'A eleição se tornou um negócio muito caro', avalia presidente da Perseu Abramo
Ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no qual atuou entre 2007 e 2012, o pesquisador afirma que a inflação “voltou a se transformar em um tema político” e reconhece que o desempenho econômico pode pesar nos resultados das eleições deste ano. “Esse eu acho que é um elemento importante. Em 2002, de maneira geral, a percepção era de que a população gostaria de mudanças, de outras experiências. Essa eleição também aponta para a ideia de mudanças, mas não no sentido da alteração do curso do que está sendo feito, mas que aprofundem o que está sendo feito”, avalia Pocchman. “Para fazer mudanças que aprofundem o que está sendo feito no Brasil, é preciso ter essa maioria que apoie e é necessário um desempenho econômico razoável. E vem sendo razoável, porque apesar do dinamismo da economia estar em torno de 2%, o emprego está crescendo com bastante efeito, especialmente na base da pirâmide social; na questão da inflação nós tivemos um problema de preços dos alimentos, que tem impacto na base da pirâmide, mas a inflação que temos é uma inflação mais de serviços, que afeta um pouco mais a classe média e os ricos”, cita.
Em fevereiro deste ano, o economista afirmou que as eleições de 2014 oferecem as últimas possibilidades de “candidaturas populares” para o Congresso Nacional. “Não é em relação à figura do parlamentar, se é empresário ou agricultor; não entrei no mérito do mandato propriamente dito. A preocupação que tenho é em relação ao que fundamenta o processo eleitoral”, explica, para mencionar as “reformas clássicas do capitalismo” que ainda não foram feitas no Brasil, como a agrária (de forma efetiva) e tributária, além de uma social recente. “Nós temos um país muito desigual no sentido do poder econômico e do poder político. Então vejo que o embate eleitoral hoje está cada vez mais pressionado pelo poder econômico. Isso independe de partidos, de ideologias ou coisas desse tipo. Na verdade, os partidos têm o monopólio da representação, são eles que organizam a eleição, mas quem viabiliza os vitoriosos é cada vez mais o poder econômico, pelo financiamento de campanha”, argumenta Pocchmann, ao considerar que “a eleição se tornou um negócio muito caro”.