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27 December 2024

Racismo contra pessoas famosas expõe dilema social e indignação seletiva no país

Todos os dias, pessoas negras são alvos de racistas no Brasil. A afirmação é do vereador soteropolitana Luiz Carlos Suíca (PT), que emitiu sua indignação contra ataques racistas dirigidos recentemente à atriz Taís Araújo em rede social. Nesta segunda-feira (2), o edil petista declarou que o caso da artista revela um dilema social que ganha destaque apenas quando famosos são alvos de crime de racismo. “Sou negro, da periferia, trabalhador do setor de limpeza e sei que o racismo se manifesta todos os dias. Muitos não conseguem me observar como vereador de Salvador e líder da oposição por essas razões. Só identificamos como crime por acontecer com pessoas famosas, mas é crime também com pessoas desconhecidas”, dispara. De acordo com Suíca, os agressores de Taís Araújo são os mesmos que atingem as pessoas que vivem em comunidades periféricas e “não conseguem que suas dores cheguem aos meios de comunicação”.

“A luta contra o racismo deve ocorrer todos os dias e não de forma pontual quando atinge pessoas conhecidas. Na política, por exemplo, é só observar detalhes que relavam ainda mais a disparidade entre negros e brancos. Quem são os presidentes de partidos, quem é maioria no Senado, na Câmara Federal, ou até mesmo na Câmara de Salvador? A juventude negra é exterminada nas ruas, enquanto o lugar para novos políticos são alcançados pelos brancos, reforçando o sistema sem negros em cargos eletivos”. O vereador também revela que mesmo em Salvador, considerada a cidade mais negra fora do continente africano, o número de pessoas negras em grandes escolas particulares, de estudantes e professores negros é pequeno. “Somos maioria apenas nos abrigos infantis, nas cadeias e nas casas de ressocialização para adolescentes. É contra isso que lutamos e a que sociedade precisa abraçar e lutar todos os dias”.

Nesta segunda-feira (2), o vereador ainda lembrou os 42 anos do primeiro Bloco Afro do Brasil, o Ilê Aiyê, e criticou o que chamou de racismo institucional, pelo grupo não ter recebido apoio para a realização de um digno aniversário. “O Ilê Aiyê nasceu no Curuzu, Liberdade, bairro de maior população negra do país, com aproximadamente 600 mil habitantes, fez 42 anos e quase não consegue comemorar seu aniversário da forma necessária por falta de recursos e patrocínios. O Ilê é fundamental para o processo de identidade étnica e autoestima do negro. Mesmo assim é tratado sem a devida atenção dos poderes públicos e das entidades privadas. Para mim isso também é um caso de racismo institucional”.

Ascom