Data de Hoje
23 November 2024

Aluno que deu esponja de aço à professora negra nega racismo: “Brincadeira'”

Uma estudante de 17 anos que deu uma esponja de aço a uma professora negra do Distrito Federal alegou, em depoimento à Polícia Civil, que o ato foi uma “brincadeira” e que não houve conotação racista. As informações são do delegado-chefe adjunto da Delegacia da Criança e do Adolescente II, em Taguatinga (DF), Flávio Messina, responsável pela abertura do inquérito. O ataque ocorreu em 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, e foi registrado em um vídeo feito por outro aluno.

 

“Ele não negou que entregou o produto. Afirmou que não teve contexto racial e que a ideia era, segundo ele, fazer uma brincadeira alusiva ao dia das mulheres tentando sacanear a namorada e a professora no sentido de dizer que lugar de mulher é na cozinha”, contou Messina. Segundo o delegado, o estudante admite que houve uma referência machista e hoje reconhece que estava sendo ofensivo, mas nega o racismo.

 

Na ocasião em que foi discriminada pelo estudante, a professora exclamou: “Gente, recebi um presente!”.

 

Ao abrir o embrulho, a docente ficou constrangida. Uma aluna diz para a educadora não aceitar o presente, mas a professora diz “tudo o que vai volta” e agradece ao aluno que entregou a esponja de aço, enquanto alguns estudantes dão gargalhadas. “Ele se disse muito arrependido com tudo que aconteceu e diz que não queria que a coisa alcançasse a dimensão que alcançou”, afirma. À revista Marie Claire, a professora contou que estava cuidando de duas turmas ao mesmo tempo quando aconteceu o incidente. Ela disse que, na hora, ela não processou a situação “por uma perspectiva do machismo e do racismo”.

 

“A primeira coisa que me fez perceber que era uma violência foi a reação dos estudantes. Depois, duas alunas me procuraram, revoltadas e inquietas. ‘Professora, eu não dou conta de como a senhora suportou isso’. Fiquei escutando, mas pedi para conversar depois, para manterem a calma, mas elas diziam que não tinha condições, que era revoltante”, afirmou Vieira.

 

De acordo com o delegado responsável pelo caso, ele ainda vai ouvir a namorada do adolescente e o estudante que gravou o ato e compartilhou o conteúdo. O estudante que deu a esponja de aço para a professora alegou que a gravação não foi premeditada. Messina quer entender, então, como o aluno conseguiu flagrar o exato momento em que a ofensa foi feita. A expectativa é que o inquérito seja encerrado nos próximos 45 dias.