vítimas por ano.

Existe uma grande chance de você conhecer uma vítima