A crise está afetando várias áreas inclusive a arte. Bale folclórico da Bahia está a ver navios e corre risco de fechar as portas
Durante a sua aguardada live de aniversário, no último dia 7, quando completou 78 anos, Caetano Veloso pediu aos espectadores uma colaboração financeira para o Balé Folclórico da Bahia, que naquele mesmo dia completava 32 anos de sua fundação.
Sem poder se apresentar desde março, por causa da pandemia do novo coronavírus, a companhia está passando por dificuldades, com pedido de empréstimo e bailarinos sem salários desde abril.
O grupo é considerado uma das mais antigas companhias de balé folclórico do país. Na página do perfil de Caetano em uma rede social há um link para uma vaquinha virtual de ajuda ao balé. “Pra mim é um presente de aniversário se vocês contribuírem para o Balé Folclórico da Bahia”, disse o músico na transmissão ao vivo.
Até agora, a vaquinha arrecadou cerca de R$ 184 mil. Antes do pedido público do artista, o valor arrecadado era de R$ 25 mil. A meta é chegar aos R$ 250 mil, mas até o início do ano que vem a companhia pode precisar do triplo para não fechar as portas de vez.
“Esse balé é uma coisa linda. Eu pedi a vocês que fossem ver em Salvador, vocês foram e não me desmentiram”, comentou Caetano Veloso com os três filhos, na apresentação.
Foi preciso um empréstimo de R$ 113 mil para pagar os salários dos meses de fevereiro, março e abril. Mas desde então, todos os 42 profissionais que atuam na companhia estão sem receber pagamento.
“A gente precisa de mais, eu estipulei esse valor de R$ 250 mil pra gente poder dar o primeiro passo. Serve para pagar as primeiras despesas, mas eu não consigo ir além disso”, diz Vavá Botelho, diretor-geral e um dos fundadores do Balé Folclórico da Bahia.
Criado em 1988, o Balé Folclórico da Bahia já se apresentou com sucesso em 57 países de quatro continentes. Só nos Estados Unidos, a companhia de dança já passou por 282 cidades. “O nosso público é formado, entre 80 e 90%, por estrangeiros”, afirma Botelho.
Uma parte do custo de manutenção do grupo é arcado por meio de uma verba do Fundo de Cultura do Governo da Bahia, mas sem o dinheiro da bilheteria das apresentações locais e das turnês internacionais, principal fonte de renda, a companhia teve água, luz e internet cortadas por falta de pagamento.
Contando também com o Balé Júnior, projeto social do grupo que atende crianças e adolescentes de 5 a 14 anos, além de diversas oficinas artísticas, todas gratuitas, cerca de 1.200 pessoas circulavam mensalmente pelo Teatro Miguel Santana, sede da companhia, no bairro do Pelourinho, em Salvador.
Nesta quarta (12), uma parte do elenco fará um mutirão para limpeza e manutenção do teatro. “A gente está naquele esquema, se virando de todo jeito”, diz a dançarina e coreógrafa Nildinha Fonseca.
As aulas do Balé Júnior, que são coordenadas por Nildinha, e das demais oficinas estão sendo ministradas online, mas nem todos os alunos conseguem ter acesso de casa. “A gente continua buscando manter o mínimo de respeito pela nossa arte e por nós mesmos”, diz a coordenadora.
Segundo o diretor-geral Vavá Botelho, a solução poderia vir do apoio empresarial e também das leis de incentivo federais, que não costumam conceder apoio para a manutenção de companhias do Norte e Nordeste do país. “A gente precisa que uma empresa privada forte abra os olhos e entenda a importância de uma instituição como a nossa.”