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28 November 2024

Agência ligada a Duda Mendonça vence contrato para ministério

Uma agência que traz as digitais do sociólogo Antônio Lavareda e do publicitário Duda Mendonça acaba de vencer, ao lado de outras três empresas, a disputa pela segunda maior conta de publicidade da Esplanada dos Ministérios: da Saúde, cuja previsão orçamentária é de R$ 205 milhões por ano.

Lavareda é apontado como um dos principais conselheiros do presidente Michel Temer. Duda foi, por sua vez, o responsável pela campanha que levou Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2002.

O marqueteiro caiu em desgraça após o escândalo do mensalão, embora tenha sido absolvido pelo Supremo Tribunal Federal.

No dia 25 de novembro, o Ministério da Saúde concluiu a fase técnica da licitação para escolha de suas novas agências de publicidade. A CCP (Companhia de Comunicação e Publicidade) foi a quarta colocada.

Com capital de R$ 2,8 milhões, a agência tem como uma de suas proprietárias a filha da publicitária Zilmar Fernandes, que foi sócia de Duda e também ré absolvida no mensalão. Uma assistente de Lavareda e uma antiga colaboradora do sociólogo completam a sociedade na agência.

Desconhecida no mercado publicitário até então, a CCP ganhou esse nome em novembro de 2015. Antes, se chamava DM/Blackninja, assim batizada como fruto da fusão das empresas de Duda e Lavareda.

Os dois anunciaram a união em dezembro de 2012. No fim de 2013, Duda deixou a sociedade. Lavareda saiu um ano depois.

Zilmar se manteve na empresa até abril de 2016, quando passou sua participação para a filha, Carolina Fernandes Lazareth.

“Vendi entre aspas [as cotas]. Fiz a sucessão para minha filha, Carolina, que é jornalista e se preparou para isso”, diz Zilmar, hoje consultora de agências de propaganda.

Carolina é dona de um terço da CCP. A empresa FM Publicidade Comunicação detém outros dois terços da agência, somando-se um capital de R$ 2,8 milhões.

A FM é, por sua vez, controlada pela P3 (Pesquisa, Planejamento e Propaganda).

A P3 pertence a Maria de Fátima Maia Azevedo e Marcela Montenegro Coelho.

Marcela é diretora executiva do Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas), cujo conselho é presidido por Lavareda.

Formada em relações públicas, Fátima Maia foi assistente e sócia de Lavareda.

Foi também síndica do prédio onde ele mantinha suas salas.

Além da CCP, as três agências selecionadas na licitação são: Fields360, Calia e Nova S/B. Segundo colocada, a Calia já atuava no Ministério da Saúde. A agência pertence à família de Elsinho Mouco, marqueteiro do PMDB e responsável pela marca do governo Temer.

A Nova S/B, de Bob Vieira da Costa, atendeu a Saúde durante o governo FHC e hoje tem a conta da Secom. O publicitário Sidney Campos é dono da Fields360.

Na semana passada, a agência Ampla, sexta colocada na disputa, apresentou recurso à comissão de licitação do ministério contra a escolha da CCP, sob o argumento de que, para comprovar sua capacidade, a agência incluiu em seu portfólio campanhas criadas sob comando de Duda, como para a Fiesp e a CPTM.

A CCP mantém o CNPJ que foi da agência Duda Mendonça & Associados Propaganda.

Para Zilmar, é “ignorância” afirmar que uma campanha pertence a seu autor, e não ao CNPJ sob o qual foi criada.

OUTRO LADO

O Ministério da Saúde informou que a licitação para a contratação de agências de publicidade é realizada de forma transparente e de acordo com a legislação.

“O julgamento das propostas técnicas se dá com base em peças nas quais as agências não são identificadas, o que garante uma avaliação isenta”, diz o ministério, por meio de sua assessoria.

A CCP (Companhia de Comunicação e Publicidade) afirmou ter 24 anos de experiência no mercado publicitário. “Ressalvamos que a proposta da CCP seguiu critérios técnicos, com estratégia e criação definidas com base em pesquisas qualitativas”, diz a nota.

O sociólogo Antônio Lavareda diz ter se desfeito de participações em diversos negócios nos últimos anos por estar se preparando para a aposentadoria e por limitações de saúde.

“Transferi essas participações, em um período no qual o país já enfrentava a crise econômica, para quem se dispôs a comprá-las”, diz.

Ele negou ser consultor de Michel Temer e disse estranhar alegações de que seria representado pela ex-assistente Fátima Maia. Procurado, o publicitário Duda Mendonça não se manifestou.